Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cristiano Ronaldo, um grande da história, escolhe um final minúsculo
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Se houvesse rede social em 1975, quando Pelé assinou contrato com o Cosmos, talvez alguém dissesse "que triste fim de Pelé". O futebol, claro, era bem diferente. Aos 34 anos, era difícil alguém chegar em condições de jogar. Pelé já havia até se aposentado, mas seria chamado de "dinheirista", "interesseiro", sabe-se lá o que mais. Na época, Pelé, aposentado, virava o maior salário do esporte mundial.
Cristiano Ronaldo é quem vai deter o posto, o maior salário de todos os tempos pago a um esportista, para se aposentar no Al-Nasr, da Arábia Saudita. Aos 37 anos, fará 38 daqui a um mês, o português sai do cenário.
Ele poderia jogar nos Estados Unidos, como Pelé, em um país em que ganharia bastante comercialmente e onde o futebol está crescendo e se consolidando - mas não se esqueçam da acusação de estupro, que poderia complicar-lhe a vida. Ele poderia jogar no Brasil, onde receberia bem menos, mas viveria em um país que adora e seguiria tendo desafios de competição. Ele poderia jogar no Sporting, para onde, em minha opinião, deveria ter ido há um ou dois anos para encerrar a carreira e ajudar o clube que o revelou.
Mas não. Cristiano resolveu ir para a Arábia Saudita. Uma ditadura sanguinária, 200 vezes pior que o tão criticado Qatar. Um regime fechado, hipócrita, "amigo" do Ocidente - EUA e Europa são tigrões em relação a alguns países, gatinhos passadores de pano para outros.
É este o dinheiro que Cristiano vai ganhar. Claro, ele já tem o suficiente para umas 10 gerações. Para comprar a Portuguesa, o Vasco e Portugal inteiro. Mas quer mais. Quem tem muito, sempre quer mais. Não gosto muito de ficar julgando quem quer ganhar mais ou menos dinheiro, mas é público e notório que Cristiano Ronaldo e a oitava geração de familiares dele não precisam desta grana suja de petróleo e sangue.
E o futebol? Vai desenvolver o futebol na Arábia Saudita? Não, não vai. Não tem nada a ver com a situação do Cosmos e dos Estados Unidos nos anos 70. A Arábia Saudita tem cultura de futebol, tem liga, tem time grande e popular, tem paixão (como comprovamos na Copa do Qatar através de seus torcedores). Não, Cristiano não está em uma missão heroica e bonita de levar o esporte para onde ele não existe. É só para ganhar dinheiro mesmo.
O maior esportista da história de Portugal, um dos grandes jogadores da história do futebol, virou uma simples ferramenta de sportswashing.
É triste, claro que é. Sempre fui um fã de Cristiano e acho que, sim, ele contestou por mais de uma década o posto de melhor do mundo com Messi. Foi uma luta sadia, no meu ponto de vista. Não é pouca coisa ter antagonizado Messi por tanto tempo. Mas, claro, no fim da história, ele ficou bem para trás do argentino.
E isso se dá principalmente pelos últimos seis meses. Os deprimentes pitis e saída do Manchester United, a autohumilhação procurando um clube grande europeu, mais showzinho na seleção de Portugal durante a Copa e, agora, a decisão de ir para a Arábia Saudita. Este sim é um triste fim.
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