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Gomes: Ano épico e título de Verstappen lembram outras 'tomadas de poder'
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Lewis Hamilton não pode reclamar que não teve sorte ao longo da carreira. Teve em 2008 em Interlagos, quando conquistou o primeiro título. Teve em outros momentos, mesmo em 2021. Mas neste domingo, em Abu Dhabi, a sorte sorriu para Max Verstappen, o novo campeão mundial da Fórmula 1.
Um título inevitável, que viria uma hora ou outra, porque Verstappen é um desses gênios que aparecem no esporte de quando em quando. É claro que o título em um campeonato como este não pode ser resumido à "sorte", mas ela, de fato, compareceu em Yas Marina. A corrida estava ganha para Hamilton, e o Safety Car a seis voltas do final acabou sendo decisivo.
Lewis Hamilton é o maior esportista dos nossos tempos, por tudo o que representa e as mensagens que faz chegar. Os valores. Isso ficou provado também pela atitude serena e cheia de esportividade ao final da corrida.
Uma corrida que passou uma imagem de possível transição. De passagem de bastão. É claro que Lewis estará aí ano que vem e não dará moleza para Verstappen desde o dia 1 dos primeiros testes para 2022. Mas está claro que Max veio para ficar. Ele é o grande expoente de uma geração muito talentosa e que garante o futuro da Fórmula 1.
De tempos em tempos, gênios dominadores do esporte acabam sendo superados. São várias as razões. Idade, motivação, ter algo a perder, às vezes, até, trajetórias são interrompidas por tragédias.
A temporada de 2021 talvez tenha sido, afinal, a concretização daquela de 1994, a que não pudemos ver, com 27 anos de atraso. A temporada de Schumacher x Senna, em que o bastão estava sendo passado de um gênio para outro. Nunca saberemos o que teria acontecido ao final do campeonato, não fosse o acidente de Ímola.
Outra temporada que marcou a passagem de bastão foi a de 2006. O fim da era Schumacher, o bicampeonato de Alonso - que acabou não ganhando mais Mundiais porque fez várias escolhas equivocadas na carreira. Quer queira quer não, o ano seguinte, o de 2007, o da estreia de Hamilton na F-1, já nos mostrava que o rei da vez seria rapidamente posto.
De Senna a Schumacher, de Schumacher a Alonso, de Alonso a Hamilton, de Hamilton a Verstappen. O esporte é feito de ciclos. As passagens podem não ser perfeitas e quase nunca são suaves. Quem chega, vem com tudo. Quem vai, resiste ao máximo. Há, invariavelmente, o que chamamos de "choque de gerações".
A temporada 2021 foi uma das melhores da história da categoria. É sempre um espetáculo quando dois pilotos de equipes diferentes brigam pelas vitórias e disputam o título ponto a ponto. Melhor ainda quando são gerações diferentes.
Sinto muito por quem tenha resumido sua "paixão" pela Fórmula 1 a anos em que brasileiros competiam pelo título. Sim, há anos de marasmo, em que há um carro muito melhor que os outros e um piloto muito melhor que o outro dirigindo o mesmo carro. Foi assim nas últimas temporadas, com o domínio total de Hamilton-Mercedes. Mas houve muitas temporadas de batalhas históricas e esta, de 2021, entra para o livro de ouro.
Ajudou também, aqui no Brasil, termos a troca de emissora passando a F-1. A Band tratou o esporte de uma maneira mais próxima de como se faz em outros lugares do mundo. E ajudou demais o "Drive to Survive", da Netflix, que aproximou as pessoas de como funciona a F-1 por dentro. Já estamos todos ansiosos pelos episódios que contarão a temporada sob a ótica de quem está dentro.
Rei posto, rei longe de estar morto. Hamilton voltará. Não sobra muito tempo para ele, mas sobra talento. O novo príncipe da categoria ainda tem muitas coisas para fazer e, quando Lewis não for mais o principal adversário, não faltarão postulantes para tomar a coroa. E, lá na frente, Max também será um veterano e acabará superado por algum rapaz que viu a corrida de Yas Marina pela TV e que na última noite trilhou, em seus sonhos, o caminho do sucesso. Assim são os ciclos da vida.
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