Julio Gomes

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Neymar é o maior desperdício que o futebol já viu

A carreira de Neymar é um grande sucesso! Em relação à grana que movimentou, sem dúvida. Para quem gerencia a carreira, no caso, o pai, também deu para ganhar uns trocados. Mas e no aspecto esportivo?

A transferência para a Arábia Saudita, se consumada, é apenas o enésimo passo em falso da carreira de Neymar. Acho que não teve nenhum certo até hoje, pelo menos na ótica de quem gostaria de ver Neymar sendo o que ele poderia ter sido.

A Liga Saudita veio para ficar, está realmente impactando (e desfalcando) o futebol europeu e vai ganhar corpo. Mas é preciso tratar da realidade. Por que Neymar vai parar na Liga Saudita? Essencialmente, porque ninguém o quer. Ou até haja quem queira, pois o cara é um craque, mas o preço a ser pago não vale o trabalho. É uma questão de custo-benefício. Neymar é um produto que custa mais caro do que vale.

E é por isso que a Premier League já desencanou de Neymar faz tempo. Ele ficar a carreira inteira sem jogar no principal campeonato longo de futebol mundo, fala bastante sobre a atuação do pai e também das ideias dele do que é ser jogador.

A transferência para o Al Hilal, no fim das contas, não surpreende ninguém. Porque já estamos acostumados a ver a carreira do melhor jogador de futebol que o Brasil produziu neste século ser pautada pelo dinheiro. Demorou para sair do Santos - poderia ter aprendido um pouquinho sobre atitude profissional na Europa mais cedo - e saiu do jeito que saiu, passando a perna no investidor.

Depois errou ao deixar o Barcelona e, no PSG, foi uma lambança atrás da outra. Força para sair, força para ficar e nada de resultado esportivo. Foi lá ser o "dono do time" e ficou em segundo lugar logo no primeiro ano. O Neymar de 2014/2015 no Barcelona foi o único que valeu a pena. Entendendo seu lugar, o contexto, jogando bola e dando retorno. Lá se vão quase dez anos.

No meio de tudo isso, teve a seleção brasileira, que só ganhou um torneio com Neymar - o único que ele disputou antes de ir para a Europa, aquela Copa das Confederações longínqua. Copas do Mundo? Três. Copas Américas? Três. Só desastre nas seis competições. Teve a Copa América que o Brasil ganhou, em 2019, mas naquela adivinhem só quem não estava? Porque a coisa mais óbvia dos últimos 15 anos é que os times de Neymar se atrapalham por terem de orbitar em volta de Neymar. Quando ele não está, forma-se um grupo mais genuíno.

Nenhum jogador de seleção vai falar publicamente o que já ouvi de alguns em conversas informais. O fato é que a turma tem medo de falar mal de Neymar.

Repito, ele é um craque. Gênio. Mas um gênio individualista e com agenda própria. Que pode até ter uma genuína vontade de adotar uma atitude positiva em relação a técnicos e colegas de time. Só que na hora que a bola rola aquela boa vontade vira algo diferente, que não funciona. E o mercado da bola já identificou isso em Neymar faz bastante tempo.

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Qualquer time do mundo gostaria de tê-lo, mas pelo preço certo. E a espiral de contratos e salários fez com que Neymar se transformasse em um cara inviável para a Europa - as exceções são clubes que simplesmente não o querem mais (Real Madrid, Bayern, City e United). Só quem parecia estar disposto a fazer algum tipo de esforço é o Barcelona - que anda vendendo o almoço para pagar o jantar.

Na Arábia, ele vai cair em um time já bem montado, com boa base, que também contratou uns caras de peso (é meu favorito ao título do "Sauditão") e que tem um técnico que sabe lidar com brasileiros - Jorge Jesus. Se bem que Jesus terá de lidar com "Deus", acho que isso ele nunca fez até hoje. Enfim. Certamente Neymar jogará bem, será uma enorme estrela no país, gerará números dentro e fora de campo. Mas o que isso vai significar para a carreira dele?

O Neymar produto teve uma carreira que ofuscou completamente o Neymar jogador. Ele é o maior desperdício que já vi no nosso esporte predileto.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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