Julio Gomes

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Comemoração de Luciano não é sobre 'chatice' e, sim, burrice no futebol

A discussão até que é boa. O que devem fazer jogadores quando marcam gols fora de casa em um clássico de torcida única? Qualquer coisa que não seja comemorar com o próprio banco de reservas pode ser vista como "provocação". Compactuo, portanto, com a opinião de quem acha que deve haver, digamos, mais margem de tolerância por parte da arbitragem em casos assim.

Mas o que aconteceu ontem em Itaquera extrapolou os limites. Depois de empatar o jogo, Luciano correu para seu lado direito. Esta foi a explosão inicial. Companheiros chegavam para abraçá-lo. E aí ele lembrou. Pensou no que já tinha planejado. Levantou-se, correu para o lado oposto, pediu para os companheiros saírem da frente e deu uma voadora na bandeirinha de escanteio com o símbolo do Corinthians.

Sim, eu sei que vários jogadores têm comemorado assim mundo afora. Mas o de Luciano ontem é escancaradamente um caso de bicuda na bandeira rival. E aí depois ficou lá bem pertinho da torcida, em posição desafiadora. O que, diga-se, não dá a ninguém, repito, ninguém, o direito de arremessar qualquer coisa no cara.

Eu não vejo diferença alguma entre quem atira um pilha, um isqueiro, um chinelo, um rádio, um copo de bebida cheio em um jogador de futebol e o cidadão que atira uma garrafa do outro lado do portão em uma briga de torcida. Ambos querem atormentar, mas não matar. Ambos correm o risco de machucar e de matar. Não é aceitável. Nem que o jogador em campo faça a maior provocação de todos os tempos. Eu não irei normalizar a barbárie, sinto muito por quem normaliza dizendo que "isso é futebol".

Isso sim que é chato. O chato não é não poder comemorar provocando os rivais, como reclamou Luciano ontem. O chato é ver tanta agressividade normalizada no ambiente do futebol.

Contextos são contextos. Há comemorações e comemorações. Há lugares e lugares. O Corinthians foi para uma "guerra" no Peru semana passada e o treinador Luxemburgo criticou publicamente o menino Ryan por ter mostrado a camisa de forma provocativa à torcida do Universitario após fazer o gol. Não era o momento. Em outras situações, o gesto poderia não significar nada. Mas, em um ambiente de barril de pólvora, não dá para ficar brincando com fósforo. Depois de tantas cenas lamentáveis e de uma morte nas últimas semanas, não cabe passar o pano a Luciano. O cara tem, sim, que ter mais noção de onde está e do que os gestos dele podem causar.

Luciano está errado. E quem joga algo nele, também. E qualquer jogador adversário que vá tirar satisfações também está errado - no caso de ontem, só vi Ádson fazê-lo, enquanto a maioria dos jogadores corintianos pedia para a própria torcida não atirar objetos.

No fim de tudo isso, teve um cartão amarelo. Que foi, obviamente, para Luciano. Era impossível para o juiz não mostrar o cartão. Agora pare e pense no seguinte: Luciano estava pendurado. E sabia disso. O cara tem o que na cabeça?

Na boa, não me venham com "o jogador fez um gol e foi extravasar". Raras são as comemorações em que o jogador não tenha pensado ou imaginado antes. Atacantes sonham com o momento do gol o tempo inteiro - de dia, de tarde, de noite. Luciano correu para um lado e, ao cair, lembrou-se do que já tinha planejado. E o que tinha planejado era correr e dar uma voadora na bandeirinha. O cara sabia exatamente o que queria fazer, o que poderia causar e que as chances de levar um amarelo eram enormes.

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Se isso não é burrice, é preciso mudar a definição da palavra. Sei que parece ofensivo e, se Luciano ler este texto, não gostará nem um pouco. Mas paciência.

O cara está fora da segunda partida semifinal, um jogo que todo jogador quer jogar. Um atacante importantíssimo para o time e que, como agravante, sabia que o outro atacante, Calleri, já havia saído de campo machucado. Além de burrice, o que Luciano fez foi uma irresponsabilidade com o próprio time.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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