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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Demissão de Sylvinho escancara amadorismo e um Corinthians refém da torcida

03/02/2022 02h02

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Durante dez anos, o torcedor do Corinthians não quis saber muito dessa história de desempenho. Era o orgulho do 1 a 0 jogando feio, bradavam alguns. Nunca foi negada a importância do resultado, é a realidade de todo mundo, diga-se, mas no caso do Corinthians era realidade, slogan, um modo de vida, quase. Ganhou um Brasileirão (2017) jogando de forma deprimente, mas satisfeito com o resultado em detrimento do jogo.

Agora, de repente, o que importa é "desempenho"? "Evolução"? "Bom futebol"? Vem cá, que resultado mesmo Sylvinho não conseguiu em 2021? Será que Sylvinho foi mesmo mandado embora pela atuação como técnico ou porque fala bem, tenta elevar o nível do debate e usa roupa social? É sempre assim. Quem estuda e se prepara no Brasil é ridicularizado, ironizado. Gostamos mesmo é do "vamoporrismo" e do populismo barato.

O torcedor tem direito de se manifestar como quiser, mas sinto muito por ver tanta gente falando em "elevar o nível do debate do futebol brasileiro" e sucumbir emocionalmente na primeira oportunidade.

Não vou nem defender as decisões técnicas de Sylvinho. Acho o trabalho de qualquer um criticável, principalmente quando observado de perto (coisa que não é exatamente possível no momento, por parte de quem não vive dentro do clube). Meu ponto é que o cara não pode ser bom em dezembro, ruim em fevereiro, depois de três jogos de pré-temporada no Paulistão.

A demissão escancara que a torcida manda no clube. A Gaviões gritou, com o coro dos microfones, e os dirigentes sucumbiram em cinco minutos. Andrés, com os mil defeitos que tem, talvez tenha sido o único a mostrar pulso, naquele famoso 2011 após o "Tolimaço". Duílio Monteiro Alves mostra-se, apesar da embalagem e discurso diferentes, apenas mais do mesmo. Comprar briga? Convicções? Deixa pra lá...

As torcidas são a alma de um clube de futebol. Mas não são o motor. E nem o cérebro. Clubes são empresas enormes, que movimentam milhões, e precisam ser geridos com frieza e profissionalismo. Que tipo de gestão é essa, que segura o treinador (que já era pressionado) em dezembro, renova contrato, entrega o planejamento do ano e, após três jogos de pré-temporada (estaduais) volta atrás e demite o cara?

Mandar Sylvinho embora em dezembro era aceitável. Apesar de ele ter cumprido todos os objetivos, diga-se, nem sempre de objetivos cumpridos é feita uma relação como essa. Há muitas coisas a serem observadas. Mas trocar o comando agora? E contra a vontade dos jogadores, ainda por cima.

É uma pena que a roda do futebol brasileiro continue girando desta maneira. Triturando profissionais sérios e navegando entre o amadorismo e o medo das organizações de arquibancada.