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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gomes: Quem vai acreditar que o Flamengo prefere mesmo Paulo Sousa a Jesus?

Jorge Jesus na época de Flamengo - Alexandre Vidal/Flamengo
Jorge Jesus na época de Flamengo Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

29/12/2021 10h32

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O Flamengo vai tentar convencer todo mundo de que prefere Paulo Sousa a Jorge Jesus, na apresentação de seu novo técnico. A mim, não convencerá.

Jesus é o nome preferido de nove entre dez flamenguistas, para não dizer dez de dez. É o único nome para pacificar o ambiente após uma temporada de 2021 bastante ruim - para as pretensões e o orçamento do clube. É claro que vitórias também pacificam ambientes. Vitórias não têm nome, vitórias são vitórias. Se Paulo Sousa trouxer vitórias, títulos e conseguir construir identificação, as coisas mudam. Rogério Ceni conseguiu as duas primeiras coisas, mas não a terceira. Jesus conseguiu as três.

Eu sempre defendi que o Flamengo esperasse com um interino até junho do ano que vem, quando era claro que Jesus sairia do Benfica. Até lá, não há muito o que jogar, convenhamos. Um Estadual, que nada importa, e uma fase de grupos de Libertadores em que não haverá problema algum para passar.

Jesus já poderia pensar no elenco e ajudar o clube nos bastidores neste período. Em junho, assumiria. E, se acontecesse de sair antes do Benfica, assumiria imediatamente. Já poderia estar sendo apresentado hoje.

Mas não. O Flamengo foi a Portugal fingir que poderia trazer Jesus de volta - porque sabia, ou imaginava, que ele não sairia do Benfica. Era apenas uma resposta aos gritos fortes de "mister, mister" vindos das arquibancadas. Sem contar a histeria das redes sociais. A diretoria sabia que só um nome seria plenamente aceito e precisava simular a tentativa de atender a este pedido da nação.

Paralelamente, sondou, através de emissários, alguns nomes por lá. Percebeu que Carlos Carvalhal, de novo, preferia o Braga. Ouviu um "não" de Paulo Fonseca e Rui Faria, ex-auxiliar de Mourinho, ambos interessados em ficar no mercado europeu. E sobrou Paulo Sousa, que pelo jeito tinha empresários ativamente trabalhando para que ele saísse da seleção polonesa - mesmo a poucos meses de dois jogos decisivos que podem colocar ou tirar a Polônia da próxima Copa do Mundo.

Depois de ter assinado o acordo com Sousa, o Flamengo viu o Benfica demitir Jesus. E vai tentar vender a história de que saboreou uma espécie de vingança, pois Jesus, que não quis deixar o Benfica por conta própria, acabou sendo deixado pelo clube encarnado. Se é que houve alguma parte com pensamentos maquiavélicos, o que duvido, esta parte foi o Benfica. Que demitiu Jesus sem precisar pagar a multa e ainda, pelo timing da coisa, impediu que ele voltasse ao Flamengo.

Se o clube carioca não tivesse assinado com Paulo Sousa, certamente voltaria atrás na negociação e iria novamente atrás de um acordo com o mister.

Imaginem se o Atlético Mineiro, que perdeu Cuca de forma abrupta e inesperada, consegue acertar com Jesus? Seria um terremoto nas redes sociais e a crítica à diretoria do Flamengo, por não ter esperado o amado mister, será fortíssima. E com razão.

Quem vai pagar o pato da situação toda? Paulo Sousa, está na cara. Que já chega "demitido". E agora terá de fazer um grande trabalho para que torcida e crítica esqueçam de tudo o que aconteceu. Um grande trabalho que, convenhamos, não fez até agora na carreira.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL