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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Premier League faz 'rapa' no mercado de novo, e Europa não sabe como agir

Enzo Fernández, revelação da Copa, saiu do Benfica para defender o Chelsea - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
Enzo Fernández, revelação da Copa, saiu do Benfica para defender o Chelsea Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

01/02/2023 11h23

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Tem quem goste do discurso da meritocracia. Quem tem mais, leva mais. A premissa é que isso se dá por "competência", o que obviamente nem sempre é verdade. O futebol do mundo não está "acabando", essa seria uma frase de impacto, bonita, mas pouco realista. O que acontece é que o futebol vai se elitizando de tal forma que se transforma em coisa de cada vez menos clubes, associações, países.

A Premier League é a liga mais forte, competitiva, rica. Mas ela também é a liga que aceita dinheiro de qualquer lugar, de qualquer origem, sem muitos questionamentos, e que permite aos donos dos clubes gastar o que têm e o que não têm. Vamos falar o português claro: é a maior lavanderia do mundo. Tem que esteja lavando dinheiro sujo, tem que esteja compensando lucros obtidos de outras formas com "prejuízos" no campo esportivo e tem que esteja lavando a imagem internacional - como é o caso da ditadura saudita.

Nesta janela de inverno, que fechou ontem, o Chelsea sozinho gastou mais do que todas as outras grandes ligas europeias somadas. Estamos falando de Espanha, Alemanha, Itália e França - esta última também tem uma regra de fair play ridícula, inexistente. O mercado da Premier foi 11 vezes maior que o da Alemanha, que tem uma liga forte, em um país de economia forte, com estádios lotados e saudável financeiramente.

O fair play que funciona ou tenta funcionar na Espanha, por exemplo, não existe em outros lugares.

Bacana, a Premier League fica cada vez mais forte. Mas é isso? Ficamos assim? Sobra uma grande liga doméstica, a Champions (só o mata-mata) e nada mais? É assim que os europeus tratarão do futebol deles?

É óbvio que deve ter muita gente coçando a cabeça. Os europeus, Uefa principalmente, fazem mudanças muito lentamente. Florentino Pérez, o presidente do Real Madrid há mais de duas décadas, já anteviu o problema e quis se inserir na brincadeira com a criação da Superliga. O problema é que os ingleses não entraram - devido à opinião pública -, o PSG tampouco - porque hoje o Qatar virou um "dono" da Uefa - e não sobrou muita coisa para uma Superliga.

Será preciso adotar algumas soluções mais radicais para que a Premier League não reine desta forma. A mais fácil, lógico, é implodir o fair play destes países - o que seria um grande erro conceitual, no meu ponto de vista. Outra forma talvez seja, sim, a criação de uma Superliga europeia (sem ingleses), mas não para competir com a Champions. Com 38 rodadas, com times, sei lá, de Espanha, Itália e Portugal, por exemplo. Superliga Ibérica pra baixo, Superliga do Norte para cima, com alemães, franceses, holandeses, belgas.

Isso não está em pauta, até porque não há interesse nas federações locais em perder poder. Na Europa, os localismos são muito fortes e acho que acaba o mundo antes de acabarem com as ligas domésticas. Já disse isso há tempos e muita gente ri de mim, mas as ligas nacionais são equivalentes aos estaduais nossos. Precisam definitivamente ser repaginadas, com menos espaço de calendário e mata-mata, isso mesmo, mata-mata, para dar mais emoção à reta final e se diferenciar de alguma forma da Premier.

Os clubes grandes irão se mexer, precisam se mexer, para contra atacar o domínio da Premier League. O ideal seria que Federações e clubes médios e pequenos dos outros países entendessem o momento e criassem soluções antes de serem abandonados e definharem - que é o que acontece aqui no Brasil.

Algo me diz que esta janela de inverno irá marcar um divisor de águas. Seja para reativar a Superliga, seja para matar o fair play financeiro, algo será feito. Algo tem de ser feito. O futebol global é muito grande para ter uma liga só.