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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Liga das Nações mostra que nenhuma seleção europeia assusta na Copa

Harry Kane, da Inglaterra, em jogo contra a Hungria pela Liga das Nações -  Michael Regan - The FA/The FA via Getty Images
Harry Kane, da Inglaterra, em jogo contra a Hungria pela Liga das Nações Imagem: Michael Regan - The FA/The FA via Getty Images

16/06/2022 12h54

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A primeira quinzena de junho foi marcada por quatro rodadas da Liga das Nações, a Uefa Nations League, que coloca frente a frente seleções europeias dos mais variados níveis e relega aos outros países jogos entre eles, sem mistura. É claro que a Nations precisa ser relativizada: fim de temporada, jogadores cansados, times modificados, nenhuma obrigação de vitória. Mas o fato é que era o único grande período de treinamento e jogos que as seleções tinham antes da Copa do Mundo. E nenhuma seleção europeia mostrou-se digna de ser considerada favorita no Catar.

França e Inglaterra não venceram um jogo sequer. Portugal segue a mesma rotina: grandes jogadores, técnico limitado. A Alemanha, após uma longa série de empates, goleou a Itália - mas era a Itália reserva. A Espanha talvez seja quem jogue melhor, mas vai sentir falta de um homem-gol. Bélgica e Croácia, forças do continente nos últimos ciclos, estão envelhecendo e perdendo coadjuvantes que possam ajudar os protagonistas. A Dinamarca parece mais perigosa do que as duas.

Qual delas pode evitar o hexacampeonato do Brasil? (aliás, convido a todos a assistirem a este vídeo sobre o tema no Futebol Sem Fronteiras e também conhecerem a visão europeia sobre a seleção de Tite).

Todas podem evitar o hexa do Brasil. Qualquer das seleções citadas e mais algumas - como Holanda, Argentina, Uruguai - podem ganhar da seleção de Tite em jogo único. Mas alguma delas entraria em campo como favorita? Não, nenhuma. Alguém pode argumentar que ninguém entra como favorito contra o Brasil, pelo simples fato de ser o Brasil, a seleção mais vitoriosa da história do futebol. Mas não é disso que estou falando. Estou falando de bola mesmo.

Ninguém, hoje, joga mais do que o Brasil. A seleção brasileira está longe de ser imbatível e creio que já era hora de o torcedor compreender que o futebol global é equilibrado e dinâmico. Logo logo alguma seleção considerada "sem expressão" ganhará a Copa - a Croácia já bateu na trave quatro anos atrás. Dito isso, nenhuma seleção europeia mostra-se mais forte do que a de Tite.

A França é um caso bem interessante. Convencionou-se dizer que ela estava sozinha na primeira prateleira e cabe às outras encontrar o modo de vencê-la. A Nations League mostrou uma França confusa. Tem Mbappé e Benzema à frente? Tem, sim senhor. Mas quem joga por eles e para eles? Falei um pouco dos problemas franceses nesta postagem aqui no UOL Esporte. Hoje, muitos passaram a tratar a França como candidata a fracasso na Copa, como em 2002, e não mais favorita. Também acho exagero ir por este lado.

A França pode ganhar de qualquer um, como pode perder de qualquer um. Lembremos que quase caiu nas oitavas da última Copa, diante de uma Argentina em frangalhos. São jogos únicos! O Mundial será decidido em três ou quatro jogos únicos, no meio do deserto, perto do Natal. É impossível fazer previsões.

A Inglaterra, que levou uma sapatada de 4 a 0 da Hungria e acabou vaiada pelos torcedores presentes, vai descobrindo a poucos meses da Copa que não tem a força que parecia ter após as campanhas de 2018 e de 2021 (Euro). Como as trajetórias nestes dois torneios foram marcadas por poucos confrontos contra seleções grandes (só oitavas da Euro, diante da Alemanha), eu acho mais fácil falar que a Inglaterra pode perder de qualquer um do que pode ganhar de qualquer um. A boa notícia para os ingleses, caso consigam se reagrupar, é que têm chave e caminho fáceis novamente e podem muito bem aparecer nas semifinais de novo.

