'Juninho nos mostrou que era possível e o Lyon é grande', conta lateral
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Fernando Marçal Oliveira, 31 anos, avisa. O Lyon jogará "sem medo" contra o Bayern de Munique, a partir das 16h (de Brasília) desta quarta, pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa. O lateral esquerdo, que joga como zagueiro na linha de três atrás, conversou com o blog por telefone na véspera da partida mais importante da vida dele - e de muita gente no Lyon, que está em sua segunda semi europeia.
"Os grandes times estão acostumados a jogar com times que têm medo, entram querendo perder de pouco. A gente não quer perder de pouco. A gente quer fazer nosso jogo e ganhar", avisa Marçal. "Bayern é Bayern. Tem que ter um respeito e uma atenção em qualquer competição, em qualquer situação. Obviamente que os 8 a 2 mostraram que são muito fortes e que qualquer desatenção pode ser fatal. Mas talvez não seja o melhor Barcelona dos últimos anos, o time esteve muito mal defensivamente e a gente, por outro lado, tem tomado poucos gols. Vamos para cima deles."
Como um time que estava em sétimo lugar quando a Ligue 1 francesa foi interrompida e que demitiu o técnico (Sylvinho) logo no início da temporada pode estar entre os quatro na Champions? A explicação passa por uma mudança de mentalidade trazida pelo diretor esportivo do clube: Juninho Pernambucano.
"Juninho chegou com a ideia de mudar a mentalidade do clube e mostrar para os jogadores que é possível, que o Lyon é grande e tem que estar lutando por troféus, e não estar limitado a vender atletas e se classificar para a Champions. Ele foi vencedor como jogador e quer a mesma coisa como dirigente. Ele está fazendo com que as pessoas acreditem, chegamos nas quartas da Champions e ninguém tremeu. Ele fala diretamente com os jogadores o tempo inteiro, participa, é um cara que acredita que podemos vencer. E isso vai sendo interiorizado por todos".
O blog tentou entrevistar Juninho antes da semifinal, mas o ex-craque do Lyon, sete vezes campeão com o clube, explicou por que não iria falar: "este é o momento dos jogadores". A frase mostra bem a empatia por quem faz o trabalho que vale mais, o do campo, e a química que, em pouco tempo, vai sendo criada dentro do clube.
O Lyon adquiriu uma confiança que faltou por exemplo, como conta Marçal, ao Manchester City - derrotado pelo time francês por 3 a 1 nas quartas de final.
"A escalação deles nos pegou de surpresa, mas foi bom para nós, estamos mais adaptados ao sistema. Estavam apostando no deslocamento do De Bruyne pela direita. Eu estava acompanhando ele, acabei percebendo que era importante ficar nele mesmo sem a bola. Eu senti apreensão neles, o jogo não estava saindo, estavam com aquela tensão do 'e agora?'. Acho que a escalação com três zagueiros foi uma forma de tentar igualar, porque no ano passado fizemos dois jogos com o City, ganhamos um e empatamos o outro. Ele (Guardiola) quis minimizar o risco, jogar espelhado e ganhar na qualidade que eles acreditavam ter a mais que nós."
Marçal foi formado nas bases do Grêmio, fez um caminho por times pequenos do Brasil e de Portugal, até que Jorge Jesus, então treinador do Benfica, quis contratá-lo, em 2015. Mas Jesus deixou o clube e foi para o Sporting antes que Marçal acabasse, de fato, sendo apresentado.
"Era um desejo trabalhar com ele, o Jesus faz muito bem o trabalho de tirar o melhor do jogador. Quando chego no Benfica, estava o Rui Vitória, trocou poucas palavras, foi muito frio. Desde o início, senti que não era a opção dele".
O lateral-esquerdo foi emprestado para o Gaziantepspor, da Turquia, e depois para o Guingamp, na França. Após uma ótima temporada 16/17, foi contratado pelo Lyon, onde está há três anos. Nunca disputou uma partida pelo clube português, mas rendeu 4,5 milhões de euros.
Na atual temporada, o Lyon sofreu no início, com Sylvinho. "Foram vários fatores. Acho que o Sylvinho deu errado por causa do idioma, de trabalhar com uma comissão técnica que não era a dele e talvez por ter vindo ao mesmo tempo que Juninho", conta Marçal.
"O Sylvinho queria trazer uma comissão técnica, novas ideias, conceitos e a antiga comissão seguia com os velhos hábitos. O trabalho de campo dele é muito bom, talvez dos melhores que eu já tive. Conceitos muito bons também, ele tem tudo bem interiorizado e consegue passar com facilidade. Mas tem a língua. Nós, brasileiros, entendíamos muito bem, mas o pessoal da tradução não estava passando 100% do que ele estava pedindo. O idioma foi dos principais problemas. Se ele chegasse um pouco depois, o Juninho já estaria integrado ao clube, vendo o funcionamento, daria a comissão técnica que ele precisava."
Além de Marçal e do diretor Juninho, outros brasileiros fazem parte do grupo do Lyon. Cláudio Caçapa, ex-jogador, é uma espécie de coordenador defensivo. Marcelo, ex-Santos, forma a linha de três ao lado de Marçal. Bruno Guimarães chegou do Athletico-PR no meio da temporada e virou titular indiscutível. No banco, estão ainda Rafael e Tiago Mendes.
"No Grêmio aprendi a fechar muito quando a bola está do lado contrário. Laterais mais ofensivos abrem o campo, não fecham tão bem. Para um lateral, atuar como zagueiro é uma questão de posicionamento, tenho me adaptado cada vez melhor."
O Bayern de Munique é um time que joga em um 4-2-3-1, com pontas abertos e muito volume ofensivo, alimentando um dos grandes nomes da temporada, Lewandowski. O polonês parece ser o último obstáculo separando Neymar do tão sonhado prêmio de melhor do mundo.
"É um centroavante completo, bom dentro e fora da área. Bate com as duas pernas, faz muito gol de cabeça. Não pode dormir, não pode dar chance. Neymar e Lewa são jogadores diferentes. Na minha opinião, Neymar é muito mais completo, pode pegar a bola no meio de campo e fazer o gol, decidir uma partida sozinho. Hoje, merece muito a Bola de Ouro."
Comento com Marçal que, se o Lyon ganhar do Bayern, ele pode ajudar muito Neymar a ser eleito melhor do mundo.
"Esperamos eliminar os dois, um depois do outro."
Esta é a mentalidade do novo Lyon.
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