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Julio Gomes

Será que Simeone já deu o que tinha que dar ao Atlético de Madrid?

Diego Simeone disse que continuará no Atlético de Madri - Reuters / Juan Medina
Diego Simeone disse que continuará no Atlético de Madri Imagem: Reuters / Juan Medina

31/01/2020 06h09

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Resumo da notícia

  • Simeone é o técnico mais longevo e vencedor da história do Atlético de Madrid
  • Time apresenta futebol pífio ao longo da temporada, apesar dos reforços
  • Atlético chega em momento desastroso ao dérbi contra o Real Madrid, sábado

O Atlético de Madrid ainda tem futuro com Diego Simeone? Essa é a pergunta que todo torcedor colchonero se faz no momento.

São oito anos de sucesso. O Atlético foi recolocado no mapa espanhol e europeu. Levantou taças e, o mais importante, foi resgatado o orgulho de ser Atleti.

Mas a temporada 2019/2020 dá a nítida impressão de que deste mato não vai sair mais coelho algum. Em poucos dias, o Atlético foi eliminado da Copa do Rei por um time de terceira divisão, a Cultural Leonesa, e logo depois não saiu de um 0 a 0 com o Leganés, penúltimo colocado, na Liga espanhola.

Ao longo da temporada, a falta de gols sempre foi tratada como principal razão dos seguidos fracassos - tanto que o Atlético foi com tudo para cima de Cavani, do PSG, mas sem sucesso na atual janela de inverno. De fato, o uruguaio mudaria o ataque de patamar.

Mas é muito simplista falar em falta de gols. A realidade do Atlético é a falta de jogo.

O movimento de resgate do futebol bem jogado, agressivo, ofensivo não ocorre só no Brasil, ele é mundial. Em muitos momentos, o Atleti parece jogar um jogo ultrapassado, excessivamente cauteloso, pouco criativo. Difícil imaginar esse time machucar o moderníssimo e Liverpool, de Klopp, nas oitavas de final da Champions League.

Não quero aqui dizer que SImeone seja somente mais um retranqueiro. Esta é a imagem que muitos têm, talvez por seu passado como jogador, talvez pelo jeito de atuar do Atlético contra equipes mais poderosas em fases agudas da Champions League em anos recentes. Mas o Atlético chegou a jogar uma bola bem redonda domesticamente nas últimas temporadas. Essa bola redonda ficou quadrada.

A temporada começou prometendo, com um ótimo mercado, uma renovação defensiva bem feita, a chegada de João Félix. Mas aí veio um empate. E outro. E outro...

Na Liga, o Atlético perdeu três jogos, mais apenas que o Real Madrid (uma derrota). Só que empatou nove vezes, o mesmo número de vitórias. Marcou 22 gols em 21 jogos - só cinco times fizeram menos gols no campeonato até agora. Consequência? A quarta colocação, a 10 pontos do Real Madrid. Em um campeonato para lá de "ganhável", com Barcelona e Real Madrid tropeçando muito no início.

O Real é justamente o adversário de amanhã, no dérbi da cidade, um time em franca ascensão com Zidane e com pinta de disparar rumo ao título. Simeone resgatou o orgulho de ser Atlético encarando de frente o Real Madrid. Mas o pessimismo ronda o clube antes do clássico. São apenas 16 jogadores disponíveis para o técnico, desfalques importantes e, claro, já pipocam perguntas aos donos do clube sobre o futuro do Cholo no banco de reservas.

Simeone sempre foi uma figura conveniente para os donos, que basicamente usurparam do sócio atlético a posse do clube anos e anos atrás. O argentino é uma barreira de proteção e tanto entre os escritórios e a arquibancada. Uma arquibancada que gritou seu nome no último jogo, apesar dos fracassos, no Wanda Metropolitano.

Nunca um técnico ocupou por tantos anos seguidos o banco do Atlético, nem mesmo o lendário Luís Aragonés. Mas quem vive o dia a dia do clube diz que o vestiário não aguenta mais Simeone. Aquela situação que já conhecemos, um desgaste natural de uma relação longa e intensa. Não é fácil continuar tirando o máximo de jogadores de futebol, às vezes o discurso simplesmente se esgota.

Simeone é o técnico mais vitorioso e um dos maiores personagens da história do clube. O passado é glorioso. Mas o presente é um desastre. E, o futuro, pouco promissor. Talvez tenha chegado a hora do "adiós". Resta saber quem tomará a iniciativa.