Futebol com público? O Rio é maravilhoso, mas não dá para levar a sério
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Nenhum lugar do Brasil é mais Brasil do que o Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa é o microcosmo (nem tão micro) perfeito do nosso país, com tudo de bom e tudo de ruim. Estão lá nossa poesia e nossa tragédia, o Cristo e a malandragem, o samba e a desigualdade, nossas belezas inigualáveis e nossa irresponsabilidade. Todos de mãos dadas.
O Rio de Janeiro não está se levando a sério, então nenhum de nós precisa levar.
Dezenas de milhares de mortos pelo coronavírus, uma situação caótica em todo o país, a total falta de procedimentos, o contágio correndo solto, especialmente nas zonas de maior adensamento (tipo a Grande Rio). No meio de tudo isso, um governador a ponto de sofrer impeachment, milícias mandando e desmandando e um prefeito desconectado da realidade, fazendo dobradinha e jogo político com o único líder mundial que diz "e daí?" para a tragédia que assola o próprio país.
Além da volta bizarra do Campeonato Carioca, com times sem treinar, jogadores sem testar, com uma Federação que finge ter procedimentos que não tem, temos a cereja no bolo: o anúncio de jogos com público a partir de 10 de julho.
Público não é exatamente parte presente do Cariocão (ou Covidão ou Caixão, como queiram). Em regra, os estádios já têm bastante menos de um terço de suas ocupações máximas. Então basicamente o resumo da notícia é: os jogos do Flamengo e as finais do campeonato terão 20 mil pessoas no Maracanã.
Como essa turma pode ser tão irresponsável? O que esses caras querem?
O Brasil fez tudo errado desde o início. Não se preparou (teve tempo) para o vírus, não ajudou quem precisa, não manteve empresas em pé, não determinou protocolos, não testou, não evitou mortes. O Rio de Janeiro foi além. E no futebol então, nem se fala. Um show de irresponsabilidades.
Até que Fluminense e Botafogo ameaçaram estar à altura da grandeza de ambos, mas também sucumbiram.
Espero que a população faça sua parte e não passe nem perto de estádios de futebol quando eles estiverem reabertos. Sei que esperarei sentado, mas não custa torcer.
Vale lembrar que na Europa, onde a pandemia está controlada, os jogos são realizados com portões fechados, rígidos protocolos, transparência e segurança e, por enquanto, falar em público nos estádios parece um devaneio. É quase ofensivo.
Outras cidades do Brasil irão seguir o péssimo exemplo carioca, não faltam oportunistas e indivíduos olhando só para o próprio umbigo.
É lógico que generalizar é sempre um perigo e está cheio de gente no Rio indignada com o que está acontecendo, com vergonha do que fazem os dirigentes da vez em seus clubes do coração. Nenhuma sociedade é uniforme, mas elas têm, sim, características gerais.
O Rio é um lugar como pouquíssimos no mundo. Tem alma, tem uma atmosfera incrível, é a cidade mais bonita do planeta. Mas não pode ser levado a sério.
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