Firmino revela em livro pacto para vencer o Flamengo e decepção com Tite
A autobiografia de Roberto Firmino, ex-Liverpool, hoje no Al Ahly, da Arábia Saudita, será lançada nesta quinta-feira, nas livrarias físicas da Inglaterra - já está à venda de forma virtual há algumas semanas para entregas a partir deste dia 9 de novembro. Este colunista do UOL teve acesso ao conteúdo do livro - basicamente porque foi ele próprio quem escreveu o livro. Um projeto que começou no mês de junho e passou por encontros presenciais com Firmino em Maceió e em Jeddah, além de dezenas de conversas virtuais. No primeiro momento, o livro só tem versão em língua inglesa.
Firmino faz muitas revelações em seu livro, duas de interesse direto do público brasileiro. A primeira, sobre o Mundial de Clubes da Fifa, que o Liverpool venceu em 2019 contra o Flamengo - com um gol dele, Firmino, na prorrogação. O jogo, disputado no Qatar, poderia ter acabado de forma diferente, não fosse a percepção de Firmino e Alisson, outro brasileiro do elenco, de que o técnico Jurgen Klopp e os outros jogadores não estavam dando a devida importância para o duelo.
O debate sobre o tamanho que os europeus dão para o Mundial de Clubes é antigo. No fim de 2019, o Liverpool fazia uma campanha irrepreensível na Premier League e estava ferido por haver perdido o título anterior por apenas um ponto para o Manchester City. A prioridade total era conquistar a liga doméstica e acabar com o jejum de três décadas sem o título inglês. No meio da campanha, havia a viagem para o Qatar, que era quase um momento de relaxamento para o elenco.
Firmino e Alisson notaram o que estava acontecendo e chamaram Klopp para uma conversa - Fabinho, outro jogador de seleção, não estava com eles pois, contundido, ficou sem viajar para o Mundial. Os brasileiros alertaram o técnico alemão da força do time de Jorge Jesus, avisaram que haveria que haveria milhares de torcedores rubro-negros na cidade e comentaram que, para eles, era questão de honra ganhar o título. Pediram para Klopp preparar o jogo com a devida importância que ele tinha e notaram que o técnico alemão havia ficado surpreso com o pedido. A partir daí, conta Firmino, Klopp passou a se interessar mais pelo Mundial, a fazer perguntas sobre jogadores do Flamengo e trabalhar o jogo com outro peso.
O Liverpool poupou titulares na semifinal, contra o Monterrey, do México, mas arrancou a vitória no último minuto com um gol de Firmino. Na final, jogou com o time principal contra o Flamengo. O brasileiro, que habitualmente era substituído no segundo tempo dos jogos da Premier, ficou em campo e brilhou na prorrogação. "Ninguém merecia fazer o gol mais do que ele", declarou Klopp, na época. "Depois da final, ficaram todos com um sorrisão no rosto e curtiram ganhar", confidenciou o camisa 9.
Em 2019, Firmino era titular da seleção brasileira de Tite, posição que lhe foi prometida pela comissão técnica após a campanha na Copa da Rússia, um ano antes. Na volta da pandemia, após um hiato grande de jogos, Firmino perdeu a posição para Richarlison e conta que nunca foi chamado para qualquer tipo de conversa sobre o tema. Quatro lesões em quatro momentos diferentes da temporada 21/22 fizeram com que ele fosse apartado das convocações, mas as esperanças de jogar uma segunda Copa do Mundo foram renovadas quando Tite voltou a chamar Firmino para os últimos amistosos antes do Mundial do Qatar.
Ele não entrou em campo um minuto sequer nos amistosos, o que gerou estranheza. Firmino conta na autobiografia que, duas semanas antes da convocação final, Tite foi a Anfield para uma partida do Liverpool contra o Napoli, pela Liga dos Campeões, e organizou um encontro com os três jogadores brasileiros em uma sala de Klopp no estádio. Tite, hoje técnico do Flamengo, se desculpou com Firmino por não tê-lo colocado para jogar nos amistosos e culpou um erro dele e da comissão técnica quanto à distribuição de minutos para os jogadores convocados. Os jogadores saíram da reunião com a impressão de que os três, incluindo Bobby Firmino, estariam na lista para o Mundial - impressão que foi confirmada a este colunista também pelo volante Fabinho.
No entanto, apesar de livre das lesões e em ótima fase na primeira metade da temporada 22/23, o atacante do Liverpool acabou ficando fora da convocação. Ele foi o jogador que mais vezes havia sido chamado e atuado com Tite entre os que ficaram fora da lista. Apesar disso, não recebeu um telefonema sequer (até hoje) do treinador. Recebeu somente uma mensagem de áudio de César Sampaio, um dos auxiliares, dizendo que havia sido uma decisão muito difícil deixá-lo fora da Copa e para ele ficar preparado, pois era o primeiro da lista caso algum outro jogador fosse cortado.
Além destas histórias, Firmino fala sobre a infância em Maceió, a idolatria por Ronaldinho Gaúcho, como precisou "fugir" do CRB para não ser forçado a assinar um contrato que poderia ser ruim para carreira, do teste frustrado no São Paulo, a profissionalização no Figueirense, a transferência e os anos de Hoffenheim, onde explodiu, as primeiras convocações (com Dunga) e, claro, os anos de sucesso em Liverpool. Firmino revela detalhes da explosiva relação entre Salah e Mané, os companheiros que fizeram com ele o melhor trio de ataque da Europa. E também conta tudo sobre a saída do Liverpool, que acabou acontecendo contra a vontade dele e da família.
Muito importante também na história do jogador é o encontro dele com Jesus Cristo e a transformação pela qual passou durante o ano de 2019 até o batismo em 2020, largando as bebidas a vida noturna e o apego exagerado por coisas materias (carrões, etc). Hoje, Firmino e a esposa, Larissa, com quem tem quatro filhas, são evangelistas, administradores e benfeitores da Mannah Church, igreja evangélica com sede em Maceió e uma sub-sede em Manchester, na Inglaterra.
Dois extratos do livro foram publicados por jornais ingleses nesta semana: o "The Guardian", que escolheu um trecho do capítulo em que Firmino fala do trio que formava com Salah e Mané; e o "Daily Mail", que mostra aos leitores um pedaço do capítulo que trata do título inglês em meio à pandemia e a frustrante eliminação para o Atlético de Madrid na Champions, em 2020.
O nome do livro é "Sí Señor - My Liverpool Years" e remete à canção que os torcedores do Liverpool fizeram para Bobby Firmino e que é considerada pelos próprios jogadores do clube a mais bacana de todas.
20 comentários
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Marcello Menta Simonsen Nico
Quem acompanha a Premier League sabe da importância do Firmino e da sua linda trajetória no Liverpool. Não sem surpresa, ele é pouco valorizado no Brasil.
Jose Rogério Simões da Cunha
Roberto Firmino é o típico jogador de clube, mas que na seleção não passou de um reserva e olhe lá, quando foi titular foi realmente muito boa vontade dos treinadores.
Vilmar Castor
Toque refinado e de primeira, joga ou jogaria em qq time do mundo. Além disso não é esnobe. Parabéns! Torço para tradução do livro para português!