Ao sair da fila após 15 anos, São Paulo volta a se colocar como gigante
Eu não costumo bater bumbo para dirigentes de futebol. Geralmente, acertam mais na sorte do que na competência. Tem alguns que pelo menos abraçam a sorte, outros que nem isso.
A atual diretoria do São Paulo merece bem mais elogios do que críticas. Assumiu com o pé esquerdo, em 2020, e atrapalhou a caminhada que poderia ter acabado no título brasileiro mexendo onde não devia. Mas depois, pouco a pouco, foi acertando algumas coisas. Com Crespo, conseguiu ganhar o Paulistão. Com Rogério, insistiu demais. Com Dorival, acertou na mosca. O principal acerto foi abraçar, de vez, o fato de o São Paulo ter se transformado em clube popular.
O São Paulo sempre foi um clube de elite e agiu assim ao longo de décadas. Havia muita gente dentro do clube que não gostava dessa história de povão, que torcia o nariz. A empáfia, que hoje vemos no Flamengo, era marca registrada do São Paulo. Achava-se o "soberano", a última bolacha do pacote, e, quando viu, já tinha sido ultrapassado por um monte de gente.
Um exemplo prático e palpável: 30 anos atrás, o São Paulo montou na Barra Funda um centro de treinamentos de excelência. Do outro lado do muro, estava o Palmeiras. Uma pessoa que trabalhava no Palmeiras décadas atrás e hoje trabalha no São Paulo me falou assim: "Nós ficávamos ali olhando com uma inveja danada". O terreno do CT do Palmeiras é ligeiramente mais alto, então era possível dar uma espiada. Hoje, essa mesma pessoa fala que o CT do São Paulo está igualzinho. Já o do Palmeiras...
Classificação e jogos
O São Paulo era referência em tudo. E, por isso, virou o clube número 1 do Brasil por quase três décadas. Em nosso país, pessoas escolhem times de futebol essencialmente em função dos títulos. Há pouco ou nenhum localismo, há alguma influência familiar e há muito do negócio de torcer por quem ganha. Sendo assim, o São Paulo, que nunca foi de lotar estádio, passou a ser um clube popular e ter uma das maiores torcidas do país - e não só na cidade, mas em todo o Brasil.
Para a ficha cair, de que o São Paulo não era mais o "soberano", foram necessários muitos tombos, como na definição de estádios da Copa, e 15 anos sem títulos importantes.
A Sul-Americana de 2012 foi um título quase constrangedor - o que também fala um pouco da empáfia tricolor naqueles tempos. E o Paulista de 2021 teve importância, mas os estaduais, infelizmente, viraram campeonatos menores no nosso cenário. Era preciso ganhar algo grande de verdade, coisa que o São Paulo não fazia desde o tri brasileiro.
O São Paulo não tem mais o melhor CT, não tem mais a melhor estrutura, os melhores profissionais do aspecto físico, não tem mais o estádio único para jogos grandes e shows na maior cidade do país. Mas tem algo que vale mais que isso: uma torcida grande, gigante, e que ficou muito mais próxima do clube exatamente no sofrimento. A atual diretoria, enfim, abraçou o povão e conseguiu encontrar um certo equilíbrio nos preços de ingressos para fazer o Morumbi estar sempre lotado.
Agora, o São Paulo tem uma situação muito boa para poder voltar a ser gigante, protagonista, e poder disputar as grandes coisas com Flamengo e Palmeiras. O São Paulo acaba de botar 100 milhões de reais para dentro, tem torcida enorme, tem estádio grande e lotado, tem um ótimo técnico, tem bons jogadores, tem uma base que voltou a formar, tem uma estrutura básica que pode ser melhorada, mas que está lá, e ganha também muito dinheiro de TV - dentro da realidade triste e elitista que forma o novo futebol brasileiro.
Não parecia, por causa das derrotas e dos insucessos. Mas o São Paulo é, sim, um dos poucos privilegiados do novo futebol brasileiro. E dá toda a impressão de ter voltado para ficar.
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