Dinizismo não é sobre o jogo, é sobre jogadores
Se o termo "Dinizismo" fosse para o dicionário, possivelmente apareceria uma definição ligada ao futebol. Do tipo: "Substantivo masculino que define uma forma de jogar bola que prioriza a posse e é marcada por saídas de jogo desde o campo defensivo, com passes perigosos e arrojados". E ela estaria equivocada.
O Dinizismo não é sobre o jogo, é sobre jogadores. Não é sobre sistema, é sobre relacionamentos. Não é sobre saidinha de bola, é sobre conexões.
Fernando Diniz não inventou o futebol e nem mesmo o bom relacionamento entre técnicos e jogadores. O que ele desenvolveu foi um método próprio, que não pode ser copiado porque é essencialmente único. É dele. O Dinizismo consiste em criar uma teia de relacionamentos baseada na empatia e no desenvolvimento individual.
Ele aproveita a bagagem de ter sido jogador e ter estudado psicologia e busca entender ao máximo o que sente, quer e precisa cada um dos seus atletas. A partir daí, são tomadas as decisões táticas, técnicas, etc. Este é um passo posterior, está muito longe de ser o primeiro, como muitos pensam. Sim, ele tem uma filosofia de jogo. Mas, antes, tem uma filosofia de vida.
Classificação e jogos
Diniz não precisa gastar muito tempo convencendo jogadores a gostarem do que ele entende que seja o melhor futebol possível. Porque isso já está dentro de cada jogador desde que ele era uma criança com sonhos. Os caras cresceram querendo a bola, querendo jogar. Não são o posicionamento tático e correr atrás dos outros que fazem moleques buscarem a carreira de jogador de futebol. Diniz desperta nos atletas o sentimento mais primitivo deles, um sentimento que muitas vezes vai sendo esquecido e fica perdido ao longo dos anos.
É por isso que é relativamente fácil convencê-los a jogar como ele sente e entende o futebol. Porque este modelo de jogo, ofensivo e divertido, está na essência do próprio futebol brasileiro. Este jeito de ver o jogo é o que nos fez sermos amados, respeitados, reverenciados e copiados mundo afora. Pode ser que os times do Diniz deixem torcedores com o coração na boca. Mas eles deixam os jogadores com água na boca.
Esta nem mesmo é uma ruptura com a "era Tite". Está mais para uma evolução espiritual, digamos.
O que se viu nesta semana, em Belém, foi um ambiente de alegria. Também de curiosidade e satisfação. Os jogadores que deram entrevistas — Danilo, Perri, Casemiro, Veiga e Neymar — foram questionados milhões de vezes sobre "o que de tão diferente faz o Diniz". E tiveram problemas para responder. Talvez porque não sejam métodos de treino tão malucos ou diferentes. Há sim, claro, um ou outro exercício que foge do padrão. Mas o que é diferente mesmo é a co-participação. Os jogadores não estão habituados a participarem, de forma quase colegiada, de tantas decisões.
O ambiente está leve e descontraído, quase com uma felicidade infantil no ar. E isso mostra que o Dinizismo já "pegou" na seleção. É claro que este processo é longo e fica dificultado pelas rupturas que o calendário produz. A seleção só se reúne de quando em quando. Há agentes externos que influenciarão toda essa teia de relacionamentos: adversários, clubes, empresários, familiares, etc. Haverá idas e vindas. Mas, por enquanto, três dias foram suficientes para Fernando Diniz conquistar muito do que ele considera o principal.
Os caras estão a fim. Agora, é botar para jogar.
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