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Gomes: Seleção de Portugal precisa trocar de treinador com urgência
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Fernando Santos conseguiu o que parecia impossível. Capitaneou Portugal a um título europeu, o maior feito da história do futebol do país. Mas dá para viver disso para sempre?
Ontem, jogando em Lisboa, em casa, pelo empate, Portugal perdeu da Sérvia por 2 a 1 e jogou fora a chance de se classificar para a sexta Copa do Mundo seguida. Terá de jogar uma perigosíssima repescagem no ano que vem, disputada em jogos únicos. Não é nem mata-mata, é só "mata". Duas partidas. Em caso de empate, prorrogação e pênaltis. Como é cabeça de chave, Portugal joga a primeira em casa (o adversário será definido por sorteio, no dia 26 de novembro). Se passar da primeira, a segunda partida pode ser em casa ou fora, vai depender do sorteio.
Portugal não era frequente em Copas no século passado. Foram apenas duas, aquela brilhante de 66, com Eusébio e a chegada à semifinal, e outra em 86. Com a ampliação do número de participantes e, essencialmente, com a geração de Figo, depois de Cristiano Ronaldo e a evolução do futebol português, a seleção das "Quinas" não só passou a aparecer sempre, mas até a constar na lista de favoritos.
Bateu na trave na Euro-2004 e na Copa-2006, com Felipão. E a glória veio em 2016, na Euro. Mas vamos olhar aquela competição na lupa? No tempo normal, só uma vitória, na semi contra País de Gales. Fora isso, foram seis empates, um deles com final feliz nos pênaltis e dois na prorrogação. Não foi exatamente um passeio até o título.
Depois, vieram decepções na Copa de 18 e na Euro de 2021. Essencialmente, Portugal jogou mal as grandes competições. E, se olharmos para o material humano que o treinador tinha e tem em mãos, a decepção é ainda maior. Fica uma constante sensação de "devia estar jogando mais".
Curiosamente, este sentimento vem mais de fora do que de dentro de Portugal. Estive lá por quatro meses no ano passado, por dois meses neste ano, conversei com muita gente que acompanha o futebol de perto. E há uma coisa meio de "seleção pequena" no ar, de satisfação com pouco. Talvez a memória de tantas desclassificações do passado faça com que as pessoas se conformem com estar nos grandes torneios. E o título de 2016 não gerou uma mudança no sentido de "agora não basta participar, tem que entrar para ganhar".
O complexo de pitbull que o brasileiro tem com o futebol é muito contrastante com o espírito de vila-latas português. Um acha que pode tudo, o outro acha que não pode nada.
Fernando Santos teve mérito cinco anos atrás e é um treinador que está na história do país. Mas já deu, ora pois. É um técnico defensivo, conservador, que não sabe o que fazer com o absurdo material humano que tem em mãos. Como uma seleção com Cancelo, Rúben Dias, Bernardo Silva, João Félix, Diogo Jota, Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo e outros jogadores protagonistas das grandes ligas europeias pode apresentar um repertório tão pobre?
E não estou falando só da derrota para a Sérvia - que, por sinal, não foi nada acidental, já que Portugal recuou, especulou com o empate que se arrastava, não agrediu e não defendeu bem a bola aérea, que era a única possibilidade de os sérvios fazerem o gol da vitória. Estou falando da campanha inteira nas eliminatórias, sem brilho algum, e que se soma a uma Euro lamentável, em que Portugal levou pau da Alemanha, sofreu contra a Hungria, sobreviveu contra a França e nunca ameaçou a Bélgica nas oitavas de final.
Dizem que Cristiano Ronaldo gosta muito de Fernando Santos. Jorge Mendes, possivelmente o homem mais poderoso do futebol mundial, agente de CR7 e de quase toda a seleção, também. E talvez isso explique que não haja pressão alguma pela demissão do selecionador. Sendo que Portugal recentemente não revelou só jogadores bons, mas também muitos técnicos de grande qualidade - como Nuno Espírito Santo, que acaba de sair do Tottenham e era técnico do Wolverhampton, clube que praticamente "pertence" a Mendes.
Na capa de "A Bola", jornal esportivo do país que estampou a manchete "Miserável", sobre a noite de ontem, há uma frase de Fernando Santos. "Tenho capacidade para levar Portugal ao Catar".
Até tenho que concordar com ele. Dá para passar pela repescagem. Apesar dele. Mas, se chegar ao Catar com esta Ferrari comandada por um motorista de ônibus, será apenas para fazer figuração.
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