Espanha e Alemanha são as seleções europeias que me parecem mais perigosas para o Brasil enfrentar no momento - e uma delas será muito provavelmente adversária nas quartas de final. Ambas são seleções jovens, com fome, com ótimos treinadores e que têm, como problema principal, a ausência de um camisa 9 de garantias. Mas este fato tampouco é garantia de derrota.

Não assustam, mas podem causar problemas. A Nations League nos mostrou também, porém, que Espanha e Alemanha têm falhas a serem exploradas. Assim como a Holanda, uma seleção jovem, promissora, mas que não merece muita preocupação - dificilmente aparecerá no caminho do Brasil. Se eu fosse Tite, passaria o semestre inteiro assistindo aos jogos recentes da Espanha de Luís Enrique e da Alemanha de Hansi Flick.

Não vale ficar perdendo tanto tempo com os adversários da fase de grupos e depois resumir os estudos das adversárias que realmente importam a poucos dias e no meio do estresse da Copa do Mundo.

As duas europeias do grupo do Brasil caminham de formas diferentes. A Suíça é bem mais fraca em 2022 do que em 2018, a Sérvia é bem mais forte.

Desde a saída de Petkovic, treinador que levou os suíços a fazerem jogos enormes contra Brasil (na Copa) e França (na Euro) e que priorizava o sistema defensivo, a seleção helvética mostra-se pouco sólida na defesa e com os mesmos problemas no ataque. Na Nations, levou três sapatadas até ganhar de Portugal por 1 a 0 - fez um gol no início e conseguiu segurar. Foi a única vitória em 2022.

A Sérvia, pelo contrário, tem mais recursos do que quatro anos atrás. Tem Vlahovic, que é um cara especial e pode ser uma das figuras da Copa (é o jogador que Espanha, Alemanha e mesmo o Brasil queriam ter, um atacante de garantias). Está jogando a Liga B da Nations, a segunda divisão, mas mostrou competitividade goleando a Eslovênia e batendo a Suécia fora de casa. Tem chances de subir para a Liga A do próximo ciclo da Liga das Nações e tem chance de incomodar o Brasil no jogo de estreia. Mas também, convenhamos, não é nenhum bicho papão.

O hexa é uma realidade. Caberá a Tite acertar a mão na tomada de decisões e não se apaixonar demais por este ou aquele jogador, este ou aquele sistema de jogo. Na Copa, é necessário se adaptar. E ter sorte. Muito mais do que no passado distante, quando havia menos gente jogando bola em alto nível mundo afora.

INGLATERRA NA NATIONS LEAGUE: Hungria 1-0 Inglaterra, Alemanha 1-1 Inglaterra, Inglaterra 0-0 Itália, Inglaterra 0-4 Hungria

FRANÇA NA NATIONS LEAGUE: França 1-2 Dinamarca, Croácia 1-1 França, Áustria 1-1 França, França 0-1 Croácia

ALEMANHA NA NATIONS LEAGUE: Itália 1-1 Alemanha, Alemanha 1-1 Inglaterra, Hungria 1-1 Alemanha, Alemanha 5-2 Itália

ESPANHA NA NATIONS LEAGUE: Espanha 1-1 Portugal, Rep. Tcheca 2-2 Espanha, Suíça 0-1 Espanha, Espanha 2-0 Rep. Tcheca

PORTUGAL NA NATIONS LEAGUE: Espanha 1-1 Portugal, Portugal 4-0 Suíça, Portugal 2-0 Rep. Tcheca, Suíça 1-0 Portugal

BÉLGICA NA NATIONS LEAGUE: Bélgica 1-4 Holanda, Bélgica 6-1 Polônia, País de Gales 1-1 Bélgica, Polônia 0-1 Bélgica

HOLANDA NA NATIONS LEAGUE: Bélgica 1-4 Holanda, País de Gales 1-2 Holanda, Holanda 2-2 Polônia, Holanda 3-2 País de Gales