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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gomes: Xavi chega para salvar o Barça. Novo Guardiola ou novo Pirlo?

Xavi Hernández, no comando do Al Sadd - Divulgação/Al Sadd
Xavi Hernández, no comando do Al Sadd Imagem: Divulgação/Al Sadd

05/11/2021 11h28

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O imbróglio da chegada de Xavi a Barcelona ganhou mais contornos nesta sexta-feira. O Al Sadd, do Catar, anunciou a saída do técnico para seu velho-novo clube. Mas o Barça ficou enfurecido com a notícia e disse que não iria pagar cláusula alguma de rescisão (são 5 milhões de euros). O clube está na pindaíba, todos sabem. Diz a imprensa catalã que Xavi pagará a cláusula, seria uma maneira de driblar o fair play financeiro.

De uma forma ou de outra, vai ser encontrado um jeito e Xavi será técnico do Barcelona em breve. Para assumir um clube que tem algumas semelhanças ao clube que ele vivia no início da carreira - final dos anos 90, início dos 2000 -, com turbulências dentro e fora de campo e sensação de inferioridade ao grande rival espanhol e aos europeus. Um Barça que nada tem a ver com o clube que ele viveu no esplendor da carreira como jogador, com contratações de estrelas e títulos, muitos títulos.

Xavi chega para ser um Messias - ainda que ele negue, o que é óbvio. Chega para ser o salvador. O que nunca é bom. Mostra que não há um plano, com começo, meio e fim. Há apenas o desespero. A busca por respostas que acalmem a opinião pública e os sócios.

Ele chega para ser o novo Guardiola. E pode ser. Mas pode ser também um novo Pirlo. Quando Guardiola assumiu o Barça, em 2008, ele chegava de um período treinando o time B, portanto conhecia bem o potencial de quem estava prestes a subir para o time de cima. E pegava um time com a base campeã europeia (2006), bi espanhola (05-06), com um Messi explodindo e que apenas havia tido uma má temporada, a derradeira de Rijkaard.

Além do mais, Guardiola se preparou para ser técnico jogando em um time minúsculo no fim da carreira, conhecendo outras realidades e rodando o mundo para afinar e organizar as ideias. Não foi uma preparação enchendo os bolsos no Catar.

Pep chegava em uma situação muito mais confortável. E o Barça poderia contratar o técnico que quisesse. Guardiola foi uma escolha, não era nada parecido com a situação que traz Xavi ao clube.

Depois de Pep, vários clubes tentaram a fórmula. Ex-ídolo como jogador, mente brilhante, capacidade de liderança, mas sem experiência alguma como técnico. Quantos deram certo? Pois é. O último na lista de fracassos foi Pirlo, na Juventus. Talvez Pirlo vire um grande treinador, mas simplesmente não era o momento.

Nada garante que um craque do passado, por mais inteligente que seja, se transforme no técnico ideal de um gigante clube de massa.

A carreira de Xavi está traçada há muitos anos. Quem viu uma entrevista de Xavi, uminha, e eu presenciei várias, li outras tantas, sabe que ele seria técnico do Barcelona um dia. Ele já era um técnico quando jogava. A questão era quando. Logo no começo da carreira? Depois de uma certa experiência em clubes pequenos, médios, até grandes?

Sinceramente, ter sido treinador do Al Sadd não significa nada. Xavi continua sendo "virgem" para a tarefa que vem pela frente. Ele é brilhante, conhece muito de bola, do clube, de futebol europeu, das competições e dos próprios jogadores que terá em mãos. Pode dar certo, claro que pode. Mas pode dar muito errado, não só esportivamente, mas queimando uma trajetória que lhe colocaria no clube de qualquer maneira no futuro, só que em uma situação mais amigável que a atual.

A diretoria quer um bombeiro ou um cara para desenhar e construir o futuro do Barça, com um grupo jovem e com potencial? O primeiro irá se queimar, o segundo tem mais chances.

Um novo Guardiola ou um novo Pirlo? O tempo vai nos mostrar logo logo.