Neymar da seleção precisa aprender com o do Paris: pressão na medida certa
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Uma imagem assustadora da Copa do Mundo de 2018, para mim, foi o choro de Neymar após o jogo contra a Costa Rica. Apenas a segunda rodada da fase de grupos. Uma vitória.
Mas podemos falar de outros, não só de Neymar. O vestiário após a derrota para a Holanda na Copa de 2010, na África! Putz, vocês não queriam ver aquilo. Era uma tristeza do tipo velório, seres humanos arrasados por causa de uma derrota em um jogo. Ninguém havia morrido. Morrem 1000 por dia no Brasil pelo descontrole do Covid-19 e ninguém fica daquele jeito, salvo os familiares dos mortos.
O futebol precisa ser sentido, vivido com intensidade. Mas qual o nível certo? Onde estão os limites e os mínimos?
Antes fosse fácil calcular esse tipo de coisa. Não é. E estamos falando de um jogo coletivo, de seres humanos, de indivíduos que formam o todo, cada um com suas crenças, histórico, caráter, personalidade, criação.
O medo da derrota, ou a aversão à derrota, melhor dizendo, é importante para um atleta. Não querer perder caminha ao lado do querer ganhar, seja lá qual for a razão. O Neymar que estamos vendo aqui em Lisboa e ao longo da temporada parece ser um jogador com muita vontade ganhar, pouca vontade de perder.
E se perder? Se perder, tenho certeza que Neymar ficará triste. Arrasado? Pode ser. Vai dormir de noite? Certamente não. Mas vai completamente ignorar, esquecer duas horas depois e jogar video game com os parças? Duvido. Duvido muito. Está claro ali que ele faz parte de um grupo voltado para a vitória. Mas sem o peso exagerado de uma eventual derrota.
Se o Paris perder a Champions League, outras virão. Alguns jogadores sentirão mais, outros menos. Mas é óbvio que Neymar importa mais do que outros. Qualquer engrenagem precisa de todas as peças, mas algumas são mais difíceis de encontrar, de serem construídas ou repostas. São mais importantes, falando o português claro.
O estado anímico do Neymar do PSG 2019/2020 me parece estar no ponto ideal. Não se nota um certo descaso, como se notava nas duas primeiras temporadas pelo clube. Tampouco o exagero que se vê quando veste a camisa da seleção brasileira.
Talvez um dia, na longa e vitoriosa história da seleção brasileira, o medo do fracasso tenha mais ajudado que atrapalhado. A cicatriz de 50, muitos já disseram, foi fundamental para o que viria na década seguinte. Uma vontade de ganhar tremenda, gerada por uma derrota sentida na pele.
Mas, de uns tempos para cá, me parece que a linha foi cruzada. Os jogadores da seleção carregam um peso desproporcional, como se coubesse ao Brasil ganhar tudo, como se não existissem rivais do outro lado. Sim, todos temos um papel nisso: imprensa, dirigentes, familiares, vizinhos, torcedores. Mas é essencialmente um peso que eles mesmos se colocam.
Porque, antes de jogar, torceram. Torceram muito. Vibraram, choraram, sonharam. E é difícil se desfazer de tudo isso na hora H. Pelo Paris, Neymar não torceu, não vibrou nem chorou. Dos familiares, vem só torcida e energia positiva, não o olhar de apreensão nem a mensagem subliminar incluída nele, "nossa nação depende de você".
Seria espetacular se Neymar (e outros jogadores) conseguissem jogar uma Copa do Mundo sem tanto medo de perder, de decepcionar as pessoas próximas, de colapsar uma nação. A pressão boa é a pressão na medida certa. Basta pensar em uma panela... de pressão! Se usar mal, explode.
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