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Com fúria, torcida saudita raiz engole Messi e a Argentina inteira
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Já estive em muitos jogos de Copa do Mundo, nos quatro cantos do planeta. Já vi jogos de anftriões e já vi jogos com torcida grande para este ou aquele país. Poucas vezes vi algo parecido com o que o estádio Lusail, palco da Copa do Mundo, presenciou nesta segunda-feira. Um verdadeiro cataclisma.
A torcida da Arábia Saudita engoliu o time da Argentina, o Messi, a torcida de verdade dos hermanos e a torcida de gringos admiradores. É muito raro ver isso em Copa do Mundo. Estamos falando de um evento caro, é difícil viajar, comprar, tem que ter grana. Os estádios de qualquer Copa deste século, vamos falar a verdade, são meio gourmetizados, frequentados por quem não vive e respira futebol no universo de clubes diariamente.
Os sauditas vieram em grande número, são vizinhos do Qatar. Não precisa ser milionário para vir, basta ter um carro e a gasolina é barata. No "olhômetro", eu diria que havia entre 10 e 15 mil sauditas no Lusail nesta terça. E o que vi foi uma torcida de verdade, gritando a todo pulmão, não só cantando musiquinhas. Era um ruído furioso, uma convulsão, não algo pasteurizado e momentâneo. Usando uma palavra da moda, foi um movimento orgânico das arquibancadas.
E como uma torcida de verdade faz diferença!
O primeiro tempo foi todo da Argentina. É verdade que o gol de Messi saiu de um daqueles pênaltis discutíveis de VAR, mas depois disso vieram tantas outras chances. A linha alta de impedimento da Arábia gerou alguns gols argentinos, mas a tecnologia salvou a pele do time verde. Durante os primeiros 45 minutos, o ambiente foi mais blasé. Mas está claro que isso só aconteceu porque o time saudita não conseguia jogar.
No segundo, tudo mudou. Em 5 minutos, Al-Shehri e Al Dawsari marcaram belíssimos gols. Até os 15min da etapa final, a Argentina ficou completamente perdida em campo. Atordoada. E os sauditas corriam por Alá e por mais sei lá quem. Pareciam 15 homens contra 10 em campo, com o barulho enfurecido vindo da arquibancada. Cada carrinho parecia um gol. Cada corte, cada desarme, cada defesa, cada lateral.
Claro que as coisas não se resumem a isso. Haverá explicações táticas, se falará muito dos problemas da Argentina, dos erros deste ou aquele. E há um time do outro lado, a base do Al Hilal, que fez um jogo competitivo contra o Chelsea no Mundial de Clubes no ano passado.
Sim, a Argentina foi obrigada a se adaptar e a jogar, coisa que não parecia precisar fazer no primeiro tempo preguiçoso. Mas aí já não estava jogando mais contra o time da Arábia Saudita. Estava jogando contra toda a Arábia Saudita.
Foi-se a invencibilidade de 36 jogos quando menos se esperava. A Argentina que se vire com os problemas dela. Hoje é dia de comemorar o resgate de um ambiente de futebol como deve ser.
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