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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gomes: Dez anos atrás, Barcelusa fazia o torcedor sorrir pela última vez

08/11/2021 20h13

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Há exatos dez anos, no dia 8 de novembro de 2011, o torcedor da Portuguesa teve sua última alegria. Não que torcer pela Portuguesa seja exatamente um festival de conquistas. Mas pelo menos era uma mistura. Vitórias, derrotas, poucos títulos, muitas vitórias marcantes, derrotas enormes. Hoje, 'é um vazio. Apenas um vazio.

Eu vivi aquela Série B de 2011 como se fosse uma turnê de despedida. Assim como 25 anos atrás, naquele triste domingo, saí do Olímpico com a sensação de "nunca mais teremos essa chance", vivi a campanha de dez anos atrás como se fossem os shows derradeiros da minha banda preferida. Melancólico. E realista.

Cada jogo apresentava uma emoção diferente. Um dia, as faixas que estavam de cabeça para baixo foram viradas. No outro, o acesso à Série A estava consumado. No outro, chegava-se ao número mágico do título. Vieram então os match points. E, no dia 8 de novembro, um empate por 2 a 2 com o Sport, com Canindé abarrotado, veio a conquista. A única nacional da história da Portuguesa.

Porque a Lusa foi gigante nos anos 50, um dos três ou quatro grandes times do Brasil, ganhando duas vezes o campeonato mais difícil que havia para ganhar na época (o Rio-São Paulo), cedendo jogadores para a seleção brasileira, excursionando pelo exterior. Mas não havia título nacional para ganhar. O de 2011 era uma segunda divisão. Mas era um campeonato nacional. E foi com estilo! O torcedor ia para o estádio com a certeza da vitória, a dúvida era só de quanto seria.

Em 2011, só um outro time do mundo entrava em campo com a certeza da vitória, jogando bonito e goleando: o Barcelona. Daí, veio o simpático apelido de Barcelusa, adotado pela mídia e que chegou às páginas dos jornais espanhóis, pela reverência ao Barça. A Barcelusa de Ananiesta, que nos deixou, de Xavi Antônio, de LionEdno Messi.

Depois disso, veio o calvário da Série A. Porque a Série A é isso para quem entra só para não cair, uma insuportável maratona de sofrimento e abismo financeiro. Do primeiro corte, a Lusa se salvou. No segundo ano, veio o nefasto tapetão, que rebaixou um time que havia feito por merecer, no campo, se manter na elite - mas não fez por merecer fora do campo.

A vida pós tapetão é marcada por rebaixamentos, tristezas, humilhações e a atual realidade: um time sem série nacional para jogar e que está na segunda divisão estadual, alijado da chance de enfrentar seus rivais da vida toda. Um clube pequeno, enfim, relegado à insignificância. Alguém que tenha, sei lá, 25 anos de idade, não tem nem ideia do que representou a Portuguesa um dia. Até porque está na moda pisar na história, e não lembrá-la e estudá-la.

Naquele dia, tivemos nosso último êxtase. A última alegria. A última noite de plenitude, de um choro gostoso de chorar. Só o torcedor da Portuguesa sabe o que é ter tido um time e não ter mais. Ter vivido os grandes jogos, os grandes campeonatos, ganhando, perdendo, não importa, estando lá, e ter caído em um túnel escuro que não acaba mais.

É um luto de dez anos. Hoje não é dia, no entanto, de pensar em tudo de ruim. É o dia de lembrar do maior time que já se viu em uma Série B do Brasil. De Wéverton (sim, ele mesmo), Luis Ricardo, Rogério, Mateus, Marcelo Cordeiro, Ferdinando, Guilherme, Marco Antônio, Henrique, Ananias, Edno, Jorginho.

Para muitos, 2011 foi o ano da esperança. Para mim, foi o ano da despedida. O ano mais bonito que um torcedor da Portuguesa poderia ter tido.

Os enormes Cristiano Fukuyama e Luiz Nascimento, do www.acervodabola.com.br, os diretores que estão produzindo um maravilhoso documentário atrás do outro e eternizando a história da Associação Portuguesa de Desportos, lançaram hoje o trailler do próximo: "Barcelusa - O Filme". Está aqui.