Diniz sai maior do que entrou no São Paulo. Mas precisa rever conceitos
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A continuação de Fernando Diniz era mesmo insustentável. Há trocas e trocas de treinadores. Há aquelas estúpidas e inaceitáveis, como a de Ney Franco no Goiás, no começo do campeonato. E há aquelas inevitáveis, como a de Diniz.
O jogo não flui, a confiança foi embora, a torcida não quer, a nova diretoria não quer. Se ainda houvesse a tradicional pausa entre uma temporada e outra, teria sentido esperar até o fim. Mas não tem, 2020 emenda em 2021, não há o que esperar.
A nova diretoria nunca quis Diniz no cargo, apenas não teria coragem suficiente para demiti-lo com o time liderando o campeonato. As pessoas que tomam conta dos clubes de futebol do Brasil não têm conhecimento técnico para tomar tais decisões, são torcedores como qualquer outro. E tampouco têm coragem. Se tivessem, tomariam decisões independentemente de resultados - seja para bancar ou para interromper um trabalho.
Falta de conhecimento + falta de coragem. O coquetel do cartola, que vive de politicagem e de jogar para a opinião pública.
Era fácil manter Diniz no cargo em dezembro. Como é fácil demiti-lo agora. Não há vontade de seguir com ele no projeto e não há mais chances de título brasileiro, portanto... inevitável.
Diniz sai do São Paulo muito maior do que entrou. Elogiado por todos que trabalharam e conviveram com ele. Vinha de dois trabalhos interrompidos prematuramente no Athletico e no Fluminense, "caiu para cima", teve a chance que precisava no São Paulo para mostrar ser capaz de formar um time competitivo.
Não à toa, Athletico e Fluminense melhoraram quando Diniz saiu - ele ajuda os clubes por onde passa, aumenta o leque de virtudes dos jogadores. Todos os atletas que passaram por ele saíram melhores e mais completos do que entraram. E ele também. Foi capaz de se levantar de alguns momentos realmente ruins na temporada e, quando se deparou com mais um, não havia mais tempo de recuperação. O campeonato vai acabar.
O grande vexame da "era Diniz" no São Paulo foi a eliminação para o Mirassol, um catado formado dias antes da partida. Não concordo que a eliminação na Libertadores tenha sido um vexame. Houve um contexto ali (River muito forte, jogou com reservas contra a LDU, São Paulo foi o único que subiu a montanha para pegar o tal Binacional, deu azar na tabela e no campo, com os milhões de gols perdidos). A eliminação para o Lanús também é do futebol, o time argentino foi o vice-campeão do torneio, afinal.
Por mais que Diniz diga que não é cabeça dura e que muda rotas quando tem que mudar, creio que ele veja rotas de menos a serem mudadas - e este é o grande desafio para o resto da carreira.
O futebol é um jogo muito dinâmico, cada partida tem uma história. E o São Paulo passou tempos muito longos contando a mesma história. É OK contar uma mesma história, mas ela precisa de pequenas alterações e adaptações. Tudo bem ler Senhor dos Anéis dez vezes - mas fazemos isso ao longo de nossas vidas, somos diferentes a cada leitura. Não à toa tem tanto remake de tanto filme, tantas versões de tantas músicas.
Diniz não soube compreender a necessidade da mudança - ou não conseguiu fazê-las. Sim, ao longo da temporada mostrou tal capacidade ao mudar algumas peças. Mas, no fim, o que precisava ser mudado era outra coisa. Ele não conseguiu enxergar a solução. E quem está de fora pode palpitar o quanto quiser. É fácil falar "tira esse, põe aquele". Não acho que haja soluções nem respostas óbvias para o que aconteceu com o São Paulo em janeiro.
O fato é que os jogos contra Corinthians e Grêmio, em dezembro, mostraram um caminho. O São Paulo havia melhorado defensivamente (bola alta e transições), mas ofensivamente o time não encontrou saídas. Vieram os tropeços e a confiança foi embora. O jogo proposto por Diniz não existe sem confiança, não funciona. E o São Paulo vive uma crise de confiança há anos, não só jogadores, mas clube e torcedores como um todo.
Neste cenário de janeiro, era preciso mudar. Encontrar soluções. Elas não foram encontradas e é lógico que isso depõe contra Diniz.
Ele mostrou capacidade de construir um bom trabalho, mas não de concluir o bom trabalho da melhor forma possível. Cabe a ele encontrar a evolução para sua caminhada profissional.
O que não tenho dúvidas é que Diniz, antes visto como alguém excêntrico e muito fora da curva para nossas tradições, hoje está no mercado como qualquer outro treinador. Eu não contrataria Diniz para salvar um time do rebaixamento, para ser tampão ou bombeiro. Ele precisa, digamos, de condições ideais de trabalho. De um elenco com as características que se encaixem nas ideias dele (não tinha no São Paulo), diretores que banquem, troquem ideia e participem, jogadores que comprem os objetivos.
Não, Diniz não é uma solução fácil para qualquer clube, ainda mais como o São Paulo. Para mim, deveria, inclusive, aprender idiomas e se mandar. Preencher as lacunas de conhecimento, evoluir. Mas acho difícil que aconteça. Ele deve optar por seguir aqui, e creio que terá emprego logo mais.
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