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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Substituição de Gabigol mostra por que Vítor Pereira não ganha clássicos

Vítor Pereira, técnico do Flamengo, durante a partida contra o Fluminense - Thiago Ribeiro/AGIF
Vítor Pereira, técnico do Flamengo, durante a partida contra o Fluminense Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

09/03/2023 11h21

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No Corinthians, foi um desastre. Vítor Pereira jogou 11 clássicos e ganhou só duas vezes - do Santos, que viveu ano passado e segue vivendo uma situação de inferioridade em relação ao trio-de-ferro. Não ganhou nenhum dos três jogos contra o Palmeiras, nenhum dos quatro contra o São Paulo. Desembarcou no Rio de Janeiro, onde a diferença orçamentária e de elenco entre Flamengo e o resto é bizarra e... segue na mesma. Apanhou do Vasco, apanhou do Fluminense - é verdade que o Botafogo perdeu do Flamengo, mas VP não estava nem no banco de reservas e nem em Brasília no dia do jogo.

Talvez seja esta - deixar VP em casa - a grande solução para o Flamengo, agora que se aproximam os jogos que decidirão o Campeonato Carioca. Possíveis semifinais contra o Vasco, possíveis finais contra o Fluminense. Dois ou quatro jogos. Dois ou quatro clássicos.

Não vai haver título carioca sem ganhar clássicos. E não haverá paz se não ganhar o Carioca. Talvez nem futuro haja para a dupla Braz-VP. Porque uma coisa é pressão de rede social, outra é a voz da arquibancada. E ontem, no Maracanã, a voz ecoou forte na arquibancada. A humilhação ampliou-se quando a torcida do Fluminense cantou, sarcasticamente, o nome de Vítor Pereira. Não estamos no mundo maravilhoso da Premier League. Aqui, a galera é demitida sem dó.

VP tem, então, ali no banco de reservas, 2 vitórias em 13 clássicos grandões regionais brasileiros. É um desempenho pífio, que não condiz com a capacidade dele como treinador.

Percebo claramente como o futebol brasileiro é desafiador para quem trabalha com puro pragmatismo. O futebol daqui sempre foi baseado no empírico, no achismo, no "feeling", na observação. Só de alguns anos para cá a ciência está entrando forte no jogo. Mas não é tão simples. Até porque a sociedade brasileira pode ser tudo, menos simples. Somos complexos e sui generis demais para importar modelos prontos.

Abel Ferreira é um pragmático que captou perfeitamente o espírito do brasileiro e das relações humanas - com jogadores, dirigentes e torcida. Vítor Pereira pode até parecer um cara "empírico", porque ele claramente tem na "tentativa e erro" a sua principal estratégia para encontrar soluções para o time. Mas me parecem que são tentativas que acontecem em função de um plano pré-determinado e estudado por ele, não de forma aleatória. É um treinador agarrado a princípios táticos.

Talvez Vítor Pereira precise aprender a se soltar um pouquinho ou a pensar fora da caixa para começar a ganhar clássicos. Os clássicos são únicos, são jogos diferentes, em que os nervos estão à flor da pele e situações se sucedem sem que ninguém possa prevê-las ou controlá-las. Em um cenário destes, é inconcebível tirar de campo Gabriel Barbosa quando seu time está contra as cordas.

A substituição de Gabigol ontem é a perfeita demonstração de falta de tato. O cara estava dentro do jogo - pilhado, é verdade, o que ele faz com André no primeiro minuto de partida é inaceitável. Mas estava "on". Estava ligado, disposto, brigando, chamando a responsabilidade e as demonstrações ali na lateral do campo são, para mim, prova de alguém interessado em fazer a coisa funcionar.

Você não tira de campo alguém decisivo e que está a fim de fazer a coisa funcionar. Para colocar um menino desconhecido. Estava pensando no próximo jogo? VP, deixa te contar um segredo? Não tem próximo jogo quando o que está em jogo é um Fla-Flu que acaba em taça - e nem importa a taça.

São 2 vitórias em 13 clássicos. Não é sorte ou azar. Com toda a experiência, com todo o estudo e conhecimento, o portuga ainda não captou o espírito de jogos assim deste lado do oceano.