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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diário da Copa: A Copa dos gatos e homens

Os gatos, adorados em países árabes, estão por todas as partes no Qatar - Julio Gomes/UOL
Os gatos, adorados em países árabes, estão por todas as partes no Qatar Imagem: Julio Gomes/UOL

19/11/2022 08h03

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Sento no restaurante Copacabana, em Al Wakra. É uma praia bonitinha. O mercado, atrás de mim, parece antigão, tipo de 1000 anos atrás. Na verdade, foi feito em 2014. Tudo por aqui é meio assim. Novo. O restaurante era de um brasileiro que achou que o pessoal fosse gostar de carne. Não rolou. Vendeu, o novo dono partiu para o peixe e deu certo.

Chegou meu peixe. Chegou muito rápido, sei não se era fresco. Estava gostoso e cheirava bem. Foi quando chegou um, depois outro, depois outro. Gatos. Em volta de mim e do meu peixe, uma família de gatos.

Eu não sei vocês, mas não sou muito fã de gatos. Assim, nada contra, mas nunca terei um. Sou mais dos cachorros. Pergunto para a garçonete, que se chamava Kina e era do Nepal, por que tantos gatos soltos por aí. Os árabes amam os gatos! Ela conta que ninguém pode fazer nada com os gatos. Deixem os gatos em paz. Uma vez, contou, veio uma cliente que viu um gatinho com a pata machucada. Pegou e levou direito para o hospital, nem acabou de comer o prato que havia pedido.

Eu conto que prefiro cães a gatos. E ela fez careta. "Aqui, cachorro é haram!".

Haram, vocês sabem, né? É pecado. Cachorro é pecado? Pô, pessoal. Vamos lá, aí forçou a amizade. Dei uma pesquisada rápida na Internet e parece que há controvérsias no mundo islâmico sobre o tema.

Mas gatos... Esses não são haram. Pelo contrário. E estão por todas as partes. Nunca vi uma quantidade tão grande de gatos soltos pelas ruas. Eles fazem parte da cena de Doha.

Gatos e homens. Homens e gatos. Poucas mulheres estão nas ruas, isso fica muito claro. Há milhares de torcedores aqui com bandeiras e camisetas de seleções de países islâmicos, como Tunísia, Marrocos ou Arábia Saudita. Há também de países que nem se classificaram, como Argélia, Egito ou o vizinho Emirados Árabes. São sempre homens.

Claro que há uma ou outra mulher, principalmente em grupos de países de outros lugares, como mexicanos, equatorianos e brasileiros. Mas a desproporção é incômoda. Estamos falando de 20, 30, 40 para 1. É uma Copa de homens, para homens. Mulher na rua, pelo jeito, é que nem cachorro. É haram.,