Flamengo dá passo rumo ao profissionalismo entrevistando técnicos
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Você já foi entrevistado/a para um emprego, não foi? Eu já fui várias vezes, tenho certeza que a maioria de vocês, também. Por que técnicos de futebol não são entrevistados? Deveriam ser sempre. São quase nunca. Pelo menos no Brasil.
Mesmo na Europa, esta é uma cultura mais alemã e inglesa, não tanto espanhola ou italiana. Oras, antes de chamar um treinador para assumir um clube ou uma seleção, convém entrevistá-los, conhecer o modo de pensar, os valores, as preocupações, medir o interesse.
É isso o que o Flamengo parece estar fazendo, pelas notícias que pipocam sobre o tour de Marcos Braz e Bruno Spindel na Europa. Os dirigentes estão se reunindo com treinadores e vão buscar o melhor nome para dar sequência ao projeto que, afinal, tornou-se ganhador nas mãos de Jorge Jesus.
Eu já disse aqui que considerava Renato Gaúcho um nome ótimo para o Flamengo - pela repercussão, a torcida não curte a ideia de qualquer brasileiro no comando. E critiquei o clube por tentar repetir a fórmula buscando um português. Me parecia uma simples escolha por passaporte, mas eu me precipitei na crítica.
Pode parecer estranho, mas o que o Flamengo está fazendo é o certo, é o que sempre deveria ser feito. Em uma situação hipotética, mesmo se Klopp ou Guardiola estivessem dando sopa no mercado e o Flamengo tivesse bala para trazê-los, seria importante entrevistá-los. Mesmo que de forma protocolar, pois é importante que empregador e empregado estejam na mesma página.
O que sempre foi feito no Brasil? A escolha por nome e curriculum. Precisa de técnico? Surge um nome por uma determinada razão, passam a mão no telefone, fazem a proposta, o treinador aceita ou não. Aí depois vai dar certo... ou não. E muitas vezes não dá certo não por incompetência, mas por uma diferença de perfil, de expectativas e falta de planejamento sobre onde chegar.
O Flamengo não é o Real Madrid nem o Barcelona. Então o processo pode ter alguns solavancos fora do controle de seus dirigentes. Exemplo: Carlos Carvalhal, o português que fez belo trabalho no Rio Ave e era um dos alvos. Talvez ele fosse "escolhido" pelo Flamengo, talvez não. Mas o fato é que ele recebeu o convite do Braga e aceitou.
Para ele, ficar no futebol europeu, em um clube muito bem organizado e que joga competições continentais, era mais importante do que ir ao Flamengo.
O livre mercado é assim. Este é um exemplo de como até mesmo o mais poderoso clube brasileiro pode ser preterido em comparação a um clube médio de um mercado médio - mas que está inserido na elite do futebol mundial.
De qualquer forma, há outros nomes e o Flamengo faz bem em ir a fundo na escolha. Escolher bem é muitíssimo mais importante do que escolher rápido. O clube conseguiu criar uma relação de confiança com a massa de torcedores devido aos resultados, e isso dá margem e tempo para dirigentes fazerem a coisa de um jeito profissional.
A primeira vez que me deparei com uma situação de entrevista de treinador para um cargo foi em 2006, quando a FA inglesa resolveu ir atrás de Luiz Felipe Scolari. Fiquei surpreso. Pô, o cara era campeão do mundo, como assim precisava ser "entrevistado"? Hoje me parece razoável. Era um procedimento necessário, sim, e hoje é ainda mais.
Será que o Palmeiras entrevistou candidatos até decidir contratar Vanderlei Luxemburgo? Me parece claro que não. Vejam. Talvez, após uma bateria de entrevistas, os dirigentes concluíssem que Luxa era mesmo o caminho a seguir. Não estou dizendo que é nem que não é. Estou apenas analisando a forma como técnicos sempre foram escolhidos por clubes no Brasil. Outro exemplo: o Galo quis saber mais sobre Sampaoli ou simplesmente teve uma negociação? O técnico nunca pareceu na mesma página dos dirigentes santistas, no ano passado. É uma figura ímpar.
O Flamengo parece estar tomando outro caminho, mais profissional.
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