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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Três anos após a bolha e com mesmos astros, NBA tem raro repeteco de finais

Mensagem "Black Lives Matter" em jogo da NBA na bolha de Orlando, em agosto de 2020 - Kevin C. Cox/Getty Images
Mensagem "Black Lives Matter" em jogo da NBA na bolha de Orlando, em agosto de 2020 Imagem: Kevin C. Cox/Getty Images

15/05/2023 04h00

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Foi aquele ano, o mais estranho das nossas vidas. A NBA parou quando Rudy Gobert, do Utah Jazz, apareceu com covid. Foi ser retomada cinco meses depois em uma bolha criada no complexo da Disney, em Orlando, de onde jogadores não entravam nem saíam. Os playoffs, sempre disputados entre abril e junho, foram acontecer em setembro e outubro de 2020. Com arquibancadas vazias, o eco da bola pingando no piso de taco, os gritos dos jogadores sendo ouvidos em alto e bom som.

Aquele ano de 2020, o primeiro da pandemia, havia começado com a trágica morte de Kobe Bryant. O título dos Lakers era a história perfeita. A homenagem a Kobe, o último triunfo de Lebron, usando a camisa mais famosa da Liga, e a campanha de Black Lives Matter mais viva do que nunca e puxada justamente pela grande estrela da NBA - chegou até a haver boicote dos jogadores adiando uma partida. Foi um título estranho, sem dúvida, em um playoff surreal. Tudo ali foi esquisito, como se realmente estivéssemos assistindo ao Space Jam, mas com jogadores de verdade.

Corremos três anos na fita do tempo para chegarmos novamente às semifinais da NBA - ou finais de Conferência, como queiram. E estamos diante dos mesmíssimos duelos da bolha de Orlando, com os mesmos protagonistas.

No Leste, o Boston Celtics é o favorito contra o Miam Heat - assim como era em 2020. Nos Celtics, os grandes protagonistas são os mesmos Tatum e Brown e eles novamente passaram pelos rivais 76ers para chegar onde estão. No Heat, os caras são Jimmy Butler e Bam Adebayo, que, assim como em 2020, comandaram a franquia de Miami a uma surpreendente caminhada e derrubaram o favorito Milwaukee Bucks no caminho. Na bolha, o Miami bateu o Boston em seis jogos. No ano passado, os Celtics se vingaram e venceram em sete. Desta vez, na terceira decisão do Leste em quatro anos entre eles, o mando de campo dos Celtics será realidade, não fantasia.

No Oeste, se em 2020 o Los Angeles Lakers era grande favorito contra o Denver Nuggets, desta vez os papéis se invertem. Lebron James não cansou de ganhar e, ao lado de Anthony Davis, que na bolha buscava seu primeiro anel, conseguiu recuperar um Lakers que parecia que nem jogaria os playoffs. O time encorpou ao fazer boas contratações e cresceu na hora certa.

O Denver chegou à final do Oeste em 2020 virando duas séries em que perdia por 1-3 (para Jazz e Clippers), o que nunca havia sido feito por qualquer time da NBA. Foi a explosão de Jamal Murray, que teve as temporadas seguintes atrapalhadas por lesão. Agora Murray está saudável e voando de novo, ao lado de Nikola Jokic, MVP em 2021 e 22. Desta vez, os Nuggets chegam inteiros, mais fortes e com o mando de quadra por terem feito a melhor campanha.

Os Nuggets nunca chegaram à final da NBA. Atingiram o atual estágio quatro vezes e, em três delas, foram barrados no baile justamente pelos Lakers (1985, 2009 e 2020). Já os Lakers são os maiores campeões da Liga ao lado dos Celtics, com 17 títulos para cada um.

Tatum, Brown, Butler, Adebayo, Jokic, Murray, James e David estão, hoje, rodeados de outros jogadores. A classe dos coadjuvantes mudou demais nos quatro times, mas os líderes são os mesmos. Eles estarão rodeados também de torcedores. Não ouviremos mais a bola quicando no taco e, sim, os gritos de D-Fense e coisas do tipo.

Uma repetição das mesmas finais de conferência é algo que só havia ocorrido uma vez na NBA. Em 1983, Philadelphia e Milwaukee decidiram o Leste, Lakers e San Antonio, o Oeste. Isso se repetiu em 2001, com times que não tinham nada a ver com os de 18 anos antes. O que vai acontecer agora é um raro replay, de um raro ano. É como se aqueles duelos da bolha merecessem uma revanche, com condições normais de jogo. Com a vantagem de quadra, Boston e Denver conseguirão as revanches?