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Ocidente decide excluir Rússia do esporte mundial. Justo ou hipócrita?
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Primeiro, a Polônia anunciou que não jogaria na Rússia a partida de março, pelas eliminatórias europeias da Copa do Mundo de 2022. Depois, República Tcheca e Suécia embarcaram (o vencedor de um jogo enfrenta o vencedor do outro pela vaga). Horas depois, a Polônia disse que não jogaria com a Rússia em lugar algum. Tchecos e suecos falaram o mesmo. A Uefa, hoje, excluiu o Spartak Moscou da Liga Europa. E o COI pediu a exclusão dos atletas russos de todas as competições internacionais - de qualquer modalidade.
Não entrarei em debate sobre as razões de qualquer um. A guerra é inaceitável, qualquer guerra. Nunca é justificável. Mas é explicável.
Que ótimo seria se sempre que uma nação agredisse a outra houvesse uma reação dessas proporções. Não apenas frases soltas, mas uma ação global coordenada para parar guerras, agressões e mortes. Mas aí eu deixo a pergunta provocativa no ar: Por que algumas guerras são aceitas e outros não?
Desde 2015, uma coalizão formada por Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos intervém na Guerra Civil travada no Yemen. Morrem civis, é uma tragédia todo os dias. Mas, neste caso, o Ocidente fecha os olhos. Ninguém pede a exclusão da Arábia Saudita da Copa do Mundo e das Olimpíadas. A Fifa realizou seu Mundial de Clubes outro dia em Abu Dhabi.
E sobre os Estados Unidos, então, o que dizer? Quantas invasões vimos desde o fim da Guerra Fria? (só para usar uma "data de corte"). E quantos regimes (autoritários ou não) são patrocinados pela maior potência militar e econômica do mundo? Outro dia, em 2021, em plena pandemia, houve bombardeio na Somália. Com a desculpa de atacar tropas jihadistas ("terroristas").
Algum país se recusou a enfrentar os Estados Unidos em algum esporte nos últimos anos? Ou a Fifa ou o COI ameaçaram exclui-los de alguma competição?
Aliás, Israel, que vira e mexe responde a pedradas de estilingues com mísseis em Gaza, não só não é excluído de nada como faz parte da Uefa. A mesma Uefa que excluiu o Spartak Moscou de uma competição hoje. Alguma nação ocidental boicota Israel? Quem sim, boicote Israel e nem mesmo reconhece sua existência, são algumas nações do Oriente Médio. Mas estas, por sua vez, não são excluídas de nada - alguns dos países que não reconhecem Israel são poderosos parceiros comerciais do Ocidente.
É como se houvesse povos mais ou menos importantes no planeta. Povos que merecem ser defendidos a todo custo e povos que não. Povos que se transformarão em refugiados "aqui do lado" e povos que precisam cruzar oceanos para tentar buscar uma vida longe da guerra. Como se existissem bons e maus. Heróis e vilões.
O fato é que o mundo é muito complexo, as relações geopolíticas também e os componentes históricos não são exatamente irrelevantes. Raramente é preto no branco. Aliás, Polônia, República Tcheca e Suécia, os três países que se recusaram a jogar contra a Rússia por vaga na Copa do Mundo, tiveram problemas históricos (e até guerra) com os russos (e soviéticos). Não é uma questão "só" de futebol ou "só" da invasão à Ucrânia.
Aliás, em 2018 a Rússia, de Putin, já havia invadido a Geórgia e anexado a Crimeia. Já ajudava separatistas no leste ucraniano. O que não impediu a Fifa de ganhar bastante dinheiro com uma Copa do Mundo por lá.
Parece que, para o mundo desenvolvido do Atlântico Norte, só algumas guerras são "aceitáveis". Outras, não. Algumas invasões são aceitáveis, outras não. Alguns embargos econômicos são aceitáveis, enquanto outros nunca serão realizados - mesmo quando ditaduras de diferentes cortes ideológicos estão impregnadas mundo afora.
Será que excluir a Rússia totalmente do mundo esportivo é justo? Ou hipócrita? Ou as duas coisas? Eu gosto do boicote como arma para tentar parar a guerra. Eu gosto da ideia de considerar nações bélicas como párias mundiais. O que não gosto é da incoerência.
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