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Julio Gomes

Dá para confiar no City ou Guardiola virou café com leite em mata-mata?

Pep Guardiola durante jogo do Manchester City contra o Arsenal - Victoria Haydn/Manchester City FC via Getty Images
Pep Guardiola durante jogo do Manchester City contra o Arsenal Imagem: Victoria Haydn/Manchester City FC via Getty Images

19/07/2020 04h00

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Resumo da notícia

  • City foi eliminado da Copa da Inglaterra pelo Arsenal
  • Desempenho do City deixa dúvidas antes de duelo contra o Real Madrid
  • Após início fulminante no Barça, Guardiola não chegou mais à final da Champions

Pepe Guardiola é um gênio. Não me canso de dizer isso. Em algum momento, ele também ficará para trás, como todos, mas isso não fará dele menos gênio. Há, porém, uma interrogação que começa a ficar cada vez maior. Por que tanta diferença entre os times dele nos campeonatos de pontos corridos e os mata-matas?

Há uma diferença de aproveitamento. Mas, essencialmente, há uma diferença de comportamento. O que vemos nos últimos anos é que os times de Guardiola se comportam de forma distinta nos jogos eliminatórios, parecem menos à vontade em campo e menos confiantes. Não consigo isentar o técnico deste fato.

Ontem, o Manchester City levou um 2 a 0 do Arsenal e caiu fora na semifinal da Copa da Inglaterra. Foi só um jogo, acontece, etc, etc, etc. Mas é um resultado assustador a menos de 20 dias do confronto contra o Real Madrid, pela volta das oitavas de final da Champions League.

Em fevereiro, quando se enfrentaram em Madri, o City venceu por 2 a 1, mas deveria ter sido por mais, dada a diferença em campo. Apesar de o jogo de volta, no próximo dia 7 de agosto, ser com portões fechados, o City estará em casa e leva um teórico favoritismo para o confronto. Algumas semanas atrás, eu chamaria de amplo favoritismo, em vez de teórico.

O time de Guardiola vinha atuando bem na Premier League, com direito a goleadas e uma carimbada de 4 a 0 na faixa do Liverpool. Mas aí, de repente, vem essa derrota para o Arsenal - que, com todo respeito à história e ao momento de reconstrução, é o décimo colocado na tabela da Premier. E, do outro lado, vemos um Real Madrid ganhando dez jogos seguidos e conquistando o título na Espanha.

O mata-mata é um bicho à parte. E nesta temporada, como sabemos, estamos falando apenas em "mata" na Champions League, jogos únicos. Não há margem para erro. A pulga tem que estar atrás da orelha.

Já faço essa constatação há algum tempo. Será que falta algo a Guardiola na preparação para este tipo de jogo? Será que falta mudar o tom?

Em pontos corridos, não há o que falar. Foram três de quatro Ligas com o Barça, três de três com o Bayern, duas de quatro com o City. No total, ganhou 8 dos 11 campeonatos que disputou.

Em mata-mata, é outra história. No Barcelona, aquele início brutal de carreira, ele ganhou duas das três primeiras Champions que disputou. Desde então, nunca mais chegou nem mesmo à final europeia (em sete tentativas). Portanto, ganhou 2 de 10.

Aí temos as Copas domésticas. Na Espanha, ganhou duas de quatro. Na Alemanha, duas de três. Na Copa da Inglaterra, uma de quatro. No total, 5 de 11. É claro que o percentual é altíssimo, mas estamos falando do melhor técnico, invariavelmente com os melhores times em mãos e comparando com o desempenho em pontos corridos. Se acrescentarmos a Copa da Liga Inglesa na história, que é um torneio menor em importância e jogado com mistões, aí a coisa melhora para Guardiola - o City ganhou três de quatro desde a chegada do treinador. O percentual de títulos de Guardiola em pontos corridos é de 73%. Nos matas e mata-matas longos (excluindo as Supercopas e afins), 53%. A diferença existe.

"Eu nem tenho que falar nada a eles. Eles têm que saber. Acho que eles sentem. Não é preciso ser um gênio para entender que é preciso subir o nível contra o Real Madrid se quiser ter chances de passar", esbravejou Guardiola, após a derrota para o Arsenal.

Talvez a surpreendente eliminação sirva para chacoalhar o elenco do City. Ou talvez sirva para dar um gás nas esperanças do Real Madrid - um gigante que nunca, em hipótese alguma, pode ser desprezado na Champions.

O fato é que o "modo velocidade de cruzeiro" que o City utiliza no campeonato não vai servir para ganhar a Europa. Vai ter que trocar para "modo supersônico" ou qualquer coisa que o valha. A bola está com Pep.