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OPINIÃO

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São Paulo FC, a Kodak do futebol

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Imagem: Reprodução

29/03/2023 15h04

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POR LUÍS ROBERTO DEMARCO*

Até a primeira década do Século 21 o lema do torcedor são-paulino era "Torcer para o São Paulo é uma grande moleza!". Tricampeão brasileiro seguido, Tricampeão da Libertadores, Tricampeão Mundial ... o São Paulo ganhava tudo. Os filhos de torcedores rivais passaram a torcer pelo São Paulo, que graças a isso hoje tem uma das maiores torcidas do país.

Uma mudança de tecnologia é o que explica o São Paulo ter se transformado nesse time mediano de hoje, que disputa para não ser rebaixado no Brasileiro e nos últimos 10 anos só ganhou um título estadual.

Como a Kodak na fotografia, que não entendeu a mudança do papel para a imagem digital, o São Paulo mantém a tecnologia de gestão de um futebol amador de clubes sociais. Continua aprisionado a um sistema de "cardeais" concentrados em um Conselho de 260 pessoas, sendo 160 vitalícios. Independente de nomes, não existe a menor possibilidade de o São Paulo voltar a ser vencedor dentro desse sistema completamente ultrapassado.

Os 260, sempre com a maioria dos 160 vitalícios, elegem a diretoria executiva, que por sua vez é refém do Conselho. A tecnologia são-paulina faz com que os diretores sejam escolhidos não por competência, mas porque controlam um determinado grupo político. Mesmo que existam bons nomes no Conselho, o sistema centrado em poucos direciona o São Paulo para o lugar errado, onde interesses individuais sempre prevalecem sobre os interesses da torcida e do São Paulo.

Em contraposição à ausência de títulos, abundam no Tricolor escândalos de corrupção, transações misteriosas de jogadores, contratações milionárias que não vingam, salários de jogadores acima do mercado, contratos mal executados, dívidas e empréstimos que só crescem, e patrocínios cada vez mais escassos. A obsolescência tecnológica é fatal!

O São Paulo tem o caminho do voto direto do sócio e do sócio-torcedor qualificado, ou a transformação em uma empresa para voltar a ser vencedor. Infelizmente a tecnologia ultrapassada costuma se sobrepor e, como a Kodak, normalmente a mudança necessária só ocorre após a falência, que no caso de um clube de futebol, é o rebaixamento, como aconteceu com Cruzeiro e Botafogo por exemplo.

Grande demais para cair, o São Paulo morre aos poucos, aprisionado na comodidade vitalícia dos seus Conselheiros, e no paradoxo de que eles teriam que aprovar algo que favorece a instituição em detrimento da sua própria restrição de poder.

O São Paulo hoje é o retrato da decadência e, na fotografia do tempo, fica a imagem esmaecida das grandes glórias do passado, e a perspectiva indubitável de um futuro sombrio.

*Luís Roberto Demarco, 59, é empresário, torcedor e sócio do SPFC.