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Blog do Juca Kfouri

OPINIÃO

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Pedro e Cano e os rinocerontes.

Germán Cano - DIKRAN SAHAGIAN/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Germán Cano Imagem: DIKRAN SAHAGIAN/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

13/02/2023 17h10

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POR PAULO EGREJA*


O Rinoceronte Branco do Norte é uma espécie à beira da extinção. Naturais do Quênia, a caça predatória por marfim aniquilou a população do animal no século passado.

O último macho morreu em 2018, e hoje só restam duas fêmeas, Najin e Fatu, as derradeiras representantes dessa espécie maravilhosa sobre a terra.

Agora, atravessamos o Atlântico.

Pedro e Cano não são apenas os dois melhores "homens de área" do nosso futebol, mas também os únicos jogadores em solo brasileiro capazes de marcar gols com apenas um toque na bola.

Décadas atrás, isso era comum. Romário, Careca, Serginho Chulapa, Fred, Luizão, Guilherme, Túlio e tantos outros, cada um à sua época e dentro dos seus limites, eram finalizadores de pé cheio.

Não precisavam de domínio, ajeitada, toque extra ou penteada - a bola vinha e, ato contínuo, terminava dentro do gol. Hoje, só restam Pedro e Cano.

Quem caçou os finalizadores do nosso futebol?

Sempre me deixa curioso quando vejo uma característica desaparecer. Pois não se trata de apenas adaptação.

O camisa 10 deixar de jogar lá na frente para virar um meia/volante que coordena o meio, isso foi uma adaptação do futebol moderno.

Não ter mais jogadores capazes de finalizar de primeira é a extinção de uma característica. Ainda não tenho uma explicação formada.

Em um mês de temporada, Pedro marcou um golaço de calcanhar na Supercopa, e outro de absurda inteligência contra o Al Hilal, no qual o mundo esperava que fosse dominar e carregar a bola, mas com um único tapa ele matou o goleiro.

E ontem, Cano guardou dois golaços com apenas dois toques na bola, um do meio-campo, inclusive.

São os nossos rinocerontes.

E como no caso dos animais, me dão a mesma sensação agridoce: a felicidade de saber que ainda existem e a ansiedade de me questionar: até quando?

*Paulo Egreja é escritor.