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Julio Gomes

Bielsa sim, Jesus não. Lista para prêmio da Fifa escancara eurocentrismo

Jorge Jesus, campeão da Libertadores e Brasileiro pelo Flamengo - Alexandre Vidal/Flamengo
Jorge Jesus, campeão da Libertadores e Brasileiro pelo Flamengo Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

25/11/2020 10h53

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A Fifa divulgou hoje as listas para o prêmio The Best, que irá ser dado aos melhores da temporada. Eu sempre digo aqui: a Bola de Ouro é mais respeitada por jogadores, treinadores e torcedores na Europa. Mas a France Football resolveu não dar a Bola neste ano pandêmico (decisão precipitada) e sobrou só o da Fifa - que é mais respeitado aqui no Brasil, pois amamos um carimbo de cartório.

Nas listas, chama a atenção o golaço de De Arrascaeta (bicicleta no Castelão) concorrendo ao prêmio Puskas. Dado que é mesmo o gol mais bonito da lista e que a votação é popular (olho, nação rubro-negra), me parece barbada que o uruguaio ficará com a láurea.

Mas, entre os candidatos a melhor técnico do ano, uma bizarrice. O que faz lá Marcelo Bielsa? O "louco" é importantíssimo para a história do futebol mundial, tem um legado, inspirou muita gente importante. Mas estar na lista de cinco melhores do ano por ganhar a segunda divisão inglesa?

Que deem um prêmio simbólico a ele por serviços prestados, oras! Não por subir o Leeds para a Premier.

Jorge Jesus, campeão brasileiro e da Libertadores, com um time que encarou de frente o campeão da Europa no Mundial da própria Fifa, não está na lista. Talvez isso explique por que o português escolheu voltar para o Benfica - sabe que é melhor estar na segunda ou terceira prateleira, desde que na Europa, do que fazer chover por aqui.

Os caras olham para o Leeds e não olham para o Flamengo! Jesus tem mais chance mesmo de dar algum salto para time grande europeu fazendo alguma coisa no Benfica do que se ganhar tudo na América do Sul.

Vejam, é na Europa que está a elite. Isso é fato. Os melhores times, técnicos e jogadores estão lá. Hoje, o futebol brasileiro é apenas periférico. Mas há certo limite para o eurocentrismo, não?

É verdade que o futebol sul-americano vive a anos-luz em termos financeiros e de organização, mas muitos dos melhores jogadores que brilham na Europa saem daqui. Tem muito título mundial aqui, tem muita camisa importante, tem muito torcedor, tem muito país em que se joga futebol, tem competitividade. Tem que respeitar mais, dona Fifa.

Os problemas citados geram na América do Sul algo que anda em falta na Europa: equilíbrio. O que Jorge Jesus fez por aqui, o domínio total, é algo raríssimo e que precisa ser valorizado. Assim como o trabalho de Marcelo Gallardo, no River Plate.

A lista do The Best tem Klopp (justo), Flick (justo e meu favorito), Zidane, Lopetegui e Bielsa. Eu só deixaria Jesus atrás de Flick e Klopp. O trabalho dele é muito mais relevante do que o que os outros três fizeram ao longo de 2019/2020 - importante ressaltar isso, o prêmio de 2019 foi dado em setembro no ano passado, o atual é baseado nos feitos de 19/20, não somente o ano natural de 2020, e é por isso que Jesus poderia sim estar na lista.

Aliás, melhores que Zidane, Lopetegui e Bielsa foram outros dois, por exemplo: Julian Nagelsmann, do RB Leipzig, e, principalmente, Gian Piero Gasperini pelo trabalho incrível e excepcional na Atalanta.

Que o campeão da segunda divisão inglesa esteja lá e o campeão da América, não, fala mais da Fifa e suas cabeças eurocêntricas do que do trabalho irretocável de Jorge Jesus em sua passagem por essas bandas.