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Julio Gomes

O legado de Rodrigo Rodrigues

Lançamento em 2009 do livro "As Aventuras da Blitz", do então apresentador do programa Vitrine Rodrigo Rodrigues - Alexia Santi/Folha Imagem
Lançamento em 2009 do livro "As Aventuras da Blitz", do então apresentador do programa Vitrine Rodrigo Rodrigues Imagem: Alexia Santi/Folha Imagem

29/07/2020 13h46

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Eu não era um grande amigo de Rodrigo Rodrigues. Fomos colegas na ESPN por dois anos, entre a chegada dele (início de 2011) e minha saída (fim de 2012). Fizemos trocentos Bate-Bola juntos, ainda que minha função na empresa fosse outra. Nos dávamos muito bem. Mas perdemos contato.

A última vez que vi Rodrigo foi no enterro mais triste da minha vida, em janeiro (que ano é esse?). Trocamos um sorriso e uma piscadela, apesar da consternação. Não havia como encontrá-lo e não sorrir. Não tínhamos convívio e não tenho a capacidade para destilar lindas palavras, como tantos colegas melhores que eu já fizeram. Quero falar mais do futuro do que do passado, do legado que ele deixa.

A morte de Rodrigo, ontem, chocou todos nós. Há uma enorme comoção no meio jornalístico, especialmente. Por que? Por vários motivos. Porque Rodrigo passou por várias emissoras de TV em relativamente pouco tempo (Cultura, ESPN, Esporte Interativo e Sportv), porque deixou amigos em todas elas e também porque nossa classe, de forma quase unânime, está alertando para a porcaria de serviço que está sendo feito no Brasil para conter a pandemia.

Somos muito bem informados, lemos informações que chegam do mundo todo, de agências de notícias, governos, cientistas. Nós, jornalistas de verdade, comprometidos com a profissão, não nos informamos por grupos tóxicos de whatsapp. Sabemos que era necessário lá atrás, em março, fechar o país, colocar dinheiro público para manter pequenas empresas com vida, garantir renda aos pobres, investir na saúde, criar protocolos de atendimento, testes, rastreamento, confinamento. Nada foi feito. Nada.

O Brasil é o único país relevante do mundo que largou os seus à morte. No Brasil, o vírus tem caminho aberto. Se você está nos 98 ou 99% que sobreviverão a ele, como eu estive, por sorte, segue o jogo. Se você está no 1 ou 2% que o vírus realmente pega de jeito, azar.

Então a morte de Rodrigo revolta, não só entristece. Porque era uma morte evitável, como tantas e tantas das dezenas de milhares que temos. E acredite quem quiser nos números oficiais, possivelmente já temos várias dezenas de milhares de mortos a mais, milhões de infectados a mais.

A morte de Rodrigo não precisava ter acontecido.

Precisamos parar de matar uns aos outros. Se você tem qualquer sintoma (qualquer febre, dor no corpo, tosse seca, sensação gripal esquisita), fique em casa por 14 dias, POR FAVOR. Não é para entrar nem em elevador. Este é um vírus que fica pendurado no ar, usem máscaras o tempo todo. Protejam-se e protejam os outros. Ignorem as barbaridades que falam e fazem os governantes brasileiros. Lembrem-se do Rodrigo.

Acho que nem ele imaginava que era tão querido. Um cara alto astral, que trabalhava no futebol com rara leveza, sério, mas que não se levava a sério, músico, querido, bom caráter, autêntico. Homenageado no Jornal Nacional, responsável pela primeira transmissão conjunta de Sportv e ESPN, rivais históricas. Não é qualquer um que consegue unir tanto.

Quem leu tudo o que foi escrito e ouviu o que foi falado sobre ele, terá se deparado muitas vezes com a palavra "sorriso". RR tinha sempre um sorriso no rosto, sempre.

Eu não tenho, pelo contrário. Quantos de nós temos? Precisamos parar para pensar um pouco sobre nosso modo de levar a vida. Vidas frenéticas, estressadas, agressivas, vidas em que relações de trabalho estão acima das pessoais, vidas voltadas para objetivos materiais acima de tudo, vidas em que os filhos de todo mundo (ricos e pobres) são cuidados por terceiros, vidas de broncas, reclamações, discussões.

Que tal curtir como Rodrigo? Fazer amizades como Rodrigo? Agradar como Rodrigo? Respeitar como Rodrigo? Rir, sorrir e gargalhar como Rodrigo?

À prática, pois.