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Técnico que põe Canadá no mapa passou pelo Brasil e brilhou no feminino
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Canadá, o país do hóquei sobre o gelo. Canadá, o país do futebol. A primeira frase é eterna. A segunda poderia parecer um devaneio para algum desavisado. Não mais.
O país é conhecido por muitas coisas, possivelmente um dos melhores do planeta para se viver, mas nunca por qualquer tipo de conexão com o futebol. Tudo mudou com a chegada de um certo professor chamado John Herdman, em 2011, um pouquinho mais de dez anos atrás. De pequeno nele, só a estatura: 1,65 m. Este inglês de 46 anos mudou completamente a história do esporte no país - e o conto de fadas está longe de acabar.
Herdman chegou para assumir o comando técnico da seleção feminina de futebol do Canadá, que havia feito uma má Copa do Mundo (três derrotas em três jogos) e seria a sede da seguinte, em 2015. Era preciso chacoalhar as coisas. Rapidamente, o inglês mudou a história da equipe. Em 2011, medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Já no ano seguinte, na Olimpíada de Londres, veio a inédita medalha de bronze.
Na Copa de 2015, o Canadá fez uma campanha digna diante de seu público e chegou às quartas de final, sendo eliminado pela favorita Inglaterra. No ano seguinte, no Rio, veio uma nova medalha de bronze. A campanha era perfeita até uma doída derrota para a Alemanha (que seria ouro) nas semifinais. Na disputa do bronze, o Canadá frustrou a seleção brasileira.
Foi um trabalho bom o suficiente para a federação considerar que Herdman era o homem certo para melhorar também a seleção masculina, uma vez definido que o país seria uma das três sedes da Copa do Mundo de 2026 (junto com Estados Unidos e México). A missão era melhorar a seleção para evitar uma campanha ridícula em casa. Mas Herdman, que assumiu o cargo de diretor de todas as seleções a partir da sub-15, chegou prometendo algo diferente: a vaga já na Copa de 2022, no Catar, levando o Canadá a um Mundial pela primeira vez desde 1986.
Não é só que o Canadá não estava se classificando para Copas. É que não passava nem perto. Nas eliminatórias para 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018, o Canadá não havia sequer jogado o hexagonal final da Concacaf. Herdman assumiu o masculino em janeiro de 2018. Hoje, quatro anos depois, o Canadá lidera com folga o octogonal da Concacaf e precisa só de mais um ponto para garantir matematicamente a vaga no Catar.
No mínimo, já está garantido na repescagem - o quarto da Concacaf jogará contra o classificado da Oceania. Mas a vaga direta é só questão de tempo. Na caminhada, o Canadá venceu uma e empatou outra contra os EUA, o vizinho "malvadão". Antes, logo no início do trabalho de Herdman, o Canadá havia vencido uma partida contra os norte-americanos após três décadas de seca.
Em tempo: enquanto o masculino está bem pertinho de mudar a história de fracassos nas eliminatórias, o futebol feminino do Canadá conseguiu a inédita medalha de ouro olímpica no ano passado, em Tóquio - óbvia herança do trabalho do inglês.
"Eu acho que ele tem um discurso motivacional para cada minuto do dia", brinca um de seus jogadores, o atacante Lucas Cavallini. De fato, esta apresentação de Herdman no TED em 2015 mostra bem a faceta do treinador. O mote dele é "seja bom". Seja uma boa pessoa no que faz, no dia a dia, no trabalho, em casa, com os filhos, colegas.
Herdman cresceu no norte da Inglaterra, perto de Newcastle, filho de trabalhadores da indústria de aço local. Tentou jogar bola, mas, já aos 16, começou a fazer cursos para treinar futebol. Veio ao Brasil aprender sobre métodos de treinamento daqui e abriu uma escolinha na volta à Inglaterra. Logo chamou a atenção do Sunderland e foi contratado para trabalhar na base do clube - nunca deixou de estudar a ciência do esporte. Quando um professor da universidade mudou-se para a Nova Zelândia, em 2001, chamou Herdman para assumiu um cargo de diretor regional, era a chance de construir um trabalho de desenvolvimento com a própria impressão digital.
Com muito trabalho duro, ele acabou ganhando a chance de assumir a seleção feminina sub-20 da Nova Zelândia e, na sequência, pegou a principal, classificando o país para as Copas de 2007 e 2011. Veio, então, o convite do Canadá.
"Desde o primeiro dia, ele está focado em mudar a identidade do futebol canadense", fala o zagueiro Kamal Miller. "Ele sabe o que faz, tem uma estratégia diferente para cada jogo", acrescenta o atacante Jonathan David, do Lille, uma das estrelas da seleção. Com apenas 22 anos, nascido em Nova York, filho de haitianos, David já começa a ser especulado por grandes da Europa e, ao lado do nome, aparecem números enormes de uma possível transação.
"David é um jogador top na Europa e vem aqui nestes ambientes de eliminatórias fazer trabalho sujo. Eu tiro meu chapéu para ele", elogiou o técnico Herdman, recentemente.
A outra estrela, lógico, é Alphonso Davies, que o Bayern de Munique foi buscar fora do mercado europeu, no Vancouver Whitecaps. Davies tem uma linda história de vida, os pais chegaram ao Canadá depois de fugirem da guerra na Libéria e passarem por um campo de refugiados em Gana. Davies chegou ao Canadá com 5 anos, enquanto David foi do Haiti a Ottawa com 6.
O Canadá ainda aposta na explosão de Tajon Buchanan, que acaba de chegar ao Brugge, da Bélgica, proveniente do New England Revolution. O ponta explosivo, que fará 23 anos nos próximos dias, foi o grande nome canadense na Copa Ouro, ano passado. O Canadá caiu na semifinal para o México com um gol aos 54min do segundo tempo.
Além de ter três times na MLS, o Canadá tem também uma Premier League local com oito clubes e que vem ganhando interesse e corpo. Some isso ao ouro olímpico feminino, às estrelas emergentes e um técnico brilhante e está dada a fórmula do sucesso.
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