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Julio Gomes

REPORTAGEM

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Real Madrid e Frankfurt já fizeram 'melhor jogo da história'

Ferenc Puskas, craque húngaro dos anos 50 e 60 - Central Press/Getty Images
Ferenc Puskas, craque húngaro dos anos 50 e 60 Imagem: Central Press/Getty Images

10/08/2022 06h00

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Já sabem como é, os espanhóis são parecidos com a gente quando se trata de futebol. E mais ainda quando o tema é Real Madrid (o equivalente à seleção brasileira para nós). Tudo é melhor, maior, mais importante, etc. Para ser justo, é preciso admitir que quase sempre o Real é mesmo o maior, o melhor, o mais importante.

Hoje, às 16h, o campeão europeu enfrentará o Eintracht Frankfurt, campeão da Europa League, pela taça da Supercopa da Uefa. O jogo será em Helsinque e abrirá "oficialmente" a temporada europeia, dando o primeiro troféu continental.

Curiosamente, um jogo entre Real Madrid e Frankfurt já foi chamado de "melhor de todos os tempos" por alguns cronistas. Ele foi disputado em 18 de maio de 1960 em Glasgow, Escócia, no mítico estádio Hampden Park. Mais de 127 mil pessoas estavam presentes para ver o Real ganhar a final da Copa dos Campeões da Europa por 7 a 3, com três gols de Di Stéfano e quatro gols do húngaro Puskas, dois jogagores que aparecerão em qualquer lista dos 20 maiores de todos os tempos (para não dizer dos 10).

Era apenas a quinta final europeia da história e a quinta vencida pelo Real Madrid - as vítimas das finais anteriores haviam sido o Reims, da França, duas vezes, e Fiorentina e Milan, da Itália. O domínio do esquadrão comandado por Di Stéfano só seria quebrado na sexta edição da que é, hoje, a grande competição interclubes do mundo. Em 60/61, o Barcelona, finalmente, eliminou o Real Madrid, mas perderia a decisão para o Benfica, de Eusébio.

A final de Glasgow, em 1960, correu risco de não acontecer. A Federação Alemã havia proibido times do país de jogarem uma partida em que Puskas estivesse em campo. O craque havia dito que a seleção alemã ocidental estaria dopada na final da Copa do Mundo de 1954, contra sua Hungria. Ele precisou pedir desculpas formalmente e por escrito para que o Eintracht Frankfurt entrasse em campo - depois, trucidaria os alemães fazendo quatro gols.

O brasileiro Canário, que sempre foi muito elogiado por Di Stéfano, começou como titular aquela decisão. Segundo a lenda, ele teria dito naquele dia que seu companheiro de time era melhor do que Pelé (que, claro, tinha "só" uma Copa do Mundo até então).

Em uma entrevista para o "The Guardian", o goleiro do Real, Santamaría, contou dois anos atrás que o Real Madrid teve sorte por ter levado o primeiro gol. "Foi como a picada de uma grande abelha", disse ao repórter Sid Lowe. "Você reage e eles então ficaram chocados (com a reação), não sabiam o que fazer. Nossa mentalidade era 'ir por eles', como se tivessem nos provocado". No intervalo, o Real Madrid já vencia por 3 a 1. Chegou a sete gols e permitiu que os alemães marcassem dois no final. "Os escoceses nos aplaudiram muito. Nós marcamos uma era ganhando cinco Copas seguidas", lembra Santamaría.

"Talvez tenhamos atingido a perfeição", declarou Puskas, após a final. O húngaro contou também uma curiosa história sobre a partida. Como tanto ele como Di Stéfano haviam conseguido o chamado "hat trick", eles fizeram uma espécie de jogo particular para ver quem estaria com a bola quando o juiz apitasse o final da partida. Puskas ganhou e pegou a bola para levar como recordação. Mas o atacante Erwin Stein, do Eintracht, pediu a pelota - e de forma insistente. Na terceira vez, Puskas cedeu. "Eu realmente queria aquela bola, mas o cara tinha feito dois gols e o time dele tinha perdido. Era o mínimo que eu podia fazer, dei a bola para ele".

É claro que a final europeia de 1960 não foi o melhor jogo de todos os tempos. Mas talvez tenha sido o melhor daquele que foi o melhor time da Europa no século passado. Só por isso, já merece estar nos livros da história do futebol.

Veja mais sobre o jogo entre Real Madrid x Eintracht Frankfurt no Futebol Sem Fronteiras, com Julio Gomes e convidados.