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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Venezuelano de nome engraçado e campanha 100% complica o grupo do São Paulo

Torcedores do São Paulo durante final da Sul-Americana disputada em Córdoba, na Argentina - Marcelo Endelli/Getty Images
Torcedores do São Paulo durante final da Sul-Americana disputada em Córdoba, na Argentina Imagem: Marcelo Endelli/Getty Images

28/03/2023 12h08

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Quem bate o olho no grupo do São Paulo na Copa Sul-Americana pode se enganar. Tolima, Tigre, da Argentina, e um tal Puerto Cabello, da Venezuela. Uma baba, dirão alguns. Mas não é bem assim.

O que chama a atenção logo de cara é a presença do Tigre, que foi o adversário do São Paulo naquela final da mesma Sul-Americana de 2012. O jogo foi interrompido no intervalo por uma briga generalizada envolvendo jogadores argentinos e seguranças do São Paulo no vestiário, e o troféu ficou no Morumbi, de um jeito meio constrangedor, sem bola rolando.

Mas o Tigre, atual 21o colocado no Campeonato Argentino, com duas vitórias em oito partidas, é quem menos importa neste grupo. As ameaças ao São Paulo são os outros dois adversários, que, logo de cara, já obrigam o clube brasileiro a fazer o que ninguém gosta: viagens longas, gigantes e cansativas no meio deste exigente calendário.

O Tolima joga em Ibagué, uma cidade de acesso complicado na Colômbia. Não à toa, clubes brasileiros só apanharam por lá, até Atlético-MG e Flamengo mudarem essa escrita na última Copa Libertadores, ano passado. O Grêmio perdeu lá em 2007, na mesma Libertadores em que seria vice-campeão; o Corinthians apanhou em Ibagué em 2011, naquela famosa pré-Libertadores que marcou as despedidas de Ronaldo e Roberto Carlos; o Cruzeiro empatou também em 2011, na fase de grupos; o Athletico-PR perdeu lá e o Inter empatou, ambos em 2019. Cinco jogos de brasileiros em Ibagué, nem um gol sequer marcado.

Aí veio a Libertadores do ano passado e a escrita caiu - o Atlético-MG venceu por 2 a 0 (um jogo que podia ter ido para qualquer lado), o América-MG empatou por 2 a 2 e, nas oitavas, o Flamengo ganhou lá por 1 a 0 (também com boa dose de sorte).

O fato não muda, viajar para Ibagué e jogar lá sempre será complicado. O Tolima é o atual oitavo na Colômbia, a sete pontos do líder América de Cali, com três vitórias em nove partidas.

Mas o grande fator complicado do grupo é mesmo este time venezuelano de nome engraçado, que participa pela primeira vez de uma fase de grupos de competição sul-americana. A Academia Puerto Cabello, que fica em uma cidade de 200 mil habitantes e que é o porto mais relevante da Venezuela. Diz a lenda que o nome da cidade se dá pelo fato de as águas caribenhas serem muito calmas e que se poderia amarrar os barcos nas marinas com fios de cabelo. O clube de futebol foi fundado somente em 2014, está em boa situação financeira e joga no estádio municipal, apelidado de "La Bombonerita". Subiu à primeira divisão do país em 2018.

O futebol venezuelano não é referência, dirão alguns. Não é mesmo. Mas nunca se pode desprezar um time que ganhou todas as partidas que fez no ano até agora. Venceu sete de sete no Campeonato Venezuelano, que lidera com folga em busca do título inédito, e ainda ganhou do Caracas fora de casa, em jogo único, para entrar na fase de grupos da Sul-Americana pela primeira vez (dois anos atrás chegou a jogar a pré-Sul-Americana, mas foi eliminado).

O segredo do Puerto Cabello foi a surpreendente contratação de Noel Sanvicente no fim do ano passado. Ex-jogador da seleção "Vinotinto", o técnico é o maior campeão de ligas venezuelanas, foram sete títulos com o Caracas e outros dois com o Zamora, e é dono de todos os recordes no país. O "namoro" com o projeto do Puerto Cabello vinha se consolidando e virou casamento. O início de pré-temporada ainda no ano passado foi um fator esportivo importante para a campanha de 2023.

Ele chegou a treinar a Venezuela entre 2014 e 2016, mas acabou envolvido em uma guerra entre jogadores e dirigentes da Federação. Na ocasião, em 2015, 15 jogadores fizeram um motim e se recusaram a jogar pela "Vinotinto" enquanto dirigentes e comissão técnica não renunciassem. Sanvicente saiu, Dudamel assumiu e levou a Venezuela a uma surpreendente fase de quartas de final da Copa América do Centenário, em 2016. Mas Sanvicente continua sendo um dos nomes mais populares e lembrados sempre que a Federação está prestes a trocar de comando.

O fato é que o Puerto Cabello promete não ser aquela baba que geralmente representam os times venezuelanos. Viagens longas até lá e até Ibagué podem fazer o São Paulo ter mais dificuldades neste ano do que no ano passado, quando jogou a fase de grupos da Sul-Americana inteira com reservas. Desta vez, pelo menos, dois dos quatro times do grupo se classificam - o primeiro vai diretamente para as oitavas de final, e o segundo colocado enfrentará algum dos terceiros dos grupos da Libertadores para chegar à fase de oitavas.