Avaliação sobre Fernando Diniz na seleção é superficial e rasa
Fernando Diniz serve para ser campeão da Libertadores, mas não serve para comandar a seleção brasileira. Oi? Que tipo de análise é essa? É simplesmente impossível ser mais raso e superficial.
Até dá para aceitar quem odeie Diniz e a maneira que ele enxerga futebol. Já disse algumas vezes aqui. Diniz desafia o modo como o brasileiro sente o jogo: aquele do "só vencer importa".
Não que ele não queira vencer, muito pelo contrário. Mas há, para o sujeito, coisas mais importantes. Melhorar as pessoas e a vida delas, em um país em que o caos social impera e isso se nota perfeitamente na caminhada que um brasileirinho precisa fazer até se transformar em um profissional da bola. Melhorar o ambiente de trabalho. Melhorar o jogo, o espetáculo, trazer de volta o encantamento, para além do estresse. O brasileiro não curte mais futebol, e já faz tempo. Tudo se resume a ganhar ou perder. Há quem diga que sempre foi assim. E isso é uma enorme, mas enorme mesmo, mentira.
A figura de Diniz, portanto, desafia uma espécie de status quo: no futebol, só importa ganhar. Ele é a prova viva de que o brasileiro só gosta mesmo de vitórias, não de jogos, competir, de participar, de assistir, de admirar. Barão de Coubertin, aqui, é um zé bobão com suas frases antigas sobre espírito olímpico.
É até honesto, como eu disse, não gostar do estilo Diniz de ser. Mas é desonesto elogiar vitórias e destrui-lo nas derrotas. Fazer essa curva toda que muitos fazem para "explicar" por que ele é bom no Fluminense, não na seleção.
Ednaldo Rodrigues é um homem imerso na disputa de poder contra Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero pela CBF. Jogou para a torcida ao garantir Ancelotti e mesmo ao inventar o Diniz interino. E agora joga para a torcida com o "plano Dorival" e a demissão sumária de Diniz, que de qualquer maneira só estaria à frente da seleção nos amistosos de Londres e Madrid, em março. Ednaldo quer se segurar na presidência da CBF criando uma imagem de alguma estabilidade no ambiente da seleção - como se isso fosse suficiente para ajudá-lo na briga política em que está metido, de traições e distribuições de cargos.
A avaliação de Ednaldo sobre Diniz baseia-se na opinião alheia sobre o trabalho de Diniz. E tal opinião baseia-se em jogos ruins - e foram ruins - da seleção nas eliminatórias.
Mas a análise rasa dos resultados não leva em conta um monte de fatores, como os desfalques, peculiaredades das partidas e a própria divisão de atenção com o Fluminense. Não estou aqui dizendo que foi tudo maravilhoso nas três datas Fifa do ano passado. Foi legal no começo, péssimo no meio e eu diria que normal no fim. Dá para passar bons minutos falando de cada jogo, de erros dos atletas, de erros de Diniz e de erros de arbitragens (principalmente no duelo contra a Argentina, no Maracanã). Dá para falar de méritos dos adversários também, por que não?
Para avaliar se Diniz seria - ou não - capaz de comandar a seleção brasileira na Copa do Mundo, era necessário, no mínimo, deixá-lo ter um mês de trabalho na Copa América. E ouvir atletas. Traçar conclusões definitivas após meia dúzia de jogos de eliminatórias é, no meu ponto de vista, algo bastante superficial.
De uma CBF desgovernada, não era de se esperar algo muito diferente. Mas definir a capacidade de Fernando Diniz como se o cara fosse duas pessoas diferentes, uma nas vitórias, outra nas derrotas, é raso demais da conta.
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