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Julio Gomes

PSG tenta igualar 'primeiro rico' Chelsea e ganhar Europa após nove anos

Nasser Al-Khelaifi, amigo do emir do Catar e presidente do PSG, apresentou Neymar em 2017, a contratação mais cara da história - Christian Hartmann/Reuters
Nasser Al-Khelaifi, amigo do emir do Catar e presidente do PSG, apresentou Neymar em 2017, a contratação mais cara da história Imagem: Christian Hartmann/Reuters

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Com todos eles, é a mesma história. O discurso se repete. O investimento gigantesco tem, como objetivo final, conquistar a Europa.

Foi assim quando Roman Abramovich, um russo cheio de conexões e que acumula uma riqueza estimada de US$ 12 bilhões, comprou o Chelsea, em 2003. Foi assim quando Mansour bin Zayed Al Nahyan, da família real de Abu Dhabi, político importante dos Emirados Árabes Unidos e com fortuna estimada em US$ 22 bilhões, comprou o Manchester City, em 2008. E foi assim quando Tamim bin Hamad Al Thani, o emir do Catar, resolveu usar as riquezas do país para adquirir o Paris Saint-Germain, em 2011.

É claro que nenhum dos três está nessa para brincar. Com objetivos diferentes, e aqui cada um pode especular o que quiser, pois não estamos falando de países nem empresários transparentes, os três acabaram chacoalhando o mapa de forças do futebol europeu.

Alguns clubes grandes do passado foram sumindo do mapa da bola, como o Milan - que pode voltar um dia, por que não. Outros gigantes, como Manchester United, Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Juventus ou Liverpool, mantiveram-se gigantes. Mas tiveram de elevar o nível de investimento a outro patamar e, não nos enganemos, também passaram a fazer operações financeiras e associações criativas para ficar no jogo. O romantismo a gente deixa para cronistas, como eu, e para a história.

Chelsea, City e PSG mudaram os parâmetros. E obrigaram até mesmo a Uefa a se mexer em busca de um fair play financeiro, que ainda não funciona como deveria.

Se por trás há negócios de deixar contadores de cabelo em pé, na frente dos microfones a história é a mesma: ganhar campeonatos, títulos, apresentar jogadores, chegar ao topo da Europa.

Dos três, o Chelsea foi o único que chegou. Em 2012, nove anos após o início dos investimentos de Abramovich, o clube londrino foi campeão da Champions League. Curiosamente, o título veio em cima do Bayern de Munique, mesmo adversário do Paris na final de domingo, em Lisboa. Diga-se de passagem, demorou menos que o Paris para chegar à final da Champions: o Chelsea atingiu o feito em 2008, com cinco anos da era Abramovich, e perdeu o título nos pênaltis para o Manchester United.

O PSG tardou mais em chegar à decisão, mas pode demorar os mesmos nove anos do Chelsea para, finalmente, ganhar ao título. O Manchester City já está torrando dinheiro há 12 anos sem chegar à final europeia - ganhar a Champions não é moleza.

Só em transferências de jogadores, o Chelsea gastou 600 milhões de libras esterlinas em nove anos para chegar ao título da Champions League - na cotação de hoje, mais ou menos US$ 800 milhões ou R$ 4,4 bilhões. Considerando salários, estima-se que o custo da brincadeira tenha chegado perto dos 2 bilhões de libras para o Chelsea.

Era um clube médio de Londres, que não ganhava um título inglês havia 50 anos. Na era Abramovich, conquistou 18 títulos - além da Champions, chegaram duas Europa Leagues, cinco Premier Leagues, entre outras Copas. Perguntem se o torcedor do Chelsea está muito preocupado com a origem do dinheiro...

O Paris, assim como o Chelsea, não economizou para chegar onde está. Foram gastos com jogadores quase 1 bilhão de euros (R$ 6,5 bilhões) nestes nove anos e feitas as duas contratações mais caras da história: Neymar e Mbappé. Não há mais lojinha de souvenirs na capital francesa sem camisas e outros produtos do PSG ao lado dos tradicionais monumentos e pontos turísticos da cidade.

Nada como títulos, vitórias e estrelas para operar milagres assim. O PSG, que completa em 2020 seu cinquentenário, passou a fazer da vida de Paris como nunca havia feito. O futebol deixou de ser segundo plano em uma das cidades mais importantes da Europa e o clube foi abraçado pela população - tanto a tradicional parisiense quando a dos subúrbios, imigrantes e filhos de imigrantes, que vivem em situação bem mais precária do que o emir do Catar.

É novamente o Bayern de Munique o representante da velha guarda que pode impedir o título de um "novo rico". Em 2012, jogando dentro do seu estádio, em Munique, contra o Chelsea, não conseguiu. No domingo, o cenário será totalmente distinto: o Estádio da Luz, em Lisboa, estará fechado para o público e aberto apenas para alguns poucos convidados. Gente de grana, podem ter certeza.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O título inicial deste post indicava que o PSG igualaria o Chelsea ao chegar à final da Champions nove anos após o início dos investimentos. Na verdade, o Chelsea chegou à decisão em menos tempo (cinco anos). O PSG tenta igualar o feito maior, o de ser campeão europeu após nove anos.