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Gomes: Seleção tem que insistir com caras da Premier, não do Brasileirão
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A seleção brasileira começou ontem o jogo contra o Uruguai com sete jogadores que atuam na Premier League, o campeonato longo de futebol mais forte e intenso do mundo. Não é à toa que tenha jogado tão bem.
Dos que começaram a partida, só não estão na Premier quatro caras: Neymar, Lucas Paquetá, Alex Sandro e Lucas Veríssimo. Os quatro, no entanto, jogam na Europa.
Depois de perder tantos titulares do time após a Copa de 2018, Tite parecia estar com dificuldades para encontrar uma formação do meio para frente. Só sabemos que o Brasil terá um grande goleiro, ótimos zagueiros, Casemiro e Neymar quando estrear no Catar, em 2022.
Algumas respostas para o resto do time parece que podem ter surgido em Manaus - e só o tempo resultará na comprovação. Uma solução, no entanto, dispensa debates: a aposta em jogadores que atuam na Premier League é muito mais segura do que em jogadores que atuam no Campeonato Brasileiro.
Não há vira-latismo algum. Não é nenhuma novidade, o nível de futebol praticado no Brasil e na América do Sul tem melhorado, mas está muito, muito abaixo do que vemos na elite do futebol mundial. O abismo não fica tanto no lado técnico, mas no tático e na intensidade do jogo.
Um cara que atua na Premier League está habituado a outras necessidades, como a velocidade para reagir em campo. O tempo disponível para tomar uma decisão é muito menor. Um cara que passa deste teste está muito mais apto a jogar uma Copa do Mundo, porque é este nível de intensidade que encontrará. O jogo sem bola, tanto na fase ofensiva quanto na defensiva, tem também outro patamar de sofisticação e exigência.
Querem exemplos? Na busca por um extremo, Tite apostou em Éverton Cebolinha, que brilhou na Copa América de 2019. Ele foi para a Europa, caiu nas mãos de Jorge Jesus e... nada. Já Raphinha, um rapaz que saiu jovem do Avaí para o futebol europeu, trilhou seu caminho, cresceu lá e hoje brilha no Leeds, treinado por um tal Marcelo Bielsa. Vestiu a camisa da seleção e mostrou como fica fácil jogar quando se está habituado a um jogo de alta velocidade. Ele já está no "grau" correto de competição.
Raphinha atropelou o Uruguai e mostra-se um jogador mais pronto do que, por exemplo, Vinícius Júnior. Porque há também uma diferença grande da Premier para as outras ligas europeias, mesmo as principais. A única que se compara em intensidade é a Bundesliga.
Outro exemplo. Gérson brilhou demais com a camisa do Flamengo e era clamado pela opinião pública, que exigia vê-lo jogar pela seleção. Foi para a Europa, não está sendo fácil em Marselha, teve a chance na seleção e não foi o mesmo Gérson que todos esperavam. Já Andreas Pereira, um rapaz forjado na Europa, mas que tinha pouco espaço por lá, caiu no Flamengo e já fez a torcida esquecer Gérson.
Jogar aqui é muito mais fácil. Sempre desconfiem de jogadores que voltaram rapidinho da Europa, bateram e voltaram. O nível de exigência é outro, a pegada é outra, o jogo é mais lento aqui e sobram mais espaços e tempo para pensar.
Façamos uma enorme pesquisa popular para saber quem o torcedor brasileiro prefere ver jogar na seleção. Fred ou Gérson? Raphinha ou Bruno Henrique? Gabriel Jesus ou Gabriel Barbosa? Alex Sandro ou Arana? Éderson ou Weverton? Richarlison ou Hulk?
Sempre vai ganhar na enquete o nome que atua no futebol brasileiro. Porque é o que está mais perto das pessoas, é o que cara que aparece todo domingo, que é visto, debatido, elogiado, que decide jogos no Brasileirão. É assim há muitos e muitos anos, desde que jogadores brasileiros passaram a virar produto de exportação. É a tal "conexão com a torcida". E grande parte da imprensa faz esse coro, pressionando treinadores da seleção a convocar e escalar os destaques do futebol local.
É um erro. É claro que não é necessário fechar as portas. Até porque fase boa conta muito, principalmente no caso de atacantes. Não é absurdo levar um ou dois caras que estejam brilhando muito, com altíssimo nível de confiança, nos dias anteriores à Copa do Mundo. Mas, essencialmente, nunca podemos perder de vista uma triste verdade: esses caras atuam em um futebol que não é o que será jogado no Mundial.
Eles até podem dar certo na Copa e mostrar lá o mesmo nível que mostram no futebol daqui. Mas aí é uma questão de contar com a sorte. Apostar em caras adaptados ao mais alto nível semanal que existe no futebol, a Premier League inglesa, é bem menos arriscado.
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