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Opinião

Papelões de Flamengo e Galo mostram que não dá para subestimar técnicos

Não é que nunca tenhamos dado importância a treinadores de futebol. Mas o fato é que hoje eles são mais importantes do que nunca. O Flamengo é um exemplo de clube que se notabilizou na história por ganhar um ou outro campeonato com interinos. Esse tempo de romantismo já ficou (muito) para trás.

Um clube pode até trocar de técnico, não é disso que se trata. Quando algum deles encaixa, é necessário ajoelhar, levantar as mãos para o céu e aproveitar. Não dá para ganhar sem técnico ou sem levar em conta o peso que essa figura tem hoje. Eles não são apenas treinadores, escaladores. São caras que comandam comissões grandes e que precisam levar em conta uma enormidade de dados e informações antes de tomar qualquer pequena decisão.

Você pode ter um técnico espetacular, mas que não encaixe com o elenco. Dorival Jr havia caído com uma luva no Flamengo, Coudet era um cara condizente com o jogo que o elenco do Galo era capaz de proporcionar. Desprezar isso é brincar com a sorte.

A diretoria do Atlético Mineiro, formada por gente que está endividando o clube para comprá-lo a preço de banana, acertou ao contratar Coudet. E errou ao abandonar o trabalho do argentino e meio que gerar uma situação de desconforto internamente. Errou mais ainda ao buscar um aposentado Felipão no Athletico. Nem tanto por causa da figura de Scolari e mais porque não há encaixe sobre como ele vê futebol e o que poderia dar o time do Galo. Foi menosprezar o que se encaminhava a dar certo em troca pelo duvidoso.

O Atlético Mineiro não tem chance de ganhar mais nada, e Coudet está nas quartas de final da Libertadores com o Internacional. Ele não é santo e foi, sim, o maior responsável pelo desastre do Galo na Copa do Brasil. Mas o fato é que ele estava fazendo e poderia fazer mais com este elenco do Atlético do que Felipão.

O Flamengo, por outro lado, brincou ao descartar Dorival Júnior ano passado, ainda mais depois de tantos e tantos e tantos erros (ou tentativas e erros) de 2020 para frente. Tem dirigentes que se consideram mais realistas que o rei, grandes entendedores de futebol. Na real, é gente realmente fraca e que só faz uma ou outra boa movimentação porque sobra dinheiro. O elenco do Flamengo assusta, é muito superior a todos os outros, mas isso não basta.

O troca-troca de treinadores e o desmando esportivo formam o grande fator para o Flamengo não ter conquistado praticamente todos os títulos desde 2019 - porque jogadores para isso, tinha e tem. Neste ano de 2023, não só não ganhou nada ainda como já se foram quase todas as chances de levantar um troféu, exceto na Copa do Brasil - que é muita coisa para quase todos e é pouca coisa para o Flamengo. Curiosamente, o próprio Dorival pode decretar, em uma eventual final de Copa do Brasil, um ano vazio para o Flamengo.

Um monte de taças e de tempo foram jogados no lixo porque Marcos Braz não quis Dorival. Não jogo toda a culpa em Jorge Sampaoli, apenas acho que é mais um caso de treinador incapaz de domar o elenco mimado e multicampeão. Dorival foi o único a fazê-lo desde Jorge Jesus e isso é muito mais importante do que qualquer brilhantismo tático.

Um treinador pode ser virtuoso ou fraco em vários aspectos do futebol. No caso do Flamengo, ter o elenco na mão é mais importante do que qualquer outro aspecto. Eu confesso que muitas vezes me flagro achando que superestimamos a importância dos treinadores, mas temporadas como esta mostram que a visão não é correta.

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Não se trata de falar que Dorival é muito melhor que Sampaoli ou Coudet muito melhor que Scolari. Um pode ser melhor que o outro em algum aspecto, pior em outro. A questão é encontrar o encaixe e valorizar isso, como o Palmeiras deu a sorte de encontrar com Abel - e o Flamengo tinha dado a sorte com Dorival.

Flamengo e Galo brincaram com a sorte e com o próprio destino. O futebol de hoje em dia não dá margem para brincadeiras.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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