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Depois de perder o motor e o cérebro, Real Madrid agora perde a alma
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O Real Madrid pode até ter sido campeão espanhol em 2020, naquela reta final em meio à pandemia. Mas o fato é que o maior clube do mundo não desperta confiança alguma desde 2018, quando Cristiano Ronaldo foi embora. Zidane havia ido embora junto, depois voltou, agora foi de novo. E a notícia de ontem, que caiu como uma bomba, é a despedida de Sergio Ramos.
Primeiro, o Real perdeu seu motor, a máquina de fazer gols —diziam que a carreira chegava ao fim e vejam só o que Cristiano fez de gols nos últimos três anos. Depois, perdeu o cérebro. Não sei que tamanho Zidane terá como treinador na sequência da carreira, mas fica claro que ele era um homem quase perfeito para um clube alucinado por vitórias, como o Madrid. A sobriedade, a razão, a calma, a clareza de pensamentos vinham de Zidane.
Agora, o clube perde a alma. Sergio Ramos chegou de Sevilha 16 anos atrás para se transformar em um dos maiores jogadores da história do clube —certamente o maior defensor—, o segundo maior colecionador de troféus (atrás de Gento). Um multicampeão pelo Real e pela seleção espanhola, respeitado por companheiros e adversários, que foi amadurecendo de forma impressionante e consolidou sua liderança nos últimos anos, depois do período de bonança.
O gol mais importante de sua vida foi o da final da Champions League em Lisboa, em 2014, levando o duelo contra o Atlético de Madrid para a prorrogação —e, na prática, decretando a chegada de "La Décima". O Real já não vencia a Champions havia 12 anos e não tenho dúvidas que aquele gol e aquele título abriram as portas para os três que viriam a seguir, em 16, 17 e 18. Foi o gol mais "o campeão voltou" que eu já vi na vida.
Foi o gol mais importante na vida de muita gente, não só dele. Mas é claro que a passagem de 16 anos de Sergio Ramos pelo Real Madrid não se resume a isso. Um líder dentro do vestiário e dentro do campo, defensor implacável e artilheiro nas horas vagas, cobrador de pênaltis com alto aproveitamento de gols e de humilhação aos adversários.
Ramos virou um símbolo. E, de símbolos, clubes não deveriam se desfazer tão facilmente. O problema foi contratual. Ramos queria mais dois anos de contrato e já dois como parte da equipe técnica (pós-aposentadoria). O Madrid ofereceu um ano e com salário reduzido. É lógico que tudo isso é fácil de resolver quando ambos querem. Pelo jeito, ninguém queria.
Assim como Cristiano Ronaldo e Zidane, Sergio Ramos sairá mal do clube. Nenhum deles se sentiu devidamente prestigiado por Florentino Pérez. Não há portas fechadas, serão trocadas palavras bonitas, mas a verdade é que o clube dá um tratamento ordinário a gente extraordinária.
"Não há ninguém maior que o clube", dizem. Mas os que fazem do clube maior do que ele era, e isso precisa ser levado em conta.
É difícil imaginar a sequência desta renovação do Real Madrid. Volta Carlo Ancelotti, seguem alguns veteranos, mas nenhum deles com a hierarquia de Ramos. Entre tantas coisas que o clube já procurava —sem êxito—, agora acrescenta-se uma difícil de encontrar no mercado: alma.
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