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Julio Gomes

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Gomes: Europeus aproveitam brecha para desafiar a Fifa e 'tomar' futebol

Richarlison, da seleção brasileira, comemora após fazer gol pelo Everton - Ian MacNicol/Getty Images
Richarlison, da seleção brasileira, comemora após fazer gol pelo Everton Imagem: Ian MacNicol/Getty Images

24/08/2021 19h09

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As Ligas de clubes da Inglaterra e da Espanha anunciaram que não vão liberar seus jogadores para as partidas de seleções, pelas eliminatórias da Copa do Mundo. Na Inglaterra, a desculpa é a Covid: jogadores dos países da lista vermelha (são muitos, incluindo o Brasil) precisariam respeitar quarentena de 10 dias ao voltar para a Inglaterra e "perderiam a forma física". Na Espanha, a reclamação é o calendário das eliminatórias sul-americanas, com o aumento de um jogo (dois para três) e dois dias a mais de liberação.

A real é que os clubes, que pagam salários altíssimos a seus jogadores, não perdem qualquer chance que têm pela frente para desafiar a Fifa e o futebol de seleções. Não gostam de liberar, não querem que os caras saiam para jogar por seus países. Curioso, porque contratam jogadores de seleções, mas depois não querem que joguem pelas seleções. E mais: tampouco perguntam aos jogadores o que eles desejam.

Eu entendo que haja um cabo de guerra e que cada um esteja olhando para seus interesses. O que me incomoda é o casuísmo, o oportunismo.

Na Europa, Inglaterra incluída, o "certificado digital", uma espécie de "passaporte sanitário", dá direito às pessoas fazerem quase tudo. Basta mostrar vacinação completa ou PCR negativo ou ter contraído Covid nos seis meses anteriores. No Reino Unido, que não faz mais parte da União Europeia, o nome do certificado é "NHS Covid Pass". O princípio de liberação para as pessoas participarem de eventos, viajarem, etc, 'é o mesmo.

Como sabemos, os jogadores de futebol têm sido vacinados, seja por idade, seja por iniciativa dos clubes. Sim, a regra é para todos: se você chega de um país da "lista vermelha", mesmo que esteja vacinado, precisa ficar quarentenado por 10 dias.

OK, é um problema para os clubes, sem dúvida. Perderiam jogadores por uma ou duas partidas. Mas e se algum jogador quiser viajar para visitar a família durante a data Fifa? Também não pode? Me parece um cerceamento grande de liberdade por parte do empregador, sempre com o argumento de "eu pago o salário".

É óbvio que a regra do governo inglês é voltada para limitar o turismo e a entrada de pessoas no país, controlando a epidemia. É também óbvio que profissionais como jogadores de futebol, com condições de fazer PCRs diariamente, poderiam ser liberados antes dos tais 10 dias. Outra possibilidade? Por que não adiar uma rodada do campeonato? Afinal, são 60 jogadores que desfalcariam os clubes.

Não há interesse da Liga de clubes em negociar algo assim com as autoridades, porque é mais benéfico para ela simplesmente proibir a saída de atletas.

Como na Espanha não há regras tão restritas como na Inglaterra para a entrada de viajantes, então o argumento principal foi outro: o aumento de 9 para 11 dias de liberação.

A real? Como vimos no movimento da Superliga (que unia só meia dúzia de poderosos), agora vemos um outro passo dos clubes que, na verdade, não querem estar submetidos a Fifa e Uefas da vida. Eles querem o futebol para eles, somente para eles.