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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em meio a golpe militar, 'garanhões' sonham com final da Copa Africana

Dango Ouattara, atacante de 19 anos de Burkina Faso, comemora gol marcado contra a Tunísia - Reprodução/Instagram
Dango Ouattara, atacante de 19 anos de Burkina Faso, comemora gol marcado contra a Tunísia Imagem: Reprodução/Instagram

02/02/2022 04h00

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Nas semifinais da Copa Africana de Nações, três das classificadas não surpreendem ninguém: Camarões, país tradicional e anfitrião, o Egito, de Salah, e Senegal, de Mané. O quarto elemento é a zebra sobrevivente de um torneio que teve várias zebras, como sempre: Burkina Faso.

Assim como todas as seleções do continente, Burkina Faso tem um apelido: são os "garanhões". E a tentativa de chegar à final continental pela segunda vez (a outra foi em 2013) acontece enquanto o país, a aproximadamente 2500 km dali, passa por um golpe militar.

Dez dias atrás, enquanto o time avançava nos pênaltis contra Gabão, nas oitavas de final, o presidente democraticamente eleito, Roch Kaboré, era deposto. O golpe foi provocado pelo descontentamento das forças de segurança com a suposta incapacidade de Kaboré de apoiá-las contra militantes ligados à Al-Qaeda a ao Estado Islâmico. O país vive sob constante ameaça de terrorismo islâmico e não consegue controlar a fronteira com Mali - o vizinho onde estariam abrigados os radicais.

No sábado, após a surpreendente vitória sobre a Tunísia, pelas quartas de final, milhares de pessoas foram às ruas da capital, Ouagadougou, para comemorar. O toque de recolher foi substituído por festa. "Até os soldados estavam festejando", segundo relatos locais.

"Quero dedicar a vitória ao nosso povo, que está sendo testado pelos eventos recentes", disse um emocionado Kamou Malo, o técnico, após o jogo. "Nosso povo sempre se mantém de pé, assim como nosso time". Antes do confronto, o elenco havia recebido uma chamada telefônica do novo líder militar do país, o tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba, para oferecer apoio e "palavras encorajadoras".

O grande nome da seleção de Burkina Fase é o atacante Bertrand Traoré, de 26 anos, que participou das campanhas surpreendentes de 2013 (final) e 2017 (semifinal) na Copa Africana. Jogador formado na base do Chelsea, destacou-se no Lyon e hoje atua pelo Aston Villa, na Premier League.

O jovem Ouattara, do Lorient francês, autor do heróico gol contra a Tunísia, foi expulso no final daquela partida e será o grande desfalque no jogo contra Senegal, às 16h (de Brasília).

A seleção senegalesa nunca foi campeã da Copa Africana, mas chegou ao torneio como a grande favorita ao lado da Argélia, a atual campeã. A Argélia decepcionou e foi eliminada na primeira fase. Senegal, apesar de tantos jogadores em clubes grandes das ligas europeias, não mostrou um grande futebol até agora - mas chegou.

Na primeira fase, a campanha teve uma vitória sobre Zimbábue (1 a 0, com pênalti nos acréscimos) e dois empates sem gols contra Guiné e Malawi. Nas oitavas e quartas, Senegal fez valer o favoritismo contra Cabo Verde (2 a 0) e Guiné Equatorial (3 a 1). Liderada em campo por Mané, do Liverpool, a seleção é comandada do banco por Aliou Cissé, um ex-jogador histórico.

Em 2002, Cissé fazia parte da seleção senegalesa que chegou pela primeira vez à final da Copa Africana (perdeu de Camarões nos pênaltis) e que foi uma das únicas três seleções do continente a atingir as quartas de final de uma Copa do Mundo na história. Agora como técnico, Cissé voltou a levar Senegal a uma final continental (derrota para a Argélia em 2019) e tem tudo para repetir o feito.

Mas os "Leões de Taranga" precisam passar antes pelos garanhões de Burkina Faso.