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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fracasso de Willian é o fracasso de todos nós

Willian, do Corinthians, em ação na partida contra o Santos, válida pela Copa do Brasil - Marcello Zambrana/AGIF
Willian, do Corinthians, em ação na partida contra o Santos, válida pela Copa do Brasil Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

10/08/2022 17h09

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A segunda passagem de Willian pelo Corinthians foi, sem dúvida, decepcionante. Não podemos fugir disso, independente do contexto e do que direi a seguir.

O Corinthians investiu em um jogador de Premier League - um dos brasileiros mais importantes na história do futebol inglês - e que nunca sofreu muito com lesões. Jogador de duas Copas do Mundo. Era para o Corinthians ter encontrado um Hulk para chamar de seu. Um jogador que ampliasse o nível a outro patamar e que colocasse o clube na prateleira dos três rivais que têm dominado tudo.

Não rolou. Claro que o contexto de elencos é diferente, mas o fato é que Willian nunca funcionou. Com uma exceção, vai, que foi justamente a estreia no Brasileiro, diante do Botafogo.

Willian vai embora, será assinada uma rescisão em que ninguém deve nada para ninguém. Legal por parte dele, melhor do que ficar "roubando" o próprio clube. Inteligente por parte do Corinthians permitir que seja assim, sem cobrar qualquer tipo de multa. E a saída tem pouco de componente técnico e mais pessoal.

Willian e a família foram ameaçados nas redes sociais por lunáticos. E se sentem ameaçados diariamente, porque mesmo quem vive enfiado em um condomínio fechado, com toda segurança, precisa em algum momento sair na rua. Ou dar uma espiada no celular.

Sair na rua, em São Paulo, significa ser constantemente agredido pelas motos que se sentem donas de tudo e não respeitam leis de trânsito e convívio, por caminhões da Sabesp, Enel e outras empresas que esburacam a cidade impunemente ou param seus caminhões em qualquer lugar, sem nenhum aviso ou compromisso com o coletivo. Sair na rua em São Paulo é ver cada vez mais espaços públicos ocupados por pessoas sem teto, sem comida e sem esperança. É ver, em cada semáforo ou ônibus lotado, a realidade nua e crua de uma sociedade sem futuro nem respeito, em que nenhum trabalhador é respeitado. Sair na rua em São Paulo é se sentir ameaçado constantemente e, o pior, se habituar a isso.

Não que o Brasil de 14 anos atrás fosse muito diferente. Mas certamente era melhor em 2007, quando Willian deixou o Corinthians pela primeira vez, do que é hoje. Pelo menos havia esperança de que o pior já havia passado e a roda estava girando para frente, mesmo que a duras penas. Nem tínhamos ideia do caos social em que nos meteríamos. O Brasil é cada vez mais violento, cada vez mais agressivo, cada vez mais individualista, cada vez mais estressado, cada vez mais impessoal, cada vez mais tóxico.

A família de Willian viveu oito anos em Londres antes de chegar aqui. É assustadora a mudança, é compreensível. Eu sei, porque já vivi. E olha que ele e eu somos alguns dos poucos privilegiados (sei que alguns dirão que reclamamos de barriga cheia, entendo e concordo até. Mas este não é um tratado sociológico, apenas um texto de empatia e tristeza).

O fracasso da passagem dele pelo Corinthians nem tem tanto a ver com o futebol. É o fracasso de todos nós.