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Gomes: Deyverson pode ser endeusado por gol, nunca glamourizado por papelão
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A ficha está caindo para quem sempre tratou o futebol brasileiro simplesmente como um produto sobre o qual não se pode falar mal. A cultura é nociva. A atitude da maioria de jogadores, técnicos, gandulas, árbitros é ruim. Muito fala-fala, muito cai-cai, muita simulação, muita reclamação, muito autoritarismo. Quem ignorava tudo isso, agora passou a falar. A ficar escandalizado.
Mas agora a luta por uma mudança cultural vai ser mais dura do que deveria. A malandragem foi mais tratada, até hoje, como virtude do que como defeito.
O gol de Maradona com a mão em 86 é visto como a vitória do baixinho esperto e genial. O que Rivaldo fez na Copa de 2002, contra a Turquia, deveria render a expulsão dele da seleção brasileira - mesmo que isso implicasse na perda do título que viria. Jogadores que cavam pênaltis foram por muito tempo tratados como artistas, não como safados. Não sei se o futebol exportou ou importou essa cultura da sociedade brasileira, sei que ela está impregnada.
Deyverson falou ontem sobre o lance em que recebeu uma espécie de empurrão por parte do árbitro argentino Néstor Pitana, na final da Libertadores, e caiu no chão simulando algum tipo de agressão. Uma cena ridícula, patética. Ele falou sobre o tema sem nenhum constrangimento, como se tivesse ocorrido a coisa mais normal do mundo. Sorriso no rosto.
"Foi para ganhar tempo e deixar meus companheiros darem uma respirada. Eu pensei: 'vou dar uma de Deyverson aqui e dar uma caidinha'. Mas achei que tinha sido alguém do Flamengo, não tinha visto que era o árbitro."
Eu dei risada? Sim. É engraçado porque é patético. Mas eu não irei glamourizar o que Deyverson fez. Imaginem se aquele toque tivesse sido dado, de fato, por um atleta do Flamengo. Ele teria ficado rolando no chão, teria havido empurra-empurra e sabe-se para onde o tumulto se encaminharia. Tudo devido a uma simulação para "ganhar tempo".
A regra número um de qualquer esporte é ter esportividade. É preciso respeitar o adversário, a autoridade em campo e o público que paga para assistir à partida - paga para ir ao estádio ou para ver na TV. Ludibriar, mentir, enganar em nome de uma vantagem esportiva são das coisas mais rasteiras que um atleta pode fazer.
Não foi a primeira vez que Deyverson tomou uma atitude antiética e antidesportiva no terreno de jogo. Muita gente passa pano, entende que "faz parte" do jogo e que o "maluquinho" Deyvinho "diverte" as pessoas. Não veem maldade. Não enxergam o mal que isso faz.
Se faz parte, eu gostaria que não fizesse. Muitas camadas da sociedade espelham no dia a dia aquilo que veem no campo de jogo, então não acho benéfico ver simulações ou atitudes negativas, violentas, agressivas. O que queremos? Eternizar a malandragem, o jeitinho brasileiro, a "lei de Gérson"?
Deyverson entrou para a história do Palmeiras e do futebol sul-americano pelo gol que fez em Montevidéu. Que seja endeusado, tenha seu nome cantado, que ganhe uma estátua. Mas, glamourizar a sacanagem, isso é algo que nunca farei.
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