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Gomes: Flamengo x Palmeiras é primeiro clássico nacional da nossa história
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Assusta essa manchete, não é? Como assim, primeiro clássico nacional da nossa história? O Brasil tem um monte de clássicos nacionais! Tem mesmo?
Até tem, pelo nome e pelo peso das camisas. Mas algum clássico nacional algum dia se equiparou a uma rivalidade estadual? Algum clássico nacional reúne clubes dominantes no país por um período já prolongado de tempo e estendendo este domínio para além das fronteiras? A final do Centenário, daqui a dois meses, será o maior jogo da história do futebol brasileiro entre dois times de Estados diferentes. Simples assim.
Responda rápido: quem é, hoje, o maior adversário do Flamengo? Pois é. Falar Vasco, Fluminense ou Botafogo é apenas romantismo, nada mais.
O futebol brasileiro ganhou seu Real-Barça. Seu River-Boca. Seu Bayern-Borussia. É definitivo? Não, não é. Mas quantos anos outros clubes brasileiros com o potencial de fazer parte deste clube de elite (são dois ou três, e olhe lá) vão demorar para efetivamente conseguir desafiar, ano sim, ano também, Palmeiras e Flamengo?
O Flamengo x Palmeiras do próximo 27 de novembro, em Montevidéu, será a primeira final de Copa Libertadores da América totalmente brasileira e que reunirá os dois clubes mais fortes e dominantes do país.
Não foi o caso de São Paulo x Athletico-PR (2005). Não foi o caso de Inter x São Paulo (2006). Não foi o caso de Palmeiras x Santos (2020).
Além disso, a final da Libertadores colocará frente a frente os últimos dois campeões da América. Um deles será tri, igualando os outros tris (Santos, São Paulo e Grêmio). Dada a situação financeira e o cenário geral do futebol sul-americano, é plausível imaginar que quem vencer em novembro acabará sendo, ano que vem ou no próximo, também o primeiro tetra continental de nosso país.
No cenário doméstico, Palmeiras e Flamengo ganharam dois títulos cada um dos últimos cinco Brasileirões - o único intruso foi o Corinthians, no longínquo 2017. Quando não venceram, Palmeiras e Flamengo foram duas vezes cada o time que fez mais pontos - fora o campeão.
Eles estão disputando tudo entre eles desde que as finanças de ambos entraram no azul, e os clubes, por caminhos diferentes, transformaram-se nos mais ricos do Brasil - muito, muito, muito à frente da concorrência.
Nos anos 40 e 50, houve grandes confrontos entre clubes do Rio e de São Paulo, quando o torneio que levava o nome dos Estados era o mais importante à parte os Estaduais. Nos anos 60, o Santos foi o grande dominador. Os clássicos contra o Botafogo, que marcavam os duelos Pelé x Garrincha, ficaram para a nossa história. Mas o Botafogo não dominava nem mesmo no Rio de Janeiro, não havia uma disputa tão dura entre eles como as fotos antigas e a memória afetiva indicam.
Talvez o grande clássico dos anos 60 tenha sido o Santos x Cruzeiro que determinou a "necessidade" de haver um Campeonato Brasileiro - um jogo marcante, mas que não criou uma rivalidade histórica ou algo do tipo.
Nos anos 70, houve duelos importantes entre Inter e Cruzeiro. Nos anos 80, entre Flamengo e Atlético-MG e Flamengo e Grêmio. Nos anos 90, o Vasco e o Grêmio desafiaram o domínio do trio-de-ferro paulista. Na virada do século, tivemos Vasco e Corinthians decidindo o primeiro Mundial da Fifa, ainda um torneio experimental, sem interesse dos europeus e que demoraria para ser repetido. E, na primeira década do atual século, o Inter conseguiu, no âmbito continental, desafiar o São Paulo, que dominava o Brasileirão.
Nenhuma destas rivalidades, no entanto, perdurou e nem tinha o aspecto desta polaridade Flamengo-Palmeiras que vivemos no momento. A história do nosso futebol sempre foi marcada por rivalidades locais, regionais, nunca um duelo nacional passou perto de ocupar este espaço. Mas o perfil do nosso futebol mudou de 20 anos para cá, com os pontos corridos, o fortalecimento do Brasileirão, a maior presença de clubes na Libertadores e o sucateamento dos Estaduais.
Hoje, é o cenário nacional o que importa. Neste cenário, muitos já fizeram grandes coisas, muitos já ganharam Brasileiros e Libertadores. Mas sempre tivemos o esporte marcado justamente pelo rodízio de campeões e a dificuldade de determinar favoritos ou clubes dominantes.
De cinco anos para cá, tudo mudou. Já é um período de tempo considerável em que claramente dois times são os mais fortes. Podem não ganhar tudo, mas estão sempre lá disputando. Ambos têm camisa, troféus, torcidas imensas e dinheiro. E mais: torcidas que se odeiam, por questões que vêm de antes da riqueza, de alinhamento com outras torcidas e por aí vai. O termômetro das redes sociais mostra exatamente o que estou dizendo.
Não estou falando que Palmeiras e Flamengo são os maiores clubes da história do futebol brasileiro. Os torcedores de ambos dirão que é um ou outro. Os torcedores de Santos e São Paulo, por exemplo, têm bons argumentos para dizer o contrário. O que estou falando é que Palmeiras e Flamengo, além da história de conquistas que têm para trás, estão hoje em uma posição muito privilegiada em relação à concorrência. Posição que é pouco ameaçada e que nenhuma outra dupla de clubes nacionais ocupou no passado.
Pessoalmente, como alguém que "avisa" há dez anos que o Brasil chegaria nisso, eu acho uma tristeza. Hoje, o futebol brasileiro é coisa de dois. Com um terceiro, o Galo, tentando se posicionar entre eles para os próximos anos. É a elite da elite da elite da elite. Foi-se o tempo em que não era possível prever quais seriam os três primeiros colocados do Brasileirão.
A final da Libertadores é inegavelmente o tira-teima que todos esperavam. É o primeiro clássico verdadeiramente nacional que temos, com implicações que vão além do simples ganhar ou perder um campeonato específico. Um jogo com um peso gigantesco.
A decisão vai mostrar quem "manda", quem é o melhor, quem é o mais poderoso. Palmeiras ou Flamengo? Isso, claro, até o dia seguinte. Até o ano que vem, quando lá estarão os dois novamente decidindo entre eles todos os títulos que importam...
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