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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bem-vindo ao UOL, Casão! Estamos ansiosos para aprender

Walter Casagrande Júnior - Divulgação
Walter Casagrande Júnior Imagem: Divulgação

19/07/2022 04h33

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Casagrande, acho eu, é meu vizinho.

Já por duas vezes o vi em um restaurante na Praça Pan-Americana, de péssimo nome e ótima feijoada. Não tive muita coragem de ir lá falar com ele, afinal ele não saberia quem eu era e ficaria aquela coisa de tiete, atrapalhar almoço... não gosto de incomodar. Na terceira vez, foi numa padaria lá por perto. E aí não teve jeito, porque eu fui levar meu pequeno no banheiro e passei pela mesa dele. Os olhares inevitavelmente se cruzaram. Ainda que o olhar do Casão esteja sempre por trás dos óculos escuros redondinhos. Ele olhou para mim com cara de quem me conhecia. Fui cumprimentá-lo. Trocamos gentilezas. Ele disse que lia minha coluna no UOL e eu não sabia onde enfiar a cara.

Mandou também um abraço para o Jamil Chade, meu grande parceiro de vida e de podcast Futebol Sem Fronteiras (prepare-se, Casão! Você já está escalado para a primeira edição da temporada 2, quando o podcast voltar, em agosto). O Jamil foi citado na primeira coluna de Casagrande nesta casa, junto com outras pessoas com quem divido espaço com muito orgulho.

Às vezes nem entendo direito como posso fazer parte deste time.

"Por que estou no UOL?", uma pergunta retórica, está no título da primeira coluna dele na casa.

Para citar novamente nosso grande amigo em comum, o Jamil, eu contarei uma historinha. Na Copa da Rússia, eu e o senhor Chade conversávamos sobre a profissão, compartilhávamos algumas lamúrias e eu perguntei para ele, pela enésima vez: "O que você ainda está fazendo no Estadão?" (com todo respeito à instituição histórica, mas eu sempre achei que o Jamil deveria ser um jornalista multimidiático e de espaço editorial expandido e ilimitado).

Pela primeira vez nos mais de 10 anos de amizade, ele respondeu com uma pergunta. "E ir para onde?". E minha resposta demorou um milisegundo. Para o UOL, oras. Dei um empurrãozinho que talvez tenha sido minha maior contribuição para o jornalismo brasileiro.

Porque o UOL é uma casa que conheço desde praticamente a fundação. Porque o UOL transformou-se no que a Folha foi para minha geração e algumas anteriores. Entre os grandes e sérios meios de comunicação do país, o mais independente e plural. Desafio qualquer colunista a relatar qualquer tipo de censura nesta casa. O radicalismo da atualidade não consegue compreender o que significa independência, até porque não consegue compreender o jornalismo. E menos ainda consegue compreender a diferença de jornalismo factual para jornalismo de opinião.

Casão precisava vir para o UOL pelas mesmas razões que Jamil precisava vir para o UOL. E que Juca está no UOL desde o início. Pela tribuna absolutamente aberta e livre que terá e pelo enorme alcance que a casa dá.

Com isso, não faço nenhuma crítica à Globo. Nunca achei a Globo um lixo, sempre discordei de grandes amigos com visão de mundo parecida com a minha sobre o tema. Agora um dos lados sequestrou até mesmo a aversão à Globo. O que me faz gostar ainda mais da Globo. E acho que a Globo fez nas últimas décadas, por Casagrande, algo que não teria feito em outros tempos. Mas sempre é hora de abrir o leque e chegar a novos horizontes.

Vinte anos atrás, eu, um moleque de apenas 22 na época, fui almoçar no Don Pepe di Napoli, em Moema, com o grande parceiro de Casão: o Doutor Sócrates. Eu era Editor de Esportes e a ideia era convidá-lo para ser colunista do UOL durante a Copa do Mundo.

O almoço durou duas horas. A conversa sobre a coluna durou 5 minutos. "Tenho liberdade para escrever o que eu quiser?", me perguntou o Doutor. "O que você quiser", eu respondi, erguendo o copo de chope. Sócrates foi o primeiro colunista da história do UOL Esporte. Eu acho que fui o segundo, porque assinei também uma coluna na cobertura do penta. E agora essa lista enorme e histórica ganha um nome do tamanho do mundo.

Podem acreditar, podem não acreditar. Mas não falo isso porque tenho algumas opiniões e visões parecidas com a de Wálter Casagrande Jr. A vida dele é completamente diferente da minha. As experiências vividas são inimagináveis para mim. E a exposição que ele escolheu para si faz de Casão uma das pessoas mais corajosas que eu já conheci. Um cara julgado constantemente, por casa frase que fala ou escreve. Temos muito mais diferenças do que semelhanças.

Não, eu não concordo com tudo o que ele fala. E tampouco volto no tempo a cada opinião emitida por ele para balizá-la ou criticá-la. Ouço tudo com atenção e com olhar para o presente, porque há gente que fez por merecer, ao longo da vida, ser ouvida.

Não havia outro lugar. Casagrande tinha que estar no UOL. Assim como o Doutor Sócrates. Assim como Juca, Jamil, José. Um dia, talvez, eu faça por merecer entrar como mais um J da lista de essenciais. Ainda preciso comer muito arroz com feijão antes. E ler e ouvir meu novo colega Wálter para aprender sobre futebol e sobre a vida.

Bem-vindo, meu caro! Por aqui, o limite, quem coloca, é você.