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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Seleção precisa deixar de ser refém de Neymar e partir para outra

Neymar após Brasil x Croácia, pelas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar em 2022 - Xinhua/Han Yan
Neymar após Brasil x Croácia, pelas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar em 2022 Imagem: Xinhua/Han Yan

10/12/2022 07h38

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Sinceramente, a escolha do próximo técnico da seleção importa pouco. A gente precisa cair na real: não existem exatamente ciclos na seleção. Existem Copas. É impossível prever o que vai acontecer em uma Copa do Mundo. É um jogo, é uma bola que entra, uma que sai. O cidadão pode trabalhar bem por quatro anos e errar na hora H, foi o caso de Tite.

Tem gente que quer Guardiola na seleção. Será que esse pessoal sabe que Guardiola não ganha uma Champions League há 11 anos, sempre com um timaço nas mãos? Copa do Mundo é igual a Champions, não é uma maratona de pontos corridos.

No fim das contas, para ganhar uma Copa é preciso ter um técnico que saiba jogar partidas eliminatórias. Mas o pacote precisa ser amplo, o técnico precisa ser bom em se adaptar a adversários, bom em intuição, bom em leitura de jogo para tomar decisões durante o duelo e, claro, precisa ser bom no trato com os jogadores. Não é uma matemática fácil.

Por falar em matemática, Neymar igualou Pelé em gols em jogos oficiais da seleção brasileira. Ninguém deu bola para o dado, já que o dia foi de eliminação. Eu sinceramente espero que Neymar deixe de jogar pela seleção brasileira - ou que o próximo técnico deixe de chamá-lo. Seria uma distorção incrível da nossa história que Neymar se transformasse no maior artilheiro da seleção, à frente de Pelé. Não quero ver mais um gol dele sequer com a camisa amarela.

Mas, mais do que isso, é preciso que a seleção deixe de ser refém de Neymar Júnior, Neymar pai e companhia.

Não me levem a mal. Não sou idiota. Sei que Neymar é um craque - quem discute isso não entende de futebol -, mas quando se coloca na balança o "pacote Neymar", fica difícil saber se a presença dele é melhor ou pior para a seleção brasileira.

Ficam todos pendentes - eu disse todos - de um jogador que, na prática, não vai resolver a vida do Brasil. É um peso muito grande dado a ele, ao staff dele, ao Instagram dele, ao tornozelo dele, ao TikTok, ao cabelo. Vocês viram como estavam todos bonitinhos com cabelo descolorido no ataque do Brasil ontem, igualzinho ao dele? Vocês percebem o tamanho da influência que Neymar exerce em tudo e em todos? Sei que é mais chato, mas não deveriam estar os jogadores vendo partidas da Croácia? Quantos estavam fazendo isso? Quantos foram buscar informações sobre Modric com, sei lá, Casemiro?

Não estou aqui com aquele papo careta de "jogador não pode descolorir cabelo nem usar brinquinho". Não, não, nada disso. Apenas estou usando um exemplo prático. E se Neymar influenciasse o time com preocupações técnicas, em vez de preocupações banais?

Neymar é banal. É um grande símbolo da futilidade e instantaneidade dos dias de hoje. Eu, um admirador do equilíbrio e da profundidade, me incomodo com Neymar. Não, não é porque ele vota 22. Sinceramente, não ligo para isso. Acho que muita gente misturou muito as coisas nesses tempos de eleição e Copa do Mundo. Misturou mais até do que os próprios jogadores. Não, meu problema com Neymar não é político e nem futebolístico. É conceitual.

A seleção gira em torno de um bobo, cuja carreira é marcada por transferências duvidosas, decisões equivocadas, metas individuais e muito oba oba. Não, Neymar não é um bom exemplo para toda essa geração, que tem talento e pode tranquilamente ganhar uma Copa do Mundo.

Acho que Neymar nunca quis boicotar ninguém, ele deve ter feito o melhor dele nesse tempo todo. Acredito no choro sincero de quem perdeu. Mas ele continuava preocupado em levantar a camisa e mostrar a cueca patrocinada mesmo antes de uma prorrogação. São muitas as agendas na cabeça dele, além de vencer uma partida de futebol.

O próximo técnico, quem quer que seja, pode tranquilamente sobreviver a um ciclo de eliminatórias e Copa América sem essa agenda. E pode colher os frutos daqui a quatro anos.

O Brasil está há 12 anos pendente de um cara que nunca chegou perto de ser Messi ou Cristiano Ronaldo, isso ficou muito claro ontem ao ver o jogo do Brasil e, na sequência, o da Argentina. Chega. É hora de virar a página Neymar na seleção.