Topo

Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Técnico do Al Ahly precisa ler alguns livros sobre a história do futebol

06/02/2022 10h38

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

As declarações do técnico do Al Ahly, Pitso Mosimane, deram o que falar. Ele diz não entender por que os representantes da América do Sul têm o benefício de entrar como cabeças de chave no Mundial de Clubes da Fifa. O formato atual deve estar sendo jogado pela última vez, a Fifa quer emplacar um Mundial a cada quatro anos, em anos ímpares em que não houver Copa de seleções, e com a presença de 24 clubes - 12 europeus. O que faz a discussão um pouco inútil.

Mas acho que seria o caso de apresentar alguns livros de história do futebol para Mosimane, não é mesmo?

Afinal, todas as Copas do Mundo foram vencidas por europeus ou sul-americanos. E o mesmo serve para o Mundial de Clubes, que substituiu a Copa Intercontinental. Uma Copa que tinha razão de ser para ser chamada de Mundial, afinal, o futebol de alto nível sempre esteve nestes dois continentes.

Mosimane argumenta que nem sempre os sul-americanos vencem a semifinal, o que prova que não são superiores e, portanto, merecedores do benefício de jogar uma fase a menos. Será que ele acha o mesmo sobre o fato de o representante da Oceania entrar numa fase anterior à dos africanos, asiáticos e centro-norte-americanos? Ou aí ele não vê problema?

Até hoje, no formato atual do Mundial, foram três títulos sul-americanos em 16 edições. E outras duas vezes o jogo foi parar na prorrogação. Nunca um time de outro continente bateu um europeu. Os africanos, para falar da região do Ah Ahly, ganharam 5 e perderam 11 confrontos eliminatórios que disputaram - estamos falando de jogos contra times da Ásia, Oceania e Concacaf.

Portanto, o que fizeram mesmo os times africanos para argumentar que estão em um mesmo nível dos representantes da Conmebol?

É verdade que os sul-americanos perderam quatro das últimas oito semifinais, mas não está evidente que há um outro continente capaz de rivalizar de forma consistente. Três destas derrotas foram para o representante local do torneio - um africano, o Raja Casablanca em 2013, e dois asiáticos, o Kashima Antlers, em 2016, e o Al Ain em 2018. Times que jogaram literalmente em casa.

Só duas vezes o campeão de outro continente ganhou do campeão sul-americano - no ano passado, quando o Tigres, do México, derrotou um Palmeiras arrebentado pelo calendário brasileiro e a emenda de temporadas 20/21, e o Mazembe, do Congo, que proporcionou a primeira grande zebra ao ganhar do Inter, em 2010.

As seleções africanas nunca passaram das quartas de final de Copa do Mundo. Sim, há cada vez mais jogadores africanos relevantes e a final continental hoje, entre Egito e Senegal (Salah x Mané) evidencia isso. Mas uma final entre Egito e Senegal ainda não é a mesma coisa que uma final continental entre Brasil e Argentina, não é mesmo? Existe uma razão para a América do Sul, com 10 representantes, ter 4,5 vagas na Copa, enquanto a África, com 54 países, tem 5 vagas. Esta razão se chama história.

O futebol está mais global, mais equilibrado e o abismo financeiro entre Europa e o resto não existe nas outras camadas. O que não quer dizer que a gente deva simplesmente zerar tudo e esquecer as construções do passado.