Topo

Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vergonhosa decisão da Lusa mostra o desprezo de cartolas por torcedores

Estádio do Canindé, sede da Lusa - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Estádio do Canindé, sede da Lusa Imagem: Eduardo Anizelli/ Folhapress

19/01/2023 10h51

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A diretoria da Portuguesa resolveu vender o mando de campo do jogo contra o Corinthians, pelo Paulistão, marcado para 12 de fevereiro. A partida não será mais no Canindé, será em Brasília. O clube vai receber 1 milhão de reais por isso.

Eu pergunto: Quanto custa o amor do sofrido torcedor da Portuguesa? Aparentemente, foi precificado. Vale menos que 1 milhão, pelo menos aos olhos do presidente reeleito, Antonio Carlos Castanheira. Mais um dirigente que não entende e não faz a menor questão de entender o que o clube significa para o torcedor, que é a razão de ser e de existir de qualquer agremiação.

Vejam só. Não é a primeira vez que a Portuguesa vende um mando de campo. Em 2013, ano do tapetão, a Lusa enfrentou pela última vez em um Brasileirão Flamengo e Corinthians, os clubes mais populares do país, longe do Canindé. Contra o Fla, jogou em Fortaleza e empatou sem gols. Contra o Corinthians, jogou em Campo Grande e goleou por 4 a 0 o então campeão mundial, com Tite e tudo.

Era preciso ganhar dinheiro, o clube tentava se manter na elite nacional e ninguém imaginava o que estava por vir. Era compreensível, não houve qualquer celeuma.

Eu, particularmente, não gosto dessa história de venda de mandos de campo no Brasil. Há uma clara interferência técnica, times jogam contra o mesmo adversário em cenários totalmente diferentes - mas os amantes dos pontos corridos não curtem muito lembrar essa enorme distorção na hora de elogiar o modelo. De qualquer maneira, eu entendo que seja um recurso para clubes pequenos, já devidamente estrangulados pela elitização do futebol nacional.

Mas o caso específico da Portuguesa, no ano de 2023, é diferente. E é incrível que a diretoria não compreenda isso. Vai fazer o que aí com esse milhão? Vai acabar com todas as dívidas do clube? Vai contratar o Messi? Enfim, vai resolver de forma definitiva o problema da Portuguesa? Claro que não. Não estou aqui advogando por má gestão, longe disso. Mas não é esse milhão que mudará a vida do clube. Peçam esse milhão aí para a associação de padarias de São Paulo que eles arrumam rapidinho.

Mas onde fica o torcedor, que está há sete anos vendo o time jogar contra Capivarianos e Primaveras e Monte Azuis? Onde ficam meus filhos, que nunca viram a Portuguesa jogar contra o Corinthians, o maior rival do clube? Porque é isso. Para quem não sabe, o Corinthians é o maior rival da Portuguesa, ainda que obviamente o contrário não seja verdadeiro. Os mais jovens podem não entender o significa a palavra "clássico". Pensem em música clássica ou um prato clássico ou um destino clássico de turismo.

O que define um jogo ser ou não ser um clássico não é a quantidade de títulos na listinha. É a história que envolve as duas agremiações, é um conjunto de fatores. Não importa a lama em que a Portuguesa tenha se metido, este jogo sempre será um clássico. E o seu torcedor, privado de vê-lo nos últimos sete anos, será privado mais uma vez e está morrendo de medo de nunca mais poder ir a um Portuguesa x Corinthians no Canindé - porque, convenhamos, esse time atual tem toda a cara de que será rebaixado e não me parece que o milhão do Castanheira fará diferença.

E se a PM descobrir que Portuguesa x Corinthians precisa ter torcida única, está tudo certo. Seremos só os 2, 3 mil de sempre lá, sem visitantes inoportunos. Uma pena para os corintianos, que perderiam (perderão) a chance de lembrar como é estar em um estádio de futebol raiz.

Às favas com o dinheiro. Vendam o que quiserem, mas não vendam a paixão do torcedor, o direito que ele tem de conviver com o clube, em seus momentos mais difíceis.

Para relembrar um Portuguesa x Corinthians no Canindé, fico com o meu preferido, de 1997. O vídeo está abaixo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL