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E se nem Palmeiras nem Chelsea chegarem à final do Mundial de Clubes?
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Estão definidos os adversários de Palmeiras e Chelsea nas semifinais do Mundial de Clubes da Fifa. O Palmeiras enfrenta amanhã o Al Ahly, do Egito, campeão da África. O Chelsea pega na quarta-feira o Al Hilal, da Arábia Saudita, campeão da Ásia.
Desde a criação do Mundial de Clubes neste formato, no início do século, sempre esperamos a final entre europeu e sul-americano. É o normal. Mas temos visto com alguma constância (na base do uma sim, uma não) o sul-americano ser eliminado em sua semifinal.
Muitos interpretam como uma não-superioridade. O nível do futebol da Libertadores é o mesmo da Champions africana ou asiática? Não, não é. É superior. Sim, há equilíbrio em um futebol globalizado, em que todos veem todos e times viraram multinacionais. Ainda há um melhor que o outro, no entanto.
Para mim, o segredo dos recentes fracassos sul-americanos mora muito mais na pressão. Chegam ao Mundial com o medo do fracasso e jogam contra times de outros continentes com a imensa responsabilidade da vitória. Isso atrapalha bastante, além de encararem adversários fechadinhos, que sabem da pressão do outro lado. No caso dos brasileiros, ainda tem o nefasto calendário, que foi uma barreira para, por exemplo, o Palmeiras no ano passado.
Os europeus não chegam pressionados? Não. Não dão muita bola para o Mundial na Europa, então o peso não atrapalha. O outro lado da moeda é que não fazem a preparação ideal. Eles ganham quase todas, mas já teve sofrimento aí no caminho que teimamos em nos esquecer.
O Bayern, ano passado, ganhou do Tigres com um gol ilegal. O Liverpool precisou de prorrogação para bater o Flamengo. Kashima e Al Jazira já deram calores recentes ao Real Madrid. Só para lembrar de alguns.
Uma hora, um europeu vai perder na semifinal. Porque futebol é futebol. Há equilíbrio, não é a coisa mais difícil do mundo armar uma retranca, uma bola que entra, uma que sai, já estamos há muito tempo sem que esta zebra apareça.
Será que chegou a hora? O Chelsea nem técnico terá na quarta-feira e, possivelmente, em todo o torneio. Thomas Tuchel testou positivo para covid e vai ser difícil encaixar testes negativos e voo a tempo para Abu Dhabi. Na melhor das hipóteses, ele conseguiria chegar lá no sábado, dia da final e disputa de terceiro lugar. Certamente não foi o melhor trabalho de preparação e que fica comprometido pela ausência do líder.
O Al Hilal, que enfrenta o Chelsea na quarta, mostrou na goleada sobre o Al Jazira, ontem, bastante talento do meio para frente e pouca pegada - seja no ataque, para fazer pressão e roubar a bola, seja na fase defensiva. Ganhar do Chelsea passa pelo fluxo do jogo e, claro, sorte. Um 0 a 0 que se arrasta, achar um gol, jogar no contra ataque, enfim. Mas não é impossível.
No meio de campo, o Al Hilal tem Cuellár (aquele do Flamengo) e um volante chamado Kanno, de 1,92m, da seleção da Arábia Saudita - que vai se classificar para a Copa. Fiquei impressionado com ele contra o Al Jazira, jogador alto, estiloso, rápido, de bom trato com a bola e chegada na área.
Na frente, pela esquerda joga outro ídolo da seleção saudita: Salem Al Dawsari, muito talentoso. O armador é o brasileiro Matheus Pereira, que foi formado em Portugal e jogou muita bola no West Brom, da Premier League, na temporada passada. Ele poderia ter ficado em qualquer time da Premier League, mas resolveu, aos 25 anos, assinar o contrato da vida e garantir o futuro de umas três gerações. É um jogador de nível bastante alto. Pela direita, joga Marega, que foi do Porto. Na frente, o nigeriano Ighalo, que chegou a passar pelo Manchester United há dois anos.
Botem essa turma toda aí com a camisa do Brighton & Hove Albion e ninguém cairia da cadeira em caso de empate com o Chelsea - como acabou de ocorrer pela Premier League. Não é absurdo pensar em um empate do Al Hilal ou até mesmo uma vitória na quarta-feira.
E sobre Palmeiras x Al Ahly nem é preciso falar muito. No ano passado, se enfrentaram e empataram. Como já dissemos, os sul-americanos têm sofrido, pelo equilíbrio e pela pressão. O Al Ahly é um gigante do Egito, terá mais torcida no estádio e os reforços dos caras que jogaram a final da Copa Africana ontem - são cinco, ainda que só dois, por não terem tido muitos minutos no torneio, devem estar loucos para jogar. Os outros três chegarão desgastados.
O Al Ahly vai armar uma retranca que é desagradável para o Palmeiras, o estilo não é o melhor possível. O Palmeiras é favorito, sem dúvida, mas não há garantia alguma de vitória.
Seria melhor para o Chelsea pegar o Al Ahly e seria melhor para o Palmeiras enfrentar o Al Hilal. Os encaixes das semifinais desta semana são piores para os favoritos. Imaginem só, um Chelsea x Palmeiras decidindo o terceiro lugar? Não é impossível.
Ao longo da história do esporte, alguns momentos de resultados surpreendentes marcaram mudanças. Quando o Cruzeiro ganhou a Taça Brasil, ficou claro que era necessário criar um Campeonato Brasileiro. O Rio-São Paulo foi ampliado, virou o Robertão, que, em 1971, virou o Brasileiro. Quando os EUA começaram a levar pau no basquete (Pan de 87, Olimpíada de 88, Mundial de 90), foi necessário mudar as regras e permitir a participação de jogadores da NBA.
A Fifa já quer tanto mudar mesmo o Mundial, ampliá-lo, transformá-lo em algo mais interessante para as forças europeias. De repente, uma zebra e uma final surpreendente não viram o grande catalisador da mudança.
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