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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jorge Jesus ganha a chance que tanto queria: aparecer na Champions

Jorge Jesus comandando o Benfica em duelo do Campeonato Português - Gualter Fatia/Getty Images
Jorge Jesus comandando o Benfica em duelo do Campeonato Português Imagem: Gualter Fatia/Getty Images

29/08/2021 04h00

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Quando Jorge Jesus decidiu deixar o Flamengo, multicampeão e com perspectivas boas para ganhar tudo de novo, muitos disseram que razões familiares eram a principal razão. O retorno ao Benfica e a seu país teriam mais a ver com isso do que qualquer outra coisa.

Nunca acreditei muito nesta versão. Basta rever as tantas declarações de Jorge Jesus em que ele se coloca como um técnico top europeu, que deveria estar no radar de clubes da Premier League ou gigantes como Real Madrid e Barcelona. Ele notou rapidamente que, fizesse o que fizesse no Flamengo, a repercussão não seria relevante no mercado de elite europeu. Portanto, era necessário voltar aos holofotes.

Em plena pandemia, o Benfica, um dos clubes que mais ganharam dinheiro nos mercados de transferências ao longo dos anos, colocou-se no top 10 dos que mais gastaram no mercado de verão de 2020. Inverteu a estratégia, foi de vendedor a comprador. A ideia era formar um time forte, garantir a reeleição do então presidente (hoje afastado) Luis Filipe Vieira e, na cabeça de Jesus, ganhar a liga portuguesa e fazer uma Champions League impactante, chegando, talvez, até as quartas de final.

Na prática: eliminação na fase preliminar da Champions para o pequenino PAOK, da Grécia, então comandado por um certo Abel Ferreira, e nem perto de disputar o título do Português.

Um ano depois de tantas decepções, o Benfica vive uma crise política sem precedentes, mas Jorge Jesus conseguiu colocar o time na fase de grupos da Champions League após passar pelo PSV Eindhoven de forma dramática - segurando o placar com um homem a menos durante quase a partida de volta inteira.

E o sorteio dos grupos, na última quinta, colocou o Benfica em um grupo com Barcelona e Bayern de Munique. Difícil passar para o mata-mata? Sim. Muito difícil. Quase impossível, eu diria. Mais realista é brigar com o Dynamo de Kiev por uma terceira posição e a consequente vaga na Europa League.

Mas Jesus ganhou a chance que queria. O Benfica tem quatro jogos para fazer que a Europa inteira estará observando - dois contra os alemães, dois contra os catalães. Quatro jogos contra gigantes do continente. Os encarnados estreiam fora, contra o Dynamo, e é importante vencer para sonhar. Depois, são dois confrontos seguidos no Estádio da Luz - em 29 de setembro, contra o Barça, e em 20 de outubro, contra o Bayern.

A elite europeia não olha para o rolo compressor que foi o Flamengo de Jesus aqui em 2019. E tampouco dará muita bola para um eventual êxito doméstico com o Benfica. Mas, se ele aprontar contra os gigantes da Champions, pode abrir as portas que acha que merece.

Não vai ser fácil. Mas Jorge Jesus ganhou a chance que queria.