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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Para lotar Arena, Athletico 'copia' Europa, mas volta a pisar no sócio

Vista geral do estadio Arena da Baixada para partida entre Athletico-PR e São Paulo pelo campeonato Brasileiro A 2022. 31/7/2022 - Robson Mafra/Robson Mafra/AGIF
Vista geral do estadio Arena da Baixada para partida entre Athletico-PR e São Paulo pelo campeonato Brasileiro A 2022. 31/7/2022 Imagem: Robson Mafra/Robson Mafra/AGIF

16/08/2022 11h04

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O Athletico-PR se inspirou em modelos europeus, como os do Real Madrid e do Barcelona, para lotar a Arena da Baixada no jogo desta quarta, contra o Flamengo, pelas quartas de final da Copa do Brasil. Mesmo tendo 40 mil sócios - marca atingida recentemente -, o estádio, com capacidade para 42 mil, raramente está cheio.

Agora, os sócios são obrigados a fazer um "check in", ou seja, avisar se irão ou não a cada uma das partidas. Caso não façam check in (35 mil fizeram para o jogo decisivo de amanhã), o clube fica liberado para vender os ingressos. São dois, no entanto, os problemas.

O primeiro é o risco de "invasão" da torcida adversária, caso haja um movimento de compra dos ingressos disponíveis. O segundo é que o sócio não recebe absolutamente nada na revenda do ingresso, ao contrário do que fazem os grandes clubes europeus, que tratam os sócios como parceiros, não como simples consumidores.

O Athletico tem um dos estádios mais modernos do Brasil e isso é assim desde o meio dos anos 90 - não à toa, uma força regional transformou-se em um dos principais clubes do país e faz estragos internacionalmente. Mas a Arena precisa estar mais lotada mais vezes. Para se ter uma ideia, entre outubro de 2017 e a final da Copa Sul-Americana, no fim de 2018, era o Paraná Clube que detinha o recorde de público do novo estádio do Furacão, renovado para a Copa do Mundo. Havia razões para isso, como o altíssimo preço do ingresso avulso.

Para o jogo de amanhã contra o Flamengo, foram realizados 35 mil "check ins" e não se sabe bem quem vai comprar ou comprou os remanescentes. O risco, claro, é que torcedores do Flamengo comprem boa parte dos ingressos que não serão usados e sejam mais do que os 4 mil que estarão no setor visitante.

O Barcelona, na temporada passada, sentiu na pele o que é ser "invadido" por outra torcida quando a do Eintracht Frankfurt colocou 40 mil pessoas no Camp Nou em jogo da Liga Europa.

O Athletico tem 40 mil sócios, mas a média de público gira em torno de 21 mil pessoas. Por que? Isso acontece porque há um sistema de biometria para entrar no estádio. Que é bom por um lado (o da segurança), mas, por outro, impede que um sócio ceda seu lugar (que ele paga) para algum familiar ou amigo. Até existe o Plano Furacão Duo, que não é uma solução. Basicamente, paga-se mais para ter um dependente fixo na cadeira. Se o titular não for, pode ir o "reserva". Se um terceiro quiser ir, no entanto, não pode.

No Santiago Bernabéu ou no Camp Nou, é mais do que comum ver torcedores entrarem com a carteirinha de algum sócio. Se o dono da cadeira não pode ir, ele empresta para alguém de confiança e pronto, a fiscalização fecha os olhos para a prática, historicamente comum. Mas, caso o sócio queira colocar o ingresso à disposição do clube para que seja revendido, ele pode fazê-lo. O Real Madrid vende e devolve ao dono da cadeira 50% do valor. O Barcelona devolve 30%. É um sistema de parceria com quem paga caro pelo carnê anual.

O sistema de Real e Barça é o do "check out". Se o sócio não falar nada, a cadeira fica lá à disposição. Somente se ele autorizar, ou seja, fizer o check out, o clube vende o ingresso.

O que o Athletico fará a partir de agora? Se o o sócio não fizer check in, ou seja, se não avisar que vai a um determinado jogo, o clube venderá ingressos e ficará com 100% do valor, sem dar um tostão sequer para o dono da cadeira.

Se o clube não devolve nada para o sócio, por que o torcedor não fará o check in? Algumas pessoas já se movimentam nas redes sociais pedindo para que os sócios façam check in sempre. Já que o clube não oferece nada em troca, pelo menos não se corre o risco de a Arena virar um "paraíso dos infiltrados". Se isso acontecer, não será resolvido o problema de arquibancadas raramente lotadas.

O Athletico é um clube modelo no Brasil, mas vive uma autocracia. Ele tem dono, chama-se Mário Celso Petraglia. E este é um dirigente que enxerga o torcedor como consumidor, nada mais do que isso. É uma relação fria e distante, de pouca empatia. O sistema de check in (ou de check out, que seria melhor) é um avanço, mas ainda não garante o estádio mais cheio mais vezes. E volta a mostrar certo desdém com quem, de fato, é a razão de ser do Athletico